Amanda 26/08/2019
Tem um tempo que finalizei a leitura e costumo não demorar muito para postar a resenha, mas esse livro me deixou pensante por mais tempo do que eu previ. Então, depois de muito pensar achei que meu papel não era resenhar esse livro como faço com outros. Meu papel aqui foi ouvir mais e falar menos!
É um livro importantíssimo para o contexto atual, que dá voz a um garota negra da periferia, e me fez pensar mais sobre representatividade na literatura. Talvez o problema seja a minha bolha literária e isso sirva como alerta para mim e para minhas escolhas, porque quando paro para pensar cadê os negros nos meus livros? Às vezes na posição de destaque, às vezes na posição de coadjuvantes, mas às vezes em posição nenhuma. Felizmente as mulheres tem mais espaço, mas não adianta colocar uma mulher como protagonista e ela ser um reflexo da sociedade atual, como uma repetição e validação de comportamentos que precisamos desesperadamente nos livrar. (E vale a observação de personagens que parecem a personificação da alma feminista, mas tem tantos cacoetes machistas que em vez de ajudar, acabam atrapalhando com a falsa impressão de exemplo a ser seguido).
Starr é uma boa protagonista, que evolui durante a leitura, consegue transformar seus medos e indagações em atitude. A gente também acompanha um pouco do seu ambiente escolar, que é num contexto completamente diferente da sua vida. Ver aos poucos ela ter coragem de dizer "chega" para atitudes de colegas de sala e repensar seu namoro com um garoto branco vale a pena, porque a gente acompanha o motivo dela estar agindo assim, a mudança do pensamento.
Tirando a amiga trouxa, ela tem amigos incríveis, que dão a cara à tapa e se mantêm ao seu lado quando importa. A família dela também é incrível, pude sentir a cultura afro americana bem retratada. E todo esse núcleo traz novas tramas, que fazem com que a história sempre esteja em movimento.
"O ódio que você semeia" traz um tema tão comum que poderia acontecer na periferia das cidades brasileiras, crianças que convivem com tiroteios, que assistem amigos morrerem, que crescem aprendendo a ter medo da polícia, que precisam ser ensinados a serem abordados por policiais para não criarem a falsa ideia de que são uma ameça.
Creio que toda crítica é válida, mas li algumas que ao criticarem certos aspectos do livro parecem querer invalidar o peso da história. Eu preferi aprender, durante a leitura foi tapa na cara atrás de tapa na cara, detalhes que nunca prestei atenção, ações que nunca interpretei de certa forma. Espero me tornar uma pessoa melhor, mais atenta e mais ativa, não basta só ouvir e reconhecer o problema, temos que tentar resolvê-lo. Numa sociedade, se há algum grupo sendo preterido, não é só esse grupo que está perdendo é a sociedade inteira.