spoiler visualizarLeo Nunes 27/07/2022
Em 2001, quando ainda criança, eu tive o meu primeiro contato com o universo de Harry Potter, e isso fez toda a diferença. Naquela época, a internet não era o que é hoje, o acesso a livros era mais restrito (ebooks, o que?), e existia uma magia própria na literatura decorrente dessa sensação de isolamento físico e informacional. Tudo isso me ajudou a imergir no mundo proposto pela autora, J.K. Rowling, que por si só já facilitava essa tarefa, dada a riqueza de detalhes e a fluidez que a obra apresentava.
Agora, mais de 20 anos após a minha primeira leitura, eu me dei o prazer de reler toda a saga. E a magia que eu senti quando criança continua lá. Mas ela não decorre do sentimento de um menino que se identificava com os personagens, ansiava por fazer parte daquele mundo místico (quem que teve a oportunidade de ler HP quando criança e não imaginou uma coruja trazendo sua carta de admissão?) e se deslumbrava a cada descoberta, tampouco é fruto do sentimento de nostalgia de um homem que teve HP como uma terna companhia (pelo menos, não apenas fruto disso). Essa sensação se origina de um sentimento claro e inconfundível de quem tem o prazer de ser abraçado por uma realidade incrível, mesmo que seja apenas como leitor. E eu digo realidade, porque a autora é tão criativa em construir um mundo próprio, tão sagaz em explicar cada detalhe, que conseguimos vivenciá-lo a cada página.
Mas a saga de Harry Potter não é grandiosa apenas pela riqueza do seu universo, é também pela acurácia da narrativa, que é escrita em linguagem acessível, porém sem ser pobre ou vulgar. É preenchido com uma diversidade de eventos e, de forma muito poderosa, consegue amarrar pontos conexos com uma precisão quase inquestionável. Até na releitura, surge uma continua sensação de coisas novas a serem percebidas, embora as palavras sejam as mesmas de sempre. Além disso, possui diálogos que promovem reflexões simples, porém interessantíssimas sobre a vida, a morte, a razão de existir, a relevância da amizade e do amor, sobre o poder do saber, do estudo, além de romper de forma graciosa com muitos paradigmas.
É uma obra que influenciou diversas outras do gênero que vieram posteriormente, sendo uma das maiores, se não a maior (e eu particularmente acho que seja), obra de literatura fantástica das últimas décadas. Indiscutivelmente indicada.