ka mcd 27/11/2011
Unwind
Bom, hoje vou falar de outro livro que entrou na minha lista de favoritos. Não me culpo tanto por ainda não ter falado nada dele por que o li há pouco tempo, mas acho uma vergonha que o Neal Shusterman não seja conhecido por aqui. Por que, lá fora, ele é um autor altamente aclamado. E com muita razão.
Sombrio. Denso. Polêmico. Fantástico. Único. Essas são algumas das palavras que eu usaria para descrever esse livro. Neal é um verdadeiro gênio. E não só pela estória magnifica que criou, mas por tudo que aborda dentro dela.
Ele fala de assuntos polêmicos que não vemos sendo muito discutidos hoje em dia. E não pára por aí. Ele ainda pega a parte mais delicada do tópico e a explora, cutucando aquela pequena parte do seu cérebro e fazendo com que você passe horas pensando naquilo, debatendo consigo mesmo se o que você acreditava ser certo é realmente tão certo assim. E ele faz isso de uma forma tão sutil, mas tão chocante ao mesmo tempo. Não fala com todas as palavras necessárias para ser óbvio, mas cria uma situação que envolve a polêmica em questão, sem expor sua própria opinião. Ele deixa que nós decidamos se aquilo foi horrível ou correto.
Acho que esse foi o livro mais difícil que já li. Não pela linguagem ou por que a estória seja chata, mas por todas as coisas hediondas que ele trás dentro de si. Havia momentos em que eu precisava fechar o livro por alguns minutos para refletir sobre a crueldade humana. Era dolorosamente honesto, dolorosamente real. Por que, ah, o autor colocou sim fatos verídicos ali dentro. Como uma matéria de jornal real que me deixou com nojo da minha própria espécie, dos meus próprios "irmãos". Isso criou um caos em minha mente enquanto eu devorava o livro. E, quando o terminei, não havia mais caos nenhum. Apenas ideais concretos e inabaláveis.
Parece que vamos mudando com as personagens ao longo da leitura. Eu me senti muito próxima do Lev. E também me impressionei muito com ele. A transformação dele é, provavelmente, a mais complexa e bem-elaborada que já vi em toda a minha vida literária e cinematográfica. E não é só ele que é bem trabalhado assim. O Connor também muda muito com o passar da estória, mas o Lev acaba se destacando por sofrer mudanças tão drásticas. Eu realmente duvido que algum dia vá encontrar uma personagem tão complexa e bem estruturada. A Risa é a única dos três principais que não muda tanto, por que, na verdade, não acho que ela precisasse mudar. Ela já era boa o suficiente no começo do livro. Ela já tinha passado pelas dificuldades necessárias.
E a estória? Bom, só digo que ela vai deixar seu coração batendo como louco enquanto estiver com o livro nas mãos. Você teme pelas personagens, chora por suas desgraças, se emociona com os milagres e sente vontade de espancar alguém pelas injustiças que sofrem. Você fica viciado nela e na adrenalina que ela trás para suas veias.
Sei que é difícil acreditar que um livro sombrio assim possa ser tão bom, mas é. Inicialmente eu só queria um livro que me desse calafrios de medo (e ele deu), mas, depois de começá-lo, eu só queria que o Neal brincasse cada vez mais com as minhas morais, que ele discutisse mais sobre o valor da vida, religião, guerras, consciência e humanidade. Eu queria cada vez mais dessa estória ao mesmo tempo que queria saber exatamente como todas aquelas tramas terminariam.
Eu fui surpreendida vezes sem fim e tenho certeza de que se lesse Unwind novamente, apesar de já saber tudo que acontece, me sentiria tão impressionada e chocada quanto da primeira vez. Sei que muita gente vai torcer o nariz para esse livro, mas digo: dêem uma chance a ele. Tenho certeza de que ninguém aqui irá se arrepender, não importa o quão desprezíveis algumas coisas sejam. Afinal, ele usa fatos reais para criar uma fantasia e nós não podemos simplesmente fechar o olhos para a nossa realidade, não importa o quão horrível ela seja.
http://lalalajustme.blogspot.com/2011/11/resenha-unwind.html