Resenhas -

Thaisa 08/06/2023

Louco, bizarro, provocador!
"Fever Dream" já inicia com uma cena totalmente confusa: no escuro, em algum lugar desconhecido, Amanda está conversando com David, que pede para a mulher descrever como conheceu a mãe dele durante uma viagem para um local campestre na Argentina ao lado da filha, a pequena Nina.
Mas o que era pra ser um período agradável se complica após um diálogo delirante que a protagonista tem com Carla, que demonstra um medo irracional do próprio filho: a mãe de David conta que, há alguns anos, ele foi acidentalmente envenenado pela água local, adoecendo rapidamente. Por morarem em uma fazenda praticamente isolada, a única pessoa que Carla acredita que possa ajudá-la é uma vizinha curandeira, famosa na região por socorrer quem precisa. No entanto, quando a senhora recebe David, ela avisa Carla que o menino perderá a vida e só há uma solução para salvá-lo: transferir parte da alma dele para algum feto aleatório que está para nascer - mas a mãe terá que se responsabilizar pelo corpo do filho que, como uma casca vazia, receberá alguma coisa sobrenatural para preenchê-lo.
Nesse sonho febril que nos dá mais perguntas que respostas, acompanhamos o desenrolar da trama do ponto de vista de Amanda, cabendo ao leitor interpretar o que ela viveu (e está vivendo), os seus sentimentos, os seus pensamentos e até mesmo se todas as informações da história possuem alguma explicação concreta, se é uma grande metáfora ou se tudo não passa de confusões mentais.
A novela traz elementos interessantes e aborda o relacionamento entre mães e filhos e o fio que os conecta; a dor inimaginável do luto e da culpa de perder sua criança; a situação ambiental na Argentina e o papel dos seres humanos nisso; o insólito utilizado como instrumento narrativo para provocar reflexões, assim como a mudança de voz quase imperceptível entre os personagens, afim de confundir o leitor e exigir que cada um termine a obra com uma ideia própria sobre as analogias que acabou de ler.
Foi um livro intenso, agoniante e enlouquecedor? Sim. Mas gostei bastante dessa loucura e mal posso esperar para ler mais Samanta Schweblin.

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