Como alcançar o sucesso e inevitavelmente morrer

Como alcançar o sucesso e inevitavelmente morrer Igor Teo




Resenhas - Como alcançar o sucesso e inevitavelmente morrer


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Jackie 19/01/2020

O sentido da vida é você que constrói
Como cheguei a este livro?
Quem me segue no Skoob deve ter notado que minha trajetória de leituras, ao longo da vida, parte de textos evangélicos neopentecostais e pentecostais (IURD, Assembleia de Deus, Batista...), seguindo para o estudo das religiões, depois um certo ecletismo, uma dose de filosofia (em parte ocultista) e a chegada ao ateísmo. Minha mãe acertou ao afirmar que temia que minhas leituras me levassem a descrença. Não há passagem mais certa que aquela “buscai a verdade e a verdade vos libertará” (sei que os cristãos de plantão vão dizer que verdade = Jesus Cristo). Toda minha busca por um sentido na vida ampliou minha visão de mundo, me fez compreender melhor como os outros pensam e me libertar de crenças inúteis.
Ao contrário do que alguns podem pensar, não deixei de estudar religiões. Na verdade tenho muito que aprender e por isso leio de tudo pois, apesar de num primeiro momento ter ficado revoltada com as mentiras que me fizeram acreditar, hoje vejo o estudo de religiões e filosofias, desinstitucionalizadas, como uma forma de aprender a viver melhor, examinando tudo e retendo o que é bom, como está em 1 Tessalonicenses. Da mesma forma parece pensar Igor Teo, autor desse e-book disponível gratuitamente (você pode baixar pelo app Kindle, dentre outras plataformas). Teo diz admirar princípios taoístas, mas continua sendo um cético, não muito diferente de mim. Quanto ao seu texto, infelizmente há alguns erros de português (não falo isso por ser expert na língua, porque não sou), mas temos que lembrar que os e-books feitos pela Textos para Reflexão provavelmente não tem revisores. É como um grupo de amigos que gostam de falar de espiritualidade e decidem publicar seus textos com a melhor das intenções (ao menos é o que me parece).

Entre alguns trechos questionáveis e outros “pé no chão”, selecionei algumas partes que eu curti. Entre parênteses está minha opinião:
“... utilizamos a dialética para vencer debates, mas estavam pouco preocupados com o estatuto da verdade em seus argumentos.” (sobre os sofistas, mas isso não deixa de fazer parte de nossa realidade)

“... aquilo que não superamos do nosso passado reencontramos como destino.”
“A função ‘curtir’ lida exatamente com o tipo de reconhecimento que esperamos do outro. A aprovação que todos esperam alcançar. Muitos dizem que isso é mera carência, e que devemos aprender a nos bastar por nós mesmos. Mas dizem isto (sic) a um outro, justamente esperando deste outro a aprovação por sua tão esperta crítica.”

“Se a pessoa que está consigo não lhe amaria pelo que você (sic) verdadeiramente é, por que estar com tal pessoa? [...] só podemos nos sentir verdadeiramente amados pelo outro quando somos acolhidos em nossas fragilidades.”

“Viver é fantasiar. Não há outro modo ou razão para viver se não sonhamos. A realidade é excessivamente angustiante e incerta, de modo que precisamos possuir crenças e esperanças, fantasias e desejos, para ter aquilo que as pessoas chamam de sentido da vida.” (é quase por aí, penso eu)

“Admitimos, sem muito questionar, que nós conhecemos a realidade e o outro se encontra enganado nas suas próprias fantasias. Mas nós mesmos, naquilo que acreditamos e desejamos, estamos absortos em nossas fantasias.” (Por isso sempre me pergunto se posso estar enganada)

“Para o Tao, no entanto, não há uma morte, há apenas um caminho que se segue. Nós que identificamos certas partes dele como negativas para nós. O que, repito, é natural e justo pensarmos assim.”

“Vemos o absurdo dos eventos da vida como uma terrível maldição contra nós, que parecem acontecer apenas para nos destruir e nos fazer sofrer. Recusamo-nos a aceitar o óbvio: não há nenhum plano maior especificamente para nós, somos apenas parte de tudo. Se soar trágico, é porque em algum momento fantasiamos que a vida deveria ser algo diferente disso. Na medida em que a vida demonstra possuir o seu próprio ritmo, os seus próprios acontecimentos, e que ela não está aqui para nos servir, caímos em sofrimento.” (E quantas pessoas não fantasiam muito. Não sei pq, mas só me vem imagem de coaches na cabeça. Talvez pq os que conheci são portadores dos métodos infalíveis de fazerem as coisas “darem certo”)

“Seria completamente anacrônico, porém, eu imaginar que tudo aquilo que fora dito por ele [pelos chineses taoístas] é igualmente válido na contemporaneidade, muitos milênios existindo entre nós e eles, bem como o contexto social e geográfico inteiramente distintos. [...] Imaginar que eles já tivessem toda a verdade obtida por revelação é fundamentalismo. O que não implica em descartar tudo que eles pensaram, já que considero a doutrina taoísta uma das filosofias mais interessantes, e ainda hoje pode nos ensinar valiosas lições. [...] podemos nos aproveitar das conquistas da humanidade realizadas no passado, sem necessariamente precisarmos carregar junto com elas as mistificações que aconteceram simplesmente por faltar aos nossos antepassados o acesso a informação que hoje possuímos. Na verdade, precisamos reconhecer e exaltar o quanto nossos antepassados foram capazes de pensar e refletir sem as facilidades que temos hoje de acesso à informação e a divulgação de nossas ideias” (Igor Teo se define como um taoísta ateu ou cético. O que ele diz aqui me atrai bastante pois sou dessas que buscam um melhor modo de viver refletindo sobre tudo, inclusive sobre textos antigos considerados sagrados por muitos. Os medos, as esperanças, os desejos dos antigos continuam sendo semelhantes aos nossos, continuamos humanos como eles e buscamos um modo de construir uma vida que valha a pena. Podemos absorver parte da sabedoria deles para não repetirmos erros do passado e até mesmo evitar as ilusões que nos promete o futuro)

