Queria Estar Lendo 09/01/2019
Resenha: Renegades
Renegades (Renegados) é o primeiro volume da nova trilogia da minha senhora e salvadora, Marissa Meyer, e vai ser lançado aqui no Brasil pela Editora Rocco. Essa mulher já roubou meu coração com os contos de fada em versão ficção científica de As Crônicas Lunares e com o devastador e cômico Sem Coração, que acompanha a vida da Rainha de Copas antes de ela se tornar a cruel monarca; agora, é a vez dos heróis.
Nessa realidade, os heróis salvaram o dia em Gatlon City e, por isso, foram recompensados. Antes, eles eram temidos. Agora, são amados. A história nos mostra dois pontos de vista: os Renegados e os Anarquistas. Com os Renegados, temos Adrian. Ele é o filho adotivo dos dois líderes do grupo de heróis, órfão de uma das maiores heroínas que o mundo já conheceu. É um rapaz extraordinário, com um poder fascinante e com essa sede de justiça e de fazer a coisa certa, mesmo que precise ir contra as leis e regras criadas pelos próprios pais para que isso aconteça.
"Enquanto a anarquia for sinônimo de caos e desespero, os anarquistas sempre serão sinônimo de vilania."
Do outro lado, temos Nova. Ela foi adotada pelo Anarquista, o vilão responsável por toda a guerra que devastou Gatlon City. Ressentida pelo fato de ter acreditado nos Renegados e tê-los visto falhar quando mais precisava, condenando sua família a uma chacina, Nova quer vingança. Ela quer encontrar os pontos fracos da organização e quer vê-los ruir - para isso, vai precisar se passar por um deles. Nova quer correr atrás da própria vingança, e não vai medir esforços para que ganhe vida.
O ponto forte de todas as histórias da Marissa é a construção de personagem. E, oh boy, como ela fez isso bem em Renegades.
É impossível, repito, absolutamente impossível escolher um lado nesse conflito. Apesar de os Anarquistas serem o caos, os Renegados não são exatamente os mocinhos. E é genial com os pontos de vista dos dois protagonistas mostram isso; não existe um certo. Não existe um errado. A guerra é bastante cinzenta porque não entrega uma escolha fácil para ninguém. Mesmo os heróis são corrompíveis. Mesmo os vilões são empáticos.
"Uma pessoa não pode ser corajosa se não tiver medo."
O ponto de vista do Adrian foi muito de cautela e justiça, enquanto o de Nova era de vingança e amargura. Dois opostos evidentes tal como o tabuleiro desse conflito sem fim.
Adrian foi um dos melhores personagens que a Marissa já criou. Gentil e dedicado, divertido e cheio de vida, ele é um garoto sonhador e cuidadoso. Entende as leis e a razão pela qual estão ali, sabe que o trabalho dos seus pais é essencial para manter a ordem na cidade - e no mundo -, mas também viu que isso nem sempre funciona. Sua criação, Sentinela, é um uniforme que esconde sua identidade e garante que Adrian faça suas investigações e vigilâncias sem o peso do símbolo Renegado sobre ele.
Gostei tanto da ambiguidade desse menino! De como ele agia pelas costas do pai justificando "o bem maior" quando, na real, também era movido por um pouco do seu ego e teimosia.
"- O que nós fazemos... é só uma série de escolhas. Pegue os prodígios de conjuram fogo, por exemplo. Todos eles têm uma escolha. Podem queimar prédios até que virem cinzas, ou podem assar biscoitos."
Adrian consegue dar vida a qualquer coisa que desenhe, desde um pônei até uma arma laser integrada ao seu uniforme secreto, mas o fato de precisar acreditar nesse desenho, de que é útil para alguma coisa, explica muito da sua personalidade. Como ele reage ao mundo e aos crimes e ao senso de justiça.
Nova, por outro lado, é o lado mais radical. Ainda que ela enfrente grandes momentos de hesitação, uma vez que seu plano de se infiltrar nos Renegados dá certo, a sede de vingança fala mais alto. No que o Adrian é ambíguo porque se esconde atrás de uma identidade secreta para fazer justiça com as próprias mãos, Nova se esconde atrás de uma mentira para procurar sua vingança. Ela se torna outra pessoa frente aos Renegados, e a possibilidade de essa identidade falar mais alto, de ela encontrar humanidade e gentileza e familiaridade em meio aos heróis é o que mais a aterroriza.
Como ship, os dois não decepcionam. O slow burn é bem trabalhado - como a Marissa já mostrou que é especialista - e envolve muito da construção de confiança e de como ela não existe realmente porque ambos escondem informações essenciais um para o outro. Ainda assim, Adrian e Nova se entendem. Dividem momentos fofos, amigáveis e cheios de química. É de se contorcer e rolar pelo chão o quanto os olhares e os sorrisos significam tanto para o desenvolvimento do ship.
O leque rico de personagens que compõe o background da história é gigantesco. Os Anarquistas são os vilões, desde os mais caóticos, como o Mestre-das-Marionetes ou a Detonadora, passando pelos medonhos, como o Fobia, até os mais doces e gentis, como a Rainha das Abelhas. São figuras únicas, carregadas de história e de carisma. Os vilões dessa série poderiam ser vilões do Batman de tão incríveis que são!
"Como podemos esperar que as pessoas mudem se não damos uma chance a elas?"
Os heróis, por outro lado, não representam apenas a ordem e a justiça. Os pais do Adrian, Simon e Hugh, são a família. O amor. O cuidado. Ruby e Oscar, melhores amigos do garoto, são seus companheiros para os melhores momentos e também os piores - e também os melhores colegas de equipe que um Renegado poderia querer. Eu me apaixonei perdidamente por cada personagem em cada arco e é desesperador o quanto eu não sei para quem torcer!
Ah, e já que eu mencionei, vale falar que representatividade é fortíssima nessa obra. Adrian é negro, Simon e Hugh (os líderes dos Renegados!) são gays, e por aí vai. O padrão não existe, realmente; a autora usa os poderes, os Prodígios, para falar de opressão (quase como os X-Men) e dá espaço para que aquilo que foge do padrão seja parte dele.
"O coração de Nova pulou. Ela ergueu a arma e... em quem deveria mirar? Era uma Renegada hoje, ou uma Anarquista?"
O ritmo da narrativa é carregado em adrenalina, investigação e bom humor. É aquele tipo de leitura fácil e gostosa que flui tão perfeitamente que dá pra terminar muito rápido - mas você se apaixona por tudo e não quer que termine. O cenário remete às boas histórias de heróis, mas também aos livros de distopia e aventura que ganharam o gosto do público.
"Heróis ou vilões, todos os Prodígios eram poderosos. Todos eram perigosos."
Renegados é o tipo de história perfeita para quem gosta de heróis, aventura ou simplesmente uma saga carregada em ação e carisma. A publicação no Brasil está prevista para este ano, então já se prepara porque esses super-heróis e super-vilões vão roubar seu coração.
site: http://www.queriaestarlendo.com.br/2019/01/resenha-renegades-renegados.html