SARAMBOKE

SARAMBOKE Elizeu Moreira Paranaguá




Resenhas - SARAMBOKE


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Dani - Bibliotecária Leitora 29/03/2017

Saramboke ou Pasárgada?
Hoje vim comentar um pouco com vocês sobre o livro Saramboke (Penalux, 2016, 160 p.) do autor baiano Elizeu Moreira Paranaguá. Diferente de Manuel Bandeira, que quer ir para Pasárgada (e de Bruno Félix, que acha que nem tudo são flores no paraíso de Bandeira), Elizeu cria um lugar de onde veio, um lugar de origem do poeta (onde particularmente acabei desejando ir). Por todos os caminhos que o autor nos leva, vai-nos puxando pelas mãos, às vezes por um caminho todo florido, outras vezes por caminhos arborizados, e todas as vezes sem pressa alguma. Há poemas mais curtinhos, diretos, que quando terminamos de ler não conseguimos ir diretamente para a próxima. Tem de haver uma reflexão demorada e saboreada. Já diz José Inácio Vieira de Melo, na contracapa: “Dom Elizeu Paranaguá, o Conde dos Lajedos, dentro da sua orfandade, adota todos nós e nos convoca ao seu feudo mágico – as páginas metafísicas do Saramboke – para que dancemos à margem de todas as coisas, como deuses“. E é exatamente isso que Elizeu faz: transforma nosso mundo estático em poesia dançante; poesia essa que transforma o mundo à nossa volta, mas principalmente nosso interior.

site: https://bibliotecarialeitora.wordpress.com/2017/03/24/saramboke-elizeu-moreira-paranagua/
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Krishnamurti 15/02/2017

SARAMBOKE
Lugares imaginários florescem vez em quando na literatura como uma forma de chamar a atenção do mundo real para si mesmo ante os vários níveis de leitura que desperta. Da ilha de Lilliput nas viagens de Gulliver de Swift, para outra ilha da Utopia de Thomas Morus. Da Macondo de Gabriel García Marquez, passando pelo Mágico Mundo de Oz, ou ao Castelo de Kafka, há sempre nessas ambientações propostas por escritores, a atuação da criatura humana em face de novos e variados cenários onde atuam na saga da existência.
Saramboke é o título do novo livro de poemas de Elizeu Moreira Paranaguá que a Editora Penalux acaba de editar. Ao lado de quase uma centena de poemas está Saramboke, uma criação longa com XXII cantos onde o poeta imagina seu mítico universo. Entretanto, diferente da Passárgada de Manuel Bandeira (que é um poema de evasão), a “terra” que Paranaguá exalta, é de onde ele provém numa tentativa de instaurar (ou melhor nos lembrar), certos valores humanos que vamos perdendo ou deixando de cultivar. O canto VIII, nos deixa entrever que lugar é este:
“Venho do Saramboke”... “onde os sonhos crescem e permanecem na alma de um tempo / onde as forças do invisível dançam no ar / onde os moços e as moças transmontam as margens-correntes / onde os pensamentos e os pássaros se elevam até a luz do extremo / onde os elementos vivos e as variações da infância / avançam para dentro do Cosmos / onde se tem o sentido real de um lugar”
E o poeta declara vir de Saramboke, “para soprar o pó do poema / para ser mil vezes mais amoroso / para somar as virtudes do humano-divino / para soltar meus demônios / para cima dos lobos / para cima dos espectros soturnos”
Sobre esse livro, escreve Bernardo Almeida na orelha: “Da prodigalidade do poeta, Saramboke é a origem da consciência estética de um ser em busca da beleza, nos desvãos da imperfeição. Talvez seja Saramboke um fragmento da imaginação de Elizeu, um lugar idílico, esculpido na pedra do caos, que silencia incorruptível, enquanto queima nas labaredas do eterno fogo do invisível”. E ainda José Inácio Vieira de Melo, complementa na contracapa, que o autor “é um andarilho delirante, um poeta de perquirição filosófica”. Justamente: Há inclusive no autor acrescentamos, uma imagem recorrente: a “pedra”, que aparece em inúmeros poemas, e que tem um viés filosófico pelo que representa também como símbolo de aperfeiçoamento moral do homem. O burilar moral transformando a pedra bruta numa pedra polida. O combate às imperfeições do espírito a que temos que recorrer com o martelo (a força da consciência) e o cinzel de aço cortante a gravar no ego os exemplos das virtudes que enobrecem o espírito. Assim nos parece a obra de plena maturidade poética a que Elizeu Moreira Paranaguá nos entrega para uma fruição extremamente salutar.
Acrescentamos ainda que o autor consegue nos transferir não a situação real, mas a emoção, nascida da situação. Transforma a emoção em símbolos. Aquilo a que Croce chama de o ‘lirismo’ da obra. A forma e a força desse lirismo é o símbolo que fala-nos, não ao nosso intelecto, mas a toda a nossa personalidade. A expressão simbólica bem realizada é o privilégio deste poeta a qual transcrevemos alguns versos. Vale apena acompanharmos e refletir.
Febre
“Agora que é céu gelado / transformo o vento em absinto das revoluções / que movem a orla da Terra / entre o filho e o irmão à procura do aroma da liberdade / que promove o poema da vida”
Do caminho do homem
“O caminho há de persistir / porque os homens / não deixam de existir / porque as folhagens / perseguem o destino a conduzir o Sol / porque os homens têm o fardo horrível / e as virtudes diante da profundeza do Universo”
Essas horas e todas as circunstâncias
“Essas horas e todas as circunstâncias / como todos os caminhos e todas as ondas / do amor estão em toda parte dos sentidos / ao esgotamento das células em ardência
onde o perfume da pedra acompanha o ar / que sobe e desce por entre orlas da vida / e a vida é algo mágico a contemplar”
Enigma das nuvens
“Acompanho os filósofos / e seus porquês da vida / e tudo em mim é flamante / e tudo em mim é sentido”.
O mundo aos 50
“O mundo desperta o sentido para a vida / porque a vida não conhece outra forma / para viver / senão viver”.
Do caminho dos poetas
Indissolúvel é o caminho dos poetas / que vivem a vida de rebelado.
Implacável á a palavra dos poetas / que cortam as trevas do mundo.

E o mais belo dos belos, o de mais profunda verdade num mundo de um materialismo que parece triunfar;
Espírito
O espírito é a primeira possibilidade de transcender / É a primeira possibilidade de resistir.
O espírito é o caminho onde o homem completa-se. / O mundo é um espetáculo de trevas / Onde “as luzes transformam o colorido dos homens”. / O tempo traz todo o ardor do espírito / Que toma configuração no humano-divino / O espírito é uma qualidade a expandir-se na orla do ser

Livro: Saramboke – Poesias. De Elizeu Moreira Paranaguá – Editora Penalux – Guaratinguetá – SP, 2016, 162p.
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