isa gusmão 05/06/20183.5 estrelas na verdade
DESAPONTADÍSSIMA com Marissa Meyer - acho que até por ser inevitável comparar com as Crônicas Lunares, que eu amei muito, Renegades foi uma tremenda decepção. Tenho diversos problemas com o livro que não sei nem se vou lembrar todos:
1. A construção de cidade é muito mal-feita - o mundo de Gatlon City que ela cria não é crível, não soa verdadeiro, não convence, e parece absurdamente caricato. Gatlon City não tem vida, não é fácil de imaginar e parece incoerente - há partes da cidade funcionando perfeitamente, tendo desfiles, enquanto completamente caquéticas e destruídas? As ruas são mergulhadas em lixo e em grafite enquanto as pessoas trabalham normalmente e existe um massivo prédio com tecnologia “state-of-the-art”? Não é “visualizável”, nem coerente. Muito triste quando penso em Nova Beijing, de Crônicas Lunares, uma cidade que eu adorava, visualizava, imergia em.
2. A construção e os dilemas do universo são incongruentes e conflitantes – temos super-heróis incríveis e vilões absurdos em um acordo ridículo e inimaginável, vivendo no que ela tenta fazer parecer um mundo pós-destruição-completa, porém ela não consegue criar essa ideia bem? Os super-heróis e os vilões são caricatos, com falas e cenas dignas de um filme de super-herói classe B e motivações ruins. Todo o contexto e conjuntura do universo é mal-estruturado, sem convencer, fazendo com que você tenha que estabelecer uma regra de “isso não faz sentido mas vou ter que relevar” pra continuar lendo o livro. É cansativo e meio chato.
3. As motivações dos personagens são péssimas, e por muitas vezes me peguei torcendo contra eles ou esperando que as coisas dessem errado para que eles percebessem as justificativas e motivações ridículas e forçadas. Nova tem a PIOR justificativa do mundo para ser tão “revoltada com tudo e todos” e por vezes o ódio intenso dela pelos Renegades parecia infantil, mal-fundamentado e irritante, para não falar em não convincente. Adrian também é movido por um senso moral de justiça e de tudo que há de bom que é - porém em um nível muito menor que o de Nova - um saco. Os caminhos e propósitos dos personagens não convencem, não empolgam, não motivam a continuar lendo, e ao longo do livro vão soando cada vez mais infantis e agoniantes.
4. Os personagens não são nada demais. Sério. A maioria deles é o maior nem-fede-nem-cheira da história. Nenhum me cativou e me fez ficar apegada nele - o que é difícil de acreditar, comparando com a espirituosa Iko, com Cress, Thorne, Scarlet, e tantos outros fascinantes personagens criados por ela. Em Renegades os personagem são bem médios e eu francamente não estou nem aí pra 75% deles - o que é raro, já que eu me apego por um pedaço de pão se bem escrito. ALÉM DISSO, vamos falar das decisões RIDÍCULAS E BURRAS tomadas pelos personagens. Qualé, vai me dizer que os maiores super heróis/vilões e seus aprendizes são tão otários assim? Algumas escolhas e atitudes dos personagens foram completamente “out of character” e davam a sensação de só terem acontecido para manter a história progredindo. Sem falar que da metade pro fim do livro ela simplesmente ESQUECEU de alguns personagens e deixou fios soltos até demais, mesmo pros parâmetros de um livro que é duologia. Serião, o que rolou com Ruby e Oscar depois? Não sei porque foram esquecidos lá pra página 300.
5. Que livro arrastadoooooo. Parece que 60% dele é introdução e as cenas que deveriam ser os “grandes momentos” são na verdade bem meh. E o suposto clímax não poderia ser mais anticlimático. Só pegou o ritmo bom lá pra depois da metade, e ainda assim algumas partes se arrastaram. Plus, os plot twists eram absurdamente previsíveis e faltou surpresa nesse livro.
MAS NEM SÓ DE PROBLEMAS VIVE UM LIVRO NÉ - aka também há pontos positivos:
1. MUITA diversidade - os principais super-heróis da cidade são um casal abertamente gay, que adotaram o protagonista. Muitos personagens negros, asiáticos e latinos. Personagens deficientes. Ponto pra Marissa Meyer.
2. O Council é na verdade uma perspectiva muito interessante de “como fica o mundo e os heróis depois de salvarem o mundo” e foi legal de ver.
3. Bons diálogos, como é de praxe de Marissa Meyer, e um bom número de segredos e questões pra gente pensar. Interessante.
Enfim - continuarei porque acredito no poder de Marissa pra escrever um segundo livro melhor, levando em conta TLC. Espero que esteja correta. Vale a leitura, mas sem muita hype.