Queria Estar Lendo 29/05/2018
Resenha: All the Crooked Saints
All the Crooked Saints é o título mais recente da autora Maggie Stiefvater - que entregou ao mundo obras primas como Os Garotos Corvos e A Corrida do Escorpião. Aqui, Maggie fala sobre milagres, sobre família e sobre o poder que cada pessoa carrega de aceitar sua escuridão e conviver com ela.
A história se passa no ano de 1962 e conta a história de uma família de origem mexicana que vive na cidadezinha de Bicho Raro, no Colorado. Lá, eles realizam milagres. Mas não são milagres comuns; eles têm a ver com a necessidade de cada pessoa, e também têm a ver com a escuridão que cada pessoa carrega. Para realizar um milagre, o Santo responsável por ele precisa fazer essa escuridão aparecer - e, então, a pessoa precisa se livrar dela sozinha.
Acompanhamos os pontos de vista de vários personagens, mas principalmente dos primos Daniel, Beatriz e Joaquín. Em meio à própria escuridão e a sonhos impossíveis, esses três passam as noites no deserto transmitindo seu programa pirata através de uma frequência de rádio abandonada - com a chegada de novos peregrinos em Bicho Raro, as coisas estáveis até então vão sofrer um pouco de abalo. Isso porque existe uma regra a respeito dos milagres; uma vez que a pessoa passe pela primeira etapa, ela precisa seguir em frente e se livrar da escuridão sozinha. Se você interferir, vai carregar seu próprio castigo.
"Você pode ouvir um milagre à distância em meio à escuridão."
Tudo que a Maggie Stiefvater toca vira ouro, isso já é uma coisa óbvia no mundo literário. Esse livro é bem diferente de tudo que ela já escreveu e, mesmo assim, tem aquela narrativa poética e indescritível que só a Maggie consegue trazer à vida. A história é sombria e cheia de criatividade.
A respeito dos personagens, esse trio citado certamente guia a trama, mas todos os nomes que aparecem durante a história são essenciais para o desenvolvimento dela.
"Aqui está uma coisa que Beatriz queria: dedicar seu tempo para entender porque uma borboleta era similar à galáxia. Aqui está uma coisa que ela temia: ser obrigada a fazer qualquer outra coisa."
Beatriz é racional e centrada. Em um universo onde milagres e magia são reais, ela se vê diferente dos parentes porque emoções são pouco ou quase nada de influência em como vive a sua vida; ela é a garota das invenções, da praticidade e das escolhas mais rígidas. Ela está ali pela família e por ela mesma, com seus sonhos práticos e pouco distantes da realidade.
Pelo menos até a chegada de Pete. Ele veio a Bicho Raro em busca de um trabalho e da oportunidade de construir seu futuro; deixou tudo que conhece para trás porque lá não podia ser útil, com o problema que tem em seu coração e com a certeza de que nunca seria o suficiente para a própria família. Em Bicho Raro, talvez seja suficiente para si mesmo.
"Mas o deserto ouviu Pete Wyatt cantando aquela canção de amor. E o deserto o amou."
As interações entre os dois são regadas a poesia e olhares e toques mínimos e pode esperar um ship slow burn do mais poderoso e causador de feels. Não vou falar muito a respeito deles porque muito do que acontece no relacionamento é essencial para a história, mas existe um choque de percepções e de personalidades que é perfeito pra criar ótimas interações.
"A escuridão nunca desaparece. Ela permanece dentro de cada um."
Daniel carrega o peso de ser um Santo. Ele é o responsável pelos milagres de Bicho Raro e, apesar de louvável, é também um trabalho perturbador. Daniel encontra a escuridão dos peregrinos e os condena a ela, uma vez que depende de cada pessoa escapar da sua própria sina. Para um garoto tão doce e tão sensível, essa árdua tarefa deixa marcas; principalmente quando se trata de Marisita.
E com licença que eu preciso gritar um pouco sobre o meu ship: ELES SÃO TÃO MARAVILHOSOS E SOFRIDOS E QUEBRADOS E EU QUERIA ABRAÇÁ-LOS E COLOCÁ-LOS EM POTINHOS PARA PROTEGER DO UNIVERSO!
"Ele nunca foi dela para sentir falta, porque ela era uma peregrina e ele era um santo e, mais importante ainda, ela nunca deixaria de ser uma peregrina."
Marisita é uma peregrina. Ela veio a Bicho Raro para fugir de algum problema em seu passado, e a escuridão a encontrou e aprisionou; chove sobre Marisita o tempo todo, e por isso há centenas de borboletas monarca presas ao seu vestido branco. Ela é uma garota triste e misteriosa tal como seu milagre - e, quando se envolve com Daniel, a escuridão dele pode acabar condenando os dois.
Em meio a relacionamentos, temos Joaquín e seus sonhos criativos envolvendo o rádio e espalhar sua voz pelo mundo. Ele vê as músicas e as palavras como um escape, uma corda para salvar as pessoas que o estão ouvindo. A cidade toda tem figuras carismáticas incríveis, com uma construção de dinâmica perfeita para a história. Tony, Francisco, Antonia, Judith. São personagens e mais personagens que enriquecem o arco principal e dão desenvolvimento à simplicidade da questão que permeia os protagonistas.
Os milagres, aliás, são incríveis e perturbadores. É difícil de entender ao mesmo tempo em que se mostra muito simples; você lê e vê a bizarrice se tornando normal. Um padre com a cabeça de um coiote, gêmeas presas uma a outra por uma serpente, um homem que se torna gigante da noite para o dia. Os milagres falam sobre medos e traumas e problemas de cada pessoa e, para se livrar deles e se curar, essas pessoas precisam enfrentar seus maiores demônios.
A sina da família Soria reside no fato de eles realizarem os milagres, mas não poderem ajudar. Existe um tabu ou mesmo uma maldição que faz suas respectivas escuridões persegui-los caso estendam auxílio aos peregrinos, o que deixa Bicho Raro em uma divisão silenciosa. De um lado, os milagreiros. Do outro, aqueles que buscam salvação.
All the Crooked Saints entrega uma aura sinistra e perturbadora em uma história com começo, meio e fim (sim, é volume único!). Seus personagens são vivos e cheios de personalidades distintas; você mergulha nesse universo de milagres e sombras e diversos tipos de amor e torce para que cada peregrino, Santo ou pessoa comum encontre uma luz para fugir da escuridão.
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