c a r o l 08/12/2022
"Os demônios interiores são piores do que os exteriores."
Definitivamente esse livro não é para todo mundo. Se você tem familiaridade com a escrita da Caitlín, ou não a conhece, mas já está acostumado a ler contos e quer se aventurar numa experiência única, esse livro é pra você.
Esse livro é dividido em duas partes: Mundo l e Mundo ll. As introduções que a Caitlín faz antes de cada conto revelam muita coisa legal sobre a autora e a obra que vem a seguir. E há ligações entre os contos, algumas bem evidentes outras nem tanto.
A maioria dos contos do "Mundo l" parecem um quebra-cabeça. O que me deixou confusa no início, porém maravilhada quando tudo se encaixou. Tem que prestar bastante atenção nos detalhes para não deixar as coisas escaparem (mesmo assim tenho certeza que deixei algo passar kk). A escrita da Caitlín é muito poética, o que deixa a leitura um pouco lenta. Ela usa e abusava do horror onírico, de metáforas e simbologias. A forma implícita que a autora descreve algumas situações as tornam reais demais, visuais demais, o que deixou minhas emoções bem afloradas.
Algumas histórias me deixaram mal porque elas não acabavam nada bem. Há muitos personagens ferrados aqui, vivendo nesse antro de degradação, imundice, desolação, crueldade, obsessões, egoísmo, medo, solidão e loucura. Mas é nesse caos de emoções que a autora me fez refletir sobre muitas das coisas que estavam nas entrelinhas. Ela me fez sentir raiva, impotência, tristeza (só coisas boas kk). E eu amei essa experiência. O "Mundo l" foi a parte que mais gostei porquê exigiu muito de mim, pois não eram os típicos contos que estava acostumada a ler. Foi algo completamente singular.
"O mar tem muitas vozes. Muitos deuses e muitas vozes."
Na parte do "Mundo ll" os contos são mais pé no chão. Quando li o primeiro deles achei que não tivesse sido escrito pela Caitlín. Era muito simples e comum. Fiquei um pouco decepcionada, mas houve outros contos que tinham a essência da autora lá da primeira parte, mas sem a escrita floreada e não linear. Senti que a Caitlín apagou um pouco da sua personalidade em alguns textos, em outros ela brilhou demais. Creio que a segunda parte vai agradar a maioria por ser bem dinâmica, de fácil entendimento, mas sem deixar de ter a marca registrada do horror e do fantástico da autora.