Beatriz 14/08/2016
1. Introdução
O trabalho apresentará o livro “Euríco, o prebítero” do autor Alexandre Herculano, a história se passa na Península Ibérica, no século VIII, o título remete ao protagonista Euríco, que por não poder casar com o amor da sua vida se ordena padre e assumi um presbitério da Carteia no sul da Espanha, razão pela qual vem a ser presbítero.
Eurico, o Presbítero é um romance histórico, um ícone da literatura romântica de Alexandre Herculano, publicado em 1844. A história trata do fim do reino visigodo formado na região que atualmente compreende Espanha e Portugal, diante da invasão dos muçulmanos, que avançaram pela maior parte da Península Ibérica no século VIII.
Em Eurico, o Presbítero, temos a história de um sacerdote ao mesmo tempo cavaleiro, desventurado em matéria de amor. Dessa desventura lhe veio à entrega à vida eclesiástica. No entanto, a lembrança da amada ainda o corrói, de modo que passa seus dias numa disposição de ânimo sombria. Os primeiros capítulos tratam justamente de apresentar breve história de Eurico e dos godos, nação cristã, à qual pertence. E em seguida trata da invasão árabe nos territórios da Espanha e as batalhas entre estes e os godos, onde Eurico surge como o Cavaleiro Negro, que se torna lendário entre godos e árabes.
O autor prefere não classificar sua obra como um romance-histórico (apesar de ser). Ele diz: "[...] sendo hoje dificultoso separar, em relação àquelas épocas, o histórico do fabuloso, aproveitei de um e de outro o que me pareceu mais apropriado ao meu fim." Herculano se aproveita de elementos históricos e adiciona nela seu romance ultraromântico, muito ao estilo da época, rico de informações interessantes da cultura dos godos.
Em resumo o livro trata-se de um romance de cavalaria romântico, Eurico, o presbítero apresenta a idealização da mulher, a figura do herói, o espírito nacionalista, o idealismo platônico, a presença da natureza e várias desilusões amorosas.
2. Desenvolvimento
2.1. Resumo
A obra “Eurico, o Presbítero” é datada de 1844 e trata-se um romance histórico, que relata a história de amor frustrada de Eurico e Hemengarda. Como um romance histórico que se passa no início do século VIII na Espanha Visigótica ele aborda os tempos medievais.
Após o Duque de Fávila, rejeitar o pedido de Eurico para desposar sua filha Hemengarda, por ele ser de origem humilde, e por serem de religiões diferentes, Eurico era católico, mas a moça era goda ariana, que era uma seita cristã que acreditava apenas em Deus, não da Santíssima Trindade, e essa união era proibida pelas leis godas. Hemengarda prefere a obediência ao pai a ter de enfrentar tudo por amor.
Eurico entrega-se à desilusão de nunca poder ter sua amada e acaba seguindo os caminhos religiosos e se ordena padre, a fim de esquecer o sentimento que nutria por Hemengarda, razão pela qual vem a ser o tal presbítero, ao assumir o presbitério da Carteia no sul da Espanha. No entanto, ele descobre que os árabes estão invadindo a Península Ibérica, avisa seu amigo Teodomiro, governador do condado de Córdoba, e se torna o Cavaleiro Negro.
De maneira heróica e assaz ele luta em defesa de sua Pátria e da sua Religião e de forma corajosa e inteligente ganha à admiração dos povos visigodos, o Cavaleiro Negro além de conhecido se torna uma inspiração para os outros cavaleiros. Quando os godos levavam vantagem e a vitória estava parcialmente garantida, Sisebuto e Ebas (filhos do imperador Vitiza) traem seu povo e ficam do lado dos árabes. Neste ínterim Roderico (rei dos visigodos) morre em combate e o povo passa a ser liderado por Teodomiro que para não ver perecer todo o povo, faz contrato de paz com os árabes.
