Fernanda631 31/07/2023
Quando a Bela Domou a Fera
Quando a Bela Domou a Fera foi escrito por Eloisa James.
Segundo volume da série. Só pelo título e a capa, já dá pra perceber que esse livro é inspirado em A Bela e a Fera.
Quando Linnet se vê envolvida em meio a um escândalo na sociedade – que acaba de se descobrir em meio a um escândalo do qual não participou, apesar de todos apontarem isso. O que acaba por manchar sua honra e é algo que ela nem ao menos cometeu -, sua família resolve tomar a medida drástica de oferecê-la em casamento ao filho de um duque, ansioso por casar o filho e que veria na jovem a oportunidade perfeita para os seus propósitos. Assim, ela é enviada ao País de Gales para conhecer Piers Yelverton, o conde de Marchant, famoso não só por ser um médico incrível, mas principalmente por seu temperamento irascível, fruto de um defeito na perna que, em sua visão, o deixou indesejável e imune aos encantos de qualquer mulher.
Os caminhos dos dois se ligam por causa desse escândalo e porque Piers se mostra a melhor opção de noivo para uma "donzela arruinada"; uma vez no castelo, Linnet acaba por confrontar um homem de postura azeda, mas surpreendentemente relacionável com sua maneira de entender o mundo e de reagir a ele. O que nasce entre eles é uma ligação curiosa e faiscante que pode se desenvolver em algo mais - isso se a bela donzela conseguir dobrar a fera solitária dentro do doutor.
Desde o início da leitura, Eloisa James me ganhou por sua prazerosa e envolvente escrita. A narrativa em terceira pessoa de Quando A Bela Domou A Fera é capaz de conquistar pelo humor nitidamente nela contida, sobretudo nos espirituosos diálogos travados entre as personagens.
As personalidades de Linnet e Piers, altamente sarcásticas e irônicas, já rendem divertidos momentos por si só, advindos dos comentários por eles feitos, e, quando unidas nos diálogos entre eles, resultaram em uma combinação deliciosa de ser acompanhada.
Ainda, a autora foi muito feliz ao compor os elementos formadores da obra. Primeiramente, desde o início é estabelecida uma relação amigável entre Linnet e Piers, apesar das nítidas implicações de um com o outro, o que proporciona ao leitor agradáveis momentos ao acompanhá-los.
Depois, devido às circunstâncias que os reúnem, as regras da sociedade britânica da época acabam por não necessariamente se aplicar a ambos, permitindo uma liberdade maior de acontecimentos e fugindo dos típicos eventos comuns em livros do gênero, relacionados à restrição do contato entre as personagens e, consequentemente, a possíveis escândalos e compromissos deles advindos.
Aqui, muito mais do que convenções sociais, o que as personagens precisam enfrentar enquanto o romance entre elas é desenvolvido são suas próprias expectativas e receios. Por fim, o próprio enlace romântico se dá nas doses certas: não apenas sua evolução convence, como permite ao leitor pode se apaixonar juntamente das personagens.
Adorei a maneira de como se dá o romance, que não é excessivamente doce, e a ligação entre Linnet e Piers, além das cenas picantes estarem presentes em quantidades moderadas e com descrição o suficiente para não deixar a leitura desgastante, apenas mais envolvente.
E não poderia deixar de mencionar sobre as adaptações que Eloisa James realizou em Quando A Bela Domou A Fera, sobretudo sobre a central, contida na história de A Bela e a Fera. Apesar dos elementos principais do conto estarem nitidamente presentes no enredo da autora, eles não são tão literais e seguem os rumos próprios da releitura, ao invés de se aterem aos da história original.
A narrativa é enérgica e com um bom humor contagiante. Os personagens te conquistam logo de cara - Linnet e sua presença forte e decidida, carregada no sarcasmo e no lado positivo de toda situação; Piers e seus traços rabugentos e azedos, usando comentários afiados e babacas para esconder seus sentimentos (eu me senti lendo o Dr. House de alguns séculos atrás).
A construção e desenvolvimento dos dois protagonistas soou muito natural para mim. Onde Linnet era toda sorrisos e diversão, Piers era cautela e ironia. Eles se entendem com o tempo, as alfinetadas escorregando em direção a flertes casuais e então aquela faísca explosiva de um relacionamento apaixonado - ainda que ambos relutem em admitir isso. Dá pra entender, no contexto deles, o porquê dessa relutância.
O grande destaque do livro, por sua vez, está no fato de Piers ser baseado no dr. House. Como fã da série, amei encontrar essa versão do personagem, principalmente em um ambiente tão diferente do contexto da série, mas ainda bastante fiel a ela. Piers é um nobre, mas é também médico, e essa combinação, além de inusitada, já que normalmente não termos personagens com profissões do tipo em romances de época de um modo geral, rendeu ótimos momentos durante o desenrolar da trama.
Jamais imaginei encontrar uma história que mesclasse romance de época, A Bela e a Fera e Dr. House por ter tido a criatividade e a audácia de combinar tais elementos.