PorEssasPáginas 21/05/2017
Resenha: Esqueça o Amanhã - Por Essas Páginas
Sabe quando você descobre um livro e fica tão curiosa que precisa comprar e ler logo? Bem, isso não é algo que aconteça comigo com frequência, geralmente sou bastante controlada e sempre penso “mas já tenho tantos livros para ler”, mas aconteceu com Esqueça o Amanhã, lançamento recente da Galera Record. Quase comprei em e-book, mas aí apareceu aquela promoção do Dia da Mulher na Saraiva (lembram? Tudo por metade do preço!) e falei, ah, é agora! Comprei. Aí peguei para ler esses dias e…
Foi uma total e completa decepção. Cheguei a me arrepender de ter comprado o livro físico, era melhor ter comprado apenas o e-book mesmo. E foi daquelas decepções tão grandes e um livro que me irritou tanto, que precisei vir quase imediatamente aqui e resenhar. Bem, vamos lá.
Esqueça o Amanhã tem uma ótima premissa, que me chamou a atenção de cara e me deixou muito curiosa: uma sociedade baseada no futuro. Ao completar 17 anos, os jovens são considerados adultos e recebem de seu “eu futuro” uma memória, mostrando como será sua vida dali a alguns anos. E é isso que define sua vida a partir dali; por exemplo, se você se vê como um campeão de natação, começará a treinar loucamente para atingir esse objetivo. Mas, e quando a memória é ruim? Como a de Callie, a protagonista, que se vê matando a própria irmã?
Por causa disso, Callie é presa, apesar de – ainda – não ter cometido crime algum. E, claro, ela não compreende como poderá matar sua irmãzinha, que tanto ama. E é aí que a nossa aventura começa.
É um YA, então, é claro que eu esperava algumas coisas comuns ao gênero. Esperava um romance, óbvio, e esperava que a protagonista cometesse erros clássicos de sua idade e falta de maturidade. Sim, eu esperava tudo isso e estava pronta para ler essas coisas, aliás, gosto muito de YAs e não me importo nem um pouco com tudo isso. O fato é que eu também, por causa dessa premissa, esperava um livro cheio de aventura, suspense e tensão. Temos tudo isso? Bem pouco. O que temos mais? Um romance adolescente mal desenvolvido.
Eu não estaria exagerando se dissesse que 70% do livro é Callie dizendo o quanto está apaixonada por Logan, seu amigo de infância, que agora é “o único que pode ajudá-la”. Ela passa o tempo todo falando o quanto ele é lindo (é o o tempo todo MESMO), o quanto ele é especial, o quanto ele é forte e gentil e, claro, o quanto ela não o merece, o quanto ela não entende como ele a ama, o quanto ela deveria não permitir que fiquem juntos, oh, não, não, não podemos ficar juntos, vou afastá-lo, mas quero beijá-lo, etc. etc. etc… (E quando eles se beijam, ela diz coisas como “ele me beija e eu morro”; ah, vá!).
Cadê a ação, gente? Cadê a distopia, o mistério, o suspense, cadê as coisas acontecendo?
Se ainda fosse uma boa história de amor, mas não é. É só um romance insosso mesmo.
Para não ser injusta, até que acontecem algumas coisas aqui e ali, mas tudo é ofuscado na escrita da autora pelo romance. E quando você acha que não pode piorar, pode sim, porque Callie é uma protagonista fraca e apática, que espera que os outros resolvam as coisas por ela, e quando digo “os outros”, digo especialmente Logan. Sem ele, ela não é nada, ela não consegue agir, não consegue sequer pensar. Na verdade, ele pensa por ela na maioria das vezes e isso é horrível e enervante; se é para ler sobre uma personagem dessas, é melhor que ela nem seja a protagonista para começo de conversa, certo? Diz logo que o livro é sobre o Logan, como ele é um cara fantástico e pronto, poupem nosso trabalho. Ninguém merece ler sobre uma garota que precisa de um cara o tempo todo, gente. É uma ofensa. Simplesmente não desce.
E como se não bastasse, o livro é repleto de incoerências, é como se a autora não tivesse domínio sobre a própria obra e não soubesse responder às próprias perguntas que criou. Não apenas um, nem dois, mas quase todos os personagens não fazem sentido dentro da trama e estão lá apenas para pequenos propósitos, sem uma história própria, sem construção, sem nada. E as conexões entre os personagens são tenebrosas, muito mal desenvolvidas, você não consegue gostar deles, não consegue acreditar em seus sentimentos, nada é crível.
O final é uma sucessão de acontecimentos onde tudo que pode dar errado dá certo, como se houvesse uma mão mágica fazendo tudo acontecer, até as coisas mais absurdas. E quando o livro termina dá, ao mesmo tempo, alívio porque ele finalmente acabou e você está livre, e raiva, porque o final é bem medíocre e com um gancho capenga para a continuação. Não dá vontade de ler mais nada, só de pegar o livro e atirar na parede mesmo.
Quanto à edição, gostei muito da capa – um dos motivos que me fez comprá-lo, afinal – e o tamanho do livro é muito confortável para a leitura. A diagramação é boa também e não há quase nenhum problema de revisão, porém, como sempre nas impressões da Record, a fonte é ruim e borrada, o que atrapalha um pouco a leitura. Quando a história é boa, a gente até ignora esse fato, mas não desta vez.
Resumindo: um livro dispensável, com uma escrita amadora e muito mal editado em seu país de origem. Uma ideia interessantíssima, mas muito mal aproveitada, uma trama criativa que poderia ter sido brilhante, não fosse a imaturidade da autora. Vontade zero de ler as continuações – é uma trilogia, e ainda contém um spin-off. Se lerem, é por sua própria conta e risco.
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