Enquanto isso, no Mosteiro da Virgem Dolorosa, no qual Hemengarda estava escondida, é invadido pelos traidores godos e árabes, que foram para lá pegar as virgens. No entanto, as freiras decidem se desfigurar ao invés de terem seus corpos profanados, todavia no momento em que Hemengarda ia ser desfigurada, os árabes a raptaram. A notícia de que Hermengarda foi capturada chega aos ouvidos de Pelágio, seu irmão, que decide corajosamente resgatá-la, entretanto o Cavaleiro Negro pede para coordenar a empreitada e salvar a irmã de Pelágio. Pelágio concede. O Cavaleiro Negro salva Hemengarda no momento em que o “amir” está preste a possuí-la. Hemengarda é levada para seu irmão Pelágio. A salvo na gruta, Hemengarda encontra Eurico após ele ter lhe confessado ser o Cavaleiro Negro, declara seu imenso amor por ele. Não obstante, Eurico fala para a amada que eles não podem ter nada, pois o compromisso religioso que ele assumiu o proíbe.
2.2. Foco narrativo
Predomina o foco narrativo em terceira pessoa, com focalização total, pois, os acontecimentos não são vistos a partir do ponto de vista de uma personagem ou a partir do exterior, mas de forma onisciente. O narrador está em todos os lugares, conhece os pensamentos da personagem e o seu contexto histórico. O fato de saber mais que a personagem possibilita a antecipação da narrativa.
Mas, se os que o acatavam como um predestinado soubessem quão negra era a predestinação do poeta, porventura que essa espécie de culto de que o cercavam se converteria em compaixão ou antes em terror. (p.28)
Mal sabia o desgraçado que nesse adeus a sua consciência mentia a si própria! (p 51)
Um amor de mulher mal correspondido a tinha aberto: o amor à pátria, despertado pelos acontecimentos que rapidamente sucediam uns aos outros na Espanha despedaçada pelos bandos civis. (p. 29)
Apresenta ainda marca de narração em primeira pessoa, nos capítulos em que a personagem protagonista, Eurico, faz reflexões sobre sua vida, registra suas percepções e sentimentos ou recorda-se do passado. O narrador sabe mais que a personagem, mas fala apenas o que a personagem conhece.
Terra em que nasci, se o teu dia de morrer é chegado, eu morrerei contigo. (p. 49)
Nessa noite fria e úmida, arrastado por agonia íntima, vagava eu a às horas mortas pelos alcantis escalvados das ribas do mar, e enxergava ao longe o vulto negro das águas balouçando-se no abismo que o senhor lhes deu para perpetua morada. (p.34)
Eu amo o sopro do vento, como o rugido do mar. (p.34)
E eu pude, enfim, chorar. (p. 35)
2.3. Autor
Autor Herculano foi um renomeado escritor português, nasceu em Lisboa em 1810, e faleceu em 1877, além de escritor era jornalista, poeta e historiador. Suas obras abrangem teatro, poesia, romances entre outras. Teve participação intensa nas lutas políticas da sua época, o que o levou a ser exilado na Inglaterra e na França.
Quando voltou a Portugal, em 1832, participou da guerra civil, incorporando-se ao exército de D. Pedro. Tornou-se, no entanto, um liberal conservador (cartista) e lutou sempre contra os democratas (setembristas). A partir de seu tardio casamento em 1866, retirou-se ao silêncio de sua quinta em Val-de- Lobos.
Foi mais importante como prosador que como poeta. Sua obra de ficção reflete sua vocação de historiador medievalista, que ocupou grande parte de sua vida: os três romances e o livro de contos que escreveu ambientam-se todos na Idade Média:
• Eurico, o Presbítero;
• O monge de Cister; ou a época de D. João I;
• O bobo;
• Lendas e Narrativas.
2.4. Obra
É um romance de 19 capítulos e a narrativa é feita em terceira pessoa, narrador onisciente, mas há passagens que são narradas em primeira pessoa na qual o protagonista e personagem redondo (por suas transformações ao longo da narrativa) Eurico, o presbítero, reflete sobre sua história que ocorreu em meados do século VIII na Espanha Visigótica, num ambiente medieval. O tempo da narrativa é cronológico e passa em tempo linear, sendo os acontecimentos marcados por datas.
2.5 Personagens:
a) Protagonistas: Eurico e Hermengarda.
Eurico é uma personagem plana, pois não sofre uma transformação drástica no decorrer da narrativa. Quando se evade no sacerdócio seu caráter e sentimentos não mudam, ou seja, continua a ser o eterno apaixonado por Hermengarda.
Predomina em Eurico o sentimento de melancolia, característico do romantismo, pois é conseqüência da frustração e da impossibilidade de realização do amor. A personagem não muda fisicamente apenas se esconde atrás da estringe e da armadura.
Hermengarda é uma personagem plana, pois também não sofre transformações no decorrer da narrativa e nem surpreende o leitor. Sua atitude em relação ao chefe mouro, quando este tenta desposá-la, é apenas uma reação em defesa da sua honra.
Esta personagem é a própria personificação da mulher do Romantismo, idealizada, pura, casta, ingênua, pálida e recatada. Totalmente submissa, a donzela frágil e indefesa não tem forças para lutar contra seu pai pelo seu amor.
O narrador vê na personagem o motivo que leva Eurico a se consagrar como herói ao salvá-la dos bárbaros e ultrapassar a ponte romana.
b) Antagonista:
Fávila, duque de Cantábria, pai de Hermengarda e Pelágio, é um homem ambicioso, orgulhoso e dominador que não permite a realização do amor dos protagonistas.
c) Personagens secundárias:
Pelágio é filho de Fávila, irmão de Hermengarda e amigo de Eurico. Liderou a resistência goda com persistência quando muitos já estavam desanimados e conquistou admiradores e seguidores fiéis. O apelo nacionalista é presente nas atitudes heróicas e corajosas desse grande líder godo.
Teodomiro: duque de Córduba e amigo de Eurico, continua em combate enquanto os godos fogem.
Roderico: Rei dos godos que morre na luta contra os árabes.
Juliano: Conde de Septum e traidor do povo godo.
Opas: Bispo de Híspalis e traidor do povo godo.
Tárique e Obdulaziz: Líderes árabes
Antanagildo: Guerreiro godo.
Muguite: Amir da cavalaria árabe, guerreiro que matou Eurico.
Cremilda: Abadessa do mosteiro, sacrifica as virgens, pois prefere o martírio a ser violentada pelos árabes.
2.6. Tema social.
Predomina, no ambiente social, o conflito civil e religioso entre os cristãos godos e muçulmanos árabes. Estes caracterizados por valores negativos como a traição, invasão, infidelidade, orgias, violência, contrapõem-se com aqueles, adornados de valores nobres como o patriotismo ao extremo, a busca da liberdade, o heroísmo, a honra, o cavalheirismo.
Perto do fim da obra os árabes vão invadir um mosteiro e as freiras para evitar serem usadas de escravas sexuais se suicidam, se entregam ao sacrifício. Esse fato do livro realmente aconteceu, foram as monjas de Nossa Senhora do Vale, junto de Ecija, e essa fato foi imitado em muitas outras partes. O ato foi considerado heroico, mas no mundo de hoje mulheres ainda sofrem muitos abusos sexuais, e não há algo concreto que possa evitar que isso aconteça, porém as mulheres já não são mais os “sexos frágeis” de antigamente, as mulheres buscam seus direitos e todos os dias lutam contra a imposição machista.
3. Conclusão
Conclui-se que o livro é muito além do que um romance histórico, mostra além da história momentos que levam a várias reflexões, a leitura tem que ser feita com muita calma, voltando em vários parágrafos, para realmente entender os sentimentos dos personagens, pois é muito mais complexa do que parece, como no caso onde o mosteiro das freiras iria ser atacado pelos árabes, e elas para não serem usadas como objeto sexual se suicidam, ou quando
Hemengarda não luta pelo seu verdadeiro amor para não desobedecer o pai se mostrando como uma mulher frágil mas que luta pela sua vida quando sequestrada pelos árabes, transformando a falsa imagem de sexo frágil e donzela em perigo.
Característico da primeira fase do romantismo, o livro é um romance histórico, com traços de nacionalismo e valorização do homem medieval, tido como herói, Eurico. No livro estão presentes características marcantes do romance Romântico, como a idealização do herói, a valorização dos sentimentos e o amor que não pode se realizar. Ao ir para a guerra com o intuito de morrer Eurico honra sua pátria, sua religião e sua amada.
Indubitavelmente “Eurico, o Presbítero” é uma obra magnífica, um clássico encharcado de ideologia, religiosidade e amor pela Pátria, os clássicos devem e merecem ser lidos!