Tamirez | @resenhandosonhos 07/08/2018A LeitoraEsse livro tem dois pontos fortes: o primeiro é que a premissa é sensacional. Pra nós que somos leitores ávidos e consumimos palavras não só nos livros, mas em nosso dia a dia, por ser algo intrínseco de nossa cultura há tantos anos, é fascinante pensar em um mundo sem palavras, sem registro. Tudo o que se sabe é passado de pessoa a pessoas, sem nada posto no papel, sem sequer um conjunto de elementos para que isso acontecesse.
Ainda dentro da premissa, imagine que mágico que um objeto que pra gente parece casual, fosse portador de um enorme poder, o conhecimento. E que nem todos talvez fossem capazes de lê-lo. Algo que a autora faz bem em seus questionamento é levantas a seguinte pergunta: será que somente aquele objeto é “livro”? Será que nós, pessoas com histórias, com desdobramentos, com conhecimento, portadores de tantas memórias não somos algo assim também dentro de nossa própria linguagem? Achei tudo isso extremamente instigante e interessante.
“Você é mesmo leitor, ou você é lido?”
A segunda coisa é a forma como pequenos enigmas são escondidos ao longo do livro. Não deixe nada passar batido, há mistérios em todo o lugar. Partes apagadas, manchas nas páginas, palavras que se formam através de destaques nas páginas e palavras escondidas junto a contagem de páginas. Pra isso, acho que vale a pena parabenizar a tradução e diagramação dessa edição, pois realmente um cuidado a mais foi necessário para que o sentido de tudo isso não se perdesse na hora de migrar o livro para o nosso idioma.
“Mas o livro era a chave, e ela sabia que, se conseguisse apenas descobrir como usá-lo, seria capaz de abrir a porte e ver – realmente ver – a magia que se agitava em correntes invisíveis, além do mundo que ela experimentava com os ouvidos, a língua e a ponta dos dedos.”
Já a história em si, pra mim, teve alguns problemas, mas nada que tirasse o brilho do foco central da trama. Sefia não tem nem sempre as mais inteligentes ideias, mas pelo menos não é a típica garota (ou garoto) dos livros de fantasia que quando descobre algo incrível automaticamente se torna a mais esperta e foda do livro. Seu crescimento é gradual nesse sentido e ela comete seus erros. Seu problema está em ter posturas que promete não ter e seguir por caminhos que não deveria, dando um tom de: é sério que ao invés de seguir os bandidos você vai seguir eles e ficar ainda mais fácil de ser capturada? Então.
O Arqueiro é um garoto “assassino” que surge logo no início do livro e acaba por conquistar nosso carisma, há algo nele de frágil que o deixa mais suscetível a ser adorado do que a própria protagonista. Ele tem uma leve evolução ao longo do livro, mas não sou a maior fã de como ele termina essa história. Aliás, achei bem sacana de todas as partes envolvidas e preferiria que algo que aconteceu na verdade perdurasse, pois faria até mais sentido ao personagem.
Outro nome que tem seu destaque é o do Capitão Reed. Ele navega o Corrente de Fé e é responsável por histórias muito legais dentro da narrativa. A forma como a sua trama se entrelaça com a principal também é interessantíssima e sequer parece algo possível num primeiro momento. Andamos em linhas temporais diferentes aqui, indo do presente para histórias do passado e isso ajuda a conduzir o peso da importância desse “livro” – dentro do livro -, que nos conta outras histórias.
“Será que qualquer coisa poderia ser um livro, se você soubesse como lê-la?”
Eu acho que a história poderia ter acabado um pouco antes do ponto exato, para criar um pouco mais de clímax. Fiquei com a sensação que dar esse passo adiante não foi tão instigante quanto ter parado um pouco antes. Há certas incongruências na história, de posturas ou explicações que ainda não fazem completamente sentido, mas esperemos que sejam resolvidas com os próximos volumes.
Fiquei curiosa por desbravar um pouco mais desse mundo, porque ainda há muito o que ser explorado. São vários continentes e um dos principais deles ainda nem foi verdadeiramente desvendado ao leitor, mesmo que seu conflito já nos tenha sido apresentado. Com isso há muito o que ser trabalhado numa estrutura que parece bem ampla. O mapa de A Leitora é lindíssimo e só por ele já temos vontade de conhecer todos os lugares.
Quando eu vi a capa do livro, achei que ela fosse vazada, mas não. Apesar de uma possível confusão sobre todos os elementos nela expostos, acaba que faz sim bastante sentido como complemento à história. E, como já mencionei, há muito mais detalhes escolhidos nessa edição do que um primeiro olhar, então é um daqueles livros para ter em mãos.
A Leitora foi uma leitura instigante e diferenciada pela forma como apresenta algo que nos é tão comum, como algo verdadeiramente mágico, porque há magia incrustada em cada nova página virada do livro, seja o real ou o ficcional. Para um leitor, o mundo dos livros sempre possuiu essa magia, mas para aqueles que desconhecem isso, é muito interessante conhecer todo o processo de descoberta. Para fãs de fantasia e apaixonados por livros, eis aqui uma obra a ser lida.
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