“... uma postura ética independe de religião.” (Sempre é bom lembrar aos preconceituosos)

“... esperar que os outros (ou o Outro divino) atendam nossos caprichos e impeça todas as injustiças ao nosso favor é um tanto quanto infantil. Ser emocionalmente maduro, por sua vez, é descobrir seus próprios meios de se amparar.”

“Nietzsche [...] afirmou que devíamos celebrar a vida com todas suas dúvidas, angústias e incertezas. Alberto Camus [...] dizia que a vida é absurda. Não há como explicá-la, controlá-la ou mesmo saber o que esperar dela. [...] Afinal, o que faz alguém escolher a vida, com todas as suas incertezas, agonias e absurdos, e não a morte, quando esta última pode representar o fim dos tormentos que experimentamos em vida? O que justifica a vida?” (O autor parece bem ousado ao tentar responder essa pergunta, mas infelizmente não achei que sua resposta foi dita da melhor forma possível. Não que eu pudesse fazer melhor, mas terminei a leitura com a sensação de que o autor não atingiu por completo seu objetivo. De qualquer forma segue a resposta logo abaixo, lembrando que ele utilizou algumas palavras de seu amigo Raphael Arrais para construir o texto)

“’É então que, conforme nos alertou o Dalai Lama, vivemos como se não fôssemos morrer, e morremos como se jamais tivéssemos vivido... Esta sim é a sina dos que se abstém de amar, por temor da perda, e terminam os seus dias com um certo arrependimento obscuro de nunca terem tido a chance de absorver um pouco da luz do Sol, mesmo que para nunca mais ter a mesma experiência... Quem vai saber? Quem pode definir quantas vezes irá amar, e quantas vezes irá perder o amor? Quantas vezes será verdadeiramente feliz, para então voltar ao estado de tristeza habitual: a tristeza de ter experimentado o Céu, para uma vez mais cair no pântano do Mundo? A única coisa que o sábio poderá responder é: “não sabemos, não fazemos a menor ideia’. (...) É isto, é apenas isto, o grande sentido, a misteriosa e escancarada essência da vida: é, sim, melhor, muito melhor, ter amado tanto, e cada vez mais, e ter sofrido tanto por saudade deste amor, e cada vez mais, do que nunca haver sequer amado, do que se despedir desta vida sem saudades, sem grandes tristezas e sem momentos de felicidade realmente dignos de nota.’ Como Raph nos diz, é melhor ter vivido e perdido, do que sequer ter vivido. Então termino com a pergunta: por que alcançar o sucesso para um dia inevitavelmente morrer? Como falar em sucesso se a vida é curta e passageira, e muito do que fazemos tem poucas chances de sobreviver ao nosso fim ou o passar dos séculos? É porque, apaixonados pela grandeza, não admiramos o valor das coisas pequenas. Uma vez vivos, temos o desejo de viver, poder gozar da vida e aproveitá-la. A maior lição da psicanálise é que a vida humana nunca é só vida. Nós não estamos simplesmente vivos, mas somos possuídos por uma estranha pulsão de gozar a vida em excesso, apegados apaixonadamente a um excedente que sempre estraga o funcionamento comum e esperado das coisas. Mas somos marcados pela finitude. Nossa vida não se prolonga eternamente, de modo que somos sempre lembrados da transitoriedade da vida. Seja quando perdemos pessoas amadas, ou nas próprias transformações que se sucedem ao longo do nosso tempo, como relacionamentos que começam e terminam, amizades que chegam e partem, trabalhos que somos convocados a realizar e depois dispensados, a beleza e a juventude do nosso corpo que se esvaem. Por fim, o nosso próprio fim. Nossa inevitável morte. Muitas de nossas realizações não ficarão para a história, mas serão apagadas nas areias do tempo. O desejo de viver e gozar é assim um desejo limitado pela finitude. Mas é a mesma finitude que fornece sentido ao desejo de viver e gozar. É porque a vida tem um fim que as coisas possuem um sentido. A eternidade, por outro lado, seria uma constância absoluta, em que todo dia nada de especial existiria já que tudo seria eterno e igual. Mas é porque as coisas terminam, há o novo e a diferença, que as coisas adquirem valor.
Quando a beleza de uma flor que desabrocha dura apenas alguns dias há o desejo de aproveitar enquanto a beleza da flor existe. Se a flor existisse para sempre, perderia sua preciosidade, perderia a sua beleza. Porque nossos amores, amizades, trabalhos, prazeres e sofrimentos possuem um tempo, é que há uma razão para serem vividos. É porque a nossa própria vida é frágil e fugaz que ela possui todo seu valor, e não o contrário. Gozamos porque as coisas são mesmo breves.”

Depois de tudo que passei, decidi encarar a vida como uma experiência única e me libertei de medos e crenças que me aprisionavam. Hoje vejo que tudo o que aprendi errado, terei de rever e encarar a vida de um modo diferente. E isso é para a vida inteira. Às vezes me pego pensando no que eu poderia fazer que ainda não tive coragem por vergonha ou orgulho. Há muitas coisas que quero aprender e vivenciