Lopes 10/01/2018
Das versatilidades
A escrita de Joan Didion produz um grande volume sensorial e fotográfico no leitor, seus artigos escritos nas décadas de 60 e 70 sobre assuntos diversos mostram a versatilidade da autora tanto em seu sensível olhar às mudanças, quanto ao novo horizonte em que o país vai produzindo durante esse período. Podemos constatar que o leitor poderá estar diante de uma premissa literária que abarca, com essa denominação, um sentido mais amplo do fator invisível do jornalismo, o esmiuçar da notícia como realidade de todos, e mais, constar que os problemas e indagações são universais, cada um em seu tempo, porém, os países, de modo geral, precisam sempre refutar o silêncio opaco, sem sentido quando discutimos política, cultura, sociabilidade, meio ambiente, dentre outros tantos assuntos. No documentário, “Joan Didion: The Center Will Not Hold - disponível na Netflix -, realizado pelo seu sobrinho Griffin Dunne, a premissa é mostrar justamente Didion pela sua força dentro do jornalismo exercido e sua produção literária, sendo os contrapontos sua história pessoal, que claro, não se desloca, apenas viabiliza um olhar mais arguto sobre a produção de Joan. No entanto, o documentário não chega a esclarecer os pontos de difícil acesso sobre suas obras, principalmente as literárias, no sentido de não esclarecer ao telespectador quais segredos de linguagem da autora, apenas reforça o sucesso de crítica e público de “O ano do pensamento mágico” – uma das obras mais importantes deste século - e “Noites azuis” que dissecam sua autoficção. Ao ter um contato com essas duas obras eu me vi naquela brecha exercida mais pela autora do que pela sua imagem retratada pelo sobrinho. Seus textos fortalecem o jornalismo, e o ponto literário deles são a melancolia e a força humana em expor o que se esconde no poder. Tornar os sentimentos a própria literatura na notícia é combater o insulto ao leitor, abre uma dimensão que cede a notícia, a proximidade e o confronto contra a mesmice diária.