Rodrigo1001 08/03/2023
A vida é uma ampulheta colada em uma mesa (Sem spoilers)
Título: Nossas Horas Felizes
Título Original: Our Happy Time
Autora: Gong Ji-Young
Editora: Record
Número de Páginas: 280
Começo com alguns números e uma leve introdução.
Números:
Autora sul-coreana de sucesso, Gong Ji-Young teve seu primeiro romance publicado em 1989 e, de lá pra cá, já são mais de 20 obras publicadas entre novelas, ensaios e outras produções. 2 de seus livros ganharam adaptação para o cinema, sendo este um deles. Além disso, foi 7 vezes premiada, incluindo um título pela Anistia Internacional e o Prêmio Literário Yi Sang, um dos mais importantes da cena literária coreana.
Introdução:
Começo dizendo que, ao contrário do que reza o título, este não é um livro feliz... pelo menos, não inteiramente. É, na verdade, um livro aflitivo, doído e pesaroso sobre duas pessoas muito diferentes que, conversando uma com a outra, entendem a dor e as dificuldades que a vida impõe. Um deles é um prisioneiro do corredor da morte e o outro é uma professora universitária que parecem não ter nada em comum, mas que formam um vínculo intenso e marcante. Em um outro olhar, é também um livro luminoso e reflexivo, impregnado pelo poder de perdoar e ser perdoado, amar e ser amado, viver ou somente existir.
Números e introdução devidamente concluídas, avanço dizendo que Nossas Horas Felizes é uma viagem melancólica, porém bela, pelo delicado campo da vida nua e crua. Com uma capa excepcionalmente bonita e gostosa ao toque, impresso em papel off-white na tipologia palatino, com espaçamento adequado e letras grandes, a qualidade do livro em si é comparável à qualidade do que se lê.
Vencida a confusão temporal dos primeiros capítulos, me senti hipnotizado já de início, como se tivesse me deparado com um obra de estranho poder e intensidade implacável. O livro convida o leitor a centrar sua atenção em uma experiência de vida mais profunda e rica. Toca muitos sinos dentro da gente, provoca pensamentos contraditórios, muitos dos quais preferimos passar a vida fugindo.
Com uma escrita limpa, convincente, coesa e cativante, acompanhamos não só a história dos personagens, mas também da própria Coreia do Sul. Particularmente, ignorante no que diz respeito aos valores mais profundos daquela sociedade, me vi interessado por tudo que lia.
As interações do condenado e da professora são o núcleo do romance. A intensidade vem de forma crescente, linear, e coloca uma corda no pescoço do leitor. Te amarra.
Passei toda a leitura com medo de que o livro descambasse para a pieguice, mas, pra minha própria satisfação, o drama é relativamente bem dosado e o texto flui sem fazer o leitor levantar as sobrancelhas. Todo o momento que o deixava de lado, ansiava em voltar e isso já diz muito sobre a minha experiência.
Mais próximo do fim e de um ponto de vista intrinsecamente pessoal, houve um pequeno excesso de dramatização que acabou levando meia estrela, mas que, de forma nenuma comprometeu a obra.
Para concluir, indicaria esse livro para todas as pessoas que estejam buscando questionar-se, que estejam procurando por aqueles pequenos incômodos que acabam nos engrandecendo como pessoas, como seres sociáveis. A viagem é tortuosa, mas vai te fazer sair muito melhor do que entrou. Enlevante, virtuoso e contemplativo.
Leva 4,5 de 5 estrelas.
Passagens interessantes:
“Diferente da riqueza, a tristeza é dividida entre todas as pessoas igualmente (Bak Samjung)” (pg. 118)
“Quando alguém diz que quer morrer, o que realmente quer dizer é “não quero viver dessa forma”. E não querer viver de uma certa forma na verdade significa querer viver melhor. Então, em vez de dizer que queremos morrer, o que deveríamos falar é que queremos viver bem.” (pg 147)