Esdras 09/09/2017"O que passou despercebido que deveriam ter notado? Que pequeno gesto, esquecido, poderia ter mudado tudo?"A dedicada, popular e exemplar - era o que eles sempre achavam, pelo menos - filha dos Lee desaparece numa certa manhã de Maio em 1977.
Não vão tardar a encontrar o corpo, no entanto.
Tudo aponta para um suicídio. A família não crê na hipótese e todos se perguntam o porquê.
Apesar de a sinopse ser clara quanto à morte de Lydia, receber isso logo de cara, na primeira frase do livro, já me desanimou um pouco. Nem sempre me dou bem com a desordem dos fatos.
Claro que a autora vai voltar no tempo e esclarecer tudo, mas...
Bom, a parte “policial” do livro (era o meu foco) eu achei bem fraquinha.
O que é entregue aqui pro leitor é, quase todo, um drama familiar.
E, olhando por esse lado, até que foi um livro bom.
Conforme as investigações vão se desenrolando e a coleta de informações mostra uma Lydia que entra totalmente em contraste com a já conhecida em casa, Marilyn, James, Hannah e Nath passam a buscar na memória e refletir sobre a convivência com a garota pra ver se, quem sabe, algo se torna mais claro e explique tudo aquilo.
E o que a autora mostra pra gente é uma moça que sofre uma pressão enorme por ser moldada de todas as maneiras para ser perfeita e promissora (por parte da mãe), ou, pelo menos, uma garota que tem que estar sempre acompanhando a “moda” das outras garotas(por parte do pai).
Adentrando um pouco mais, descobrimos que Lydia tem um péssimo convívio social e até sofre bullying, principalmente por conta de sua descendência e etnia.
Toda essa pressão por parte dos pais é explicada através do passado deles. E, direta e/ou indiretamente, o que eles querem, na verdade, é fazer com que o caminho que a Lydia trilhe seja o mais distante possível daquele que remetem a seus traumas e conflitos do passado, alguns tampouco superados ainda.
"Toda vez que olhar para isto, ela ouviu o pai dizer, lembre-se do que importa de verdade. Ser sociável. Ser popular. Integrar-se. Você não está com vontade de sorrir? E daí? Obrigue-se a sorrir."
O “X” da questão é o que a Lydia quer(ia) realmente.
O quanto tudo aquilo pesava na sua cabeça e o quanto ela se sentia sufocada por sempre ter que dizer “sim” para agradar os pais. E o quanto isso a distanciava mais e mais do que ela sentia que realmente era. O quanto ela se sentia desamparada a respeito de conversar com alguém sobre isso e sobre as demais coisas que a destruíam pouco a pouco.
Não lembro, no momento, de ter lido algum livro voltado para esse tema.
Achei bem interessante.
O que veio a me incomodar aqui foi o ritmo da narrativa.
O leitor já sabe de quase tudo bem antes da metade do livro, então não há razão pra alongar tanto as coisas. Ou ficar dando voltas e voltas com a mesma informação em mãos. Ou mesmo se estender demais nas histórias secundárias, por mais que também possam ser interessantes.
Não vou dizer que fiquei muito satisfeito com o final.
O desfecho para a cena tão esperada não teve um grande ápice, para mim.
Diante de toda a exaustão, ela precisava mesmo ouvir da boca de outro alguém tudo aquilo que ela já sabia??? Era essa a gota d’água necessária?
(Se era pra chocar de verdade, a autora deveria ter descrito mais detalhadamente AQUELA cena).
Porém, contudo, todavia... eu indico esse livro sim!
Tem uma ótima reflexão.
Você, quem sabe, não venha a ter os mesmos incômodos que eu.