Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
Bela Surpresa
Henry Alfred Bugalho é um escritor brasileiro, atualmente radicado em Manchester, Inglaterra. No entanto, Buenos, Nova York, Perugia e Madri já fizeram parte de seu itinerário desde a conclusão do Bacharelado em Filosofia, decisivo para indicar seu caminho como escritor.
Tradutor de Teogonia, de Hesíodo, entre seus livros destaca-se "O Rei dos Judeus" que apresenta uma visão baseada nas mais recentes pesquisas sobre a emblemática figura de Jesus Cristo. Como ficcionista, seus contos vêm chamando a atenção dos apreciadores do gênero e, sem dúvida, "O Personagem" é uma obra indispensável para quem quiser conhecê-lo e, assim como eu, surpreender-se com seu talento.
Dividido em cinco partes: "Fábulas Atemporais", "Fábulas de Tempos Idos", "Fábulas Hodiernas", "Fabulas dos Tempos Vindouros" e "Fábulas Extemporâneas", rigorosamente, suas narrativas não são fábulas o que não redime o brilho de seus contos centrados nas dúvidas essenciais do ser humano: Quem sou eu? De onde vim e para onde vou? Qual o sentido da vida? Todavia, não espere por respostas óbvias, Bugalho afirma no Prefácio: "minhas verdades, como todas as demais verdades, estão no limite da refutação e da obsolescência. Faço ficção porque almejo a liberdade. Este é o único território no qual posso ansiar ter algum controle, mesmo que seja um engodo."
Leitor assíduo e confesso admirador de Borges e Hesse, é possível perceber nas narrativas mais antigas a influência desses autores, contudo, em seus últimos textos já é possível visualizar uma trajetória autônoma, inclusive, mais coloquial e acessível. Outra característica que aprecio são as personagens moverem o enredo, técnica chamada "character-driven", daí, a escolha do título do livro. Aliás, em algumas dessas histórias, essas personagens são um verdadeiro enigma, será que realmente existiram? Um bom exemplo é "O Aniversário de J.S.B." cujo protagonista, o organista Wolfram Benjamin faz lembrar do hipotético escritor Herbert Quain, de "Ficções".
Finalmente, gostaria de mencionar os mini contos que compõem a última parte da seleção. Pouco conhecidos no Brasil, sua aparente facilidade é enganadora e Bugalho revela-se um especialista. Para encerrar, segue um de meus preferidos:
Maya
"Tinha pesadelos de que a vida não passava dum sonho."