Matheus.Andrade 07/07/2020
Radicada em Londres por não conseguir publicar um livro em 1997, a jornalista Xinran parte de um anseio por entender a geração de seu filho e faz uma extensa pesquisa sobre os filhos únicos na China. O livro imerge nos costumes cotidianos da China, nas políticas públicas e nos sentimentos dos pais que superprotegem os únicos herdeiros. E, assim, faz um panorama do quanto a política de controle de natalidade pode causar efeitos colaterais na vida das famílias chinesas.
Ela recolhe o depoimento de 12 filhos únicos que toparam com ela em algum momento e, depois de uma longa troca de confissões pessoais, pergunta o que acham do caso de um filho chinês, de família rica, que matou a mãe e ainda atropelou outra moça porque não recebeu o dinheiro que pediu.
Apesar de ser uma obra jornalística, falta análise aprofundada e global de alguns problemas que a autora julga serem só da China, além do claro discurso meritocrático que ela defende. A autora atribui muitos dos problemas chineses mais à cultura ou a um esvaziamento moral, usando como modelo positivo a vida no Ocidente. Na verdade, quase todos os fenômenos que Xinran descreveu com tanta habilidade no livro são típicos de uma sociedade do capital, e se tornam ainda mais acentuados num período confuso de crescimento desenfreado como é o da China. Ou seja, não importa se é do ocidente ou do oriente, os problemas civilizatórios não são meramente locais, e sim fruto de componentes do sistema capitalista que se manifestam, a seu modo, no país em questão.
Ainda assim, é um mergulho muito raro de se encontrar, não só na vida urbana da China, mas também nas vivências silenciadas que se instalam na enormidade rural desse país que tem quase a metade da população mundial.
O livro é tão abrangente e intrigante que ainda fornece alguns detalhes esparsos sobre a Revolução Cultural que ocorreu pouco antes da política do filho único.
Mal posso esperar pra ler outros livros da autora e conhecer um tiquinho mais sobre a China.