Naty__ 04/11/2019Você é contra ou a favor da eutanásia?Esta resenha será mais um desabafo do que uma resenha propriamente dita, eu sei. Sei que não deveria ser assim. Sei também que vocês iriam chorar ou, no mínimo, com aquele que possui o mais pútrido coração, se emocionar.
Minhas palavras iniciais foram fortes, não é, caro leitor? Desculpe se ousei chamar algum de vocês de ter um coração pútrido, posso até ter me equivocado, mas o fato é que não quero mostrar que seu coração é ruim ou que o meu é imprestável. O fator principal é o seguinte: não há quem não se emocione com essa história. Não há quem não reflita. Não há quem não sinta nada, é impossível concluir essa leitura e achar que sua vida está absolutamente normal, que os nossos problemas são os maiores do mundo. Vamos diminuir as coisas porque não são, não.
Vocês já ouviram falar em eutanásia? Se já não ouviram, certamente já ouviram falar em pessoas que estão há dias, meses, anos, décadas em cima de uma cama... Sofrendo... Sofrendo... Morrendo. Aliás, que vida ela tem? Não se vive ali, não se respira com satisfação, apenas está agonizando e pensando o quanto de trabalho está causando para fulano, ciclano e beltrano. Não há vida, eles apenas vegetam. Aqueles que não conseguem andar, mas sentem dores; não conseguem falar, mas seu coração está gritando para acabarem com sua vida. Não porque eles são fracos, mas porque não conseguem mais lutar contra algo que não há solução.
Aquele doente abre os olhos e o outro limpa suas nádegas, trocam suas fraldas, dão-lhe banho, alimenta-o pela sonda e diversas outras coisas que apenas fazem a pessoa se sentir incomodada. Não ouse dizer que o incômodo é de quem está limpando, lavando, alimentando... Isso quem faz é por puro amor ou porque está sendo pago para fazê-lo. Mas a gente, muitas vezes, esquece de analisar a vida daquele doente. Como ele quer ser visto pela família? Como ele quer ser visto pela sociedade? Como aquele que viveu 5, 10, 15 anos sendo cuidado pela família, e sequer podia levantar da cama, quer ser lembrado? Ou será que ele queria ser visto como o herói, aquele que fez coisas boas, que ajudou pessoas, que trabalhou duro e colocou a comida na mesa para seus filhos?
Esse é um dos assuntos mais debatidos no país e um dos mais polêmicos. Voltando à minha pergunta inicial... Eutanásia é o ato de alguém tirar a vida de outra pessoa pelo fato de esta estar com uma doença incurável e sentir dores excessivas e intermitentes. E é aqui que o livro entra.
Nelson é o típico senhor que não suporta ir ao médico. E, se você acha que estou exagerando, certa vez ele sentiu uma dor de dente e pediu para que o dentista tirasse todos os seus dentes da boca para que nunca mais fosse preciso que ele retornasse ao consultório. Esse é só um dos fatores para mostrar que, quanto mais fugimos do problema, mais ele aparece para nós. Analisemos...
Se Nelson foge de médico como o diabo foge da cruz, o que você acredita que acontecerá a seguir? Neusa, sua esposa, sofrerá mais um AVC e precisará ficar internada. Aliás, a partir disso a sua vida será toda em cima da cama de um leito para idosos. Porém, não se engane. Após isso acontecer, ele não visita a esposa com desgosto ou qualquer outro sentimento repulsivo; ele deseja estar com ela em todos os momentos e, desde então, as visitas são diárias.
Acontece que Neusa já tem 72 anos, já está num estado deplorável. Ela não fala, mal se mexe, é alimentada e limpada pelos funcionários da clínica e não tem uma companhia diária, porque existem horários rigorosos de visita. Em contrapartida, Nelson tem 74 anos, não está exatamente como sua mulher, todavia, não é o mesmo de antigamente, seu braço não faz o mesmo movimento, seus passos já são cansados e seu corpo, assim como sua mente, não suportam mais ver a sua amada esposa implorando com os olhos para que seja morta.
Não estou contando uma história para boi dormir, quem dera estivesse. Esse fato realmente aconteceu e ficou conhecido na Justiça como “um Romeu e Julieta da terceira idade”. É difícil dizer essas palavras, preparar essa resenha sem ter lágrimas nos olhos. Talvez para você seja fácil lê-la, mas você já se perguntou se fosse você no lugar de Nelson? E se fosse no lugar de Neusa?
Talvez alguns até julguem o fato de Nelson preparar uma bomba de fabricação caseira para matar a sua esposa, mas será que esses mesmos julgadores já se perguntaram como estava o estado psíquico desse senhor ao notar a sua esposa tão debilitada e implorando, com o olhar, para que aquele seja seu último suspiro?
Esse livro não é somente uma história, ele é uma lição de como não devemos ser, de como não devemos agir, quais atitudes devemos fazer, assim como devemos ser para agradar as pessoas que estão ao nosso redor – essas que tanto amamos. Você já olhou nos olhos daquela pessoa querida e demonstrou o seu amor? Já disse o quanto ela é importante para você? E, o melhor de tudo, já agiu para mostrar que tudo isso o que você disse de fato está em consonância com as atitudes?
Quantos de nós não teremos uma segunda oportunidade, um segundo olhar, um segundo toque? Esse pode ter sido seu último abraço, seu último beijo. Você não tem o poder de saber o que acontecerá com você ou com a outra pessoa. Mas, de uma coisa eu tenho certeza, temos o poder de deixar sentimentos nelas. Qual sentimento você quer deixar hoje?
Não preciso nem indicar essa leitura, minhas lágrimas já indicam sozinha. E espero que ela tenha sido capaz disso.
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http://www.revelandosentimentos.com.br/2018/01/resenha-o-ultimo-abraco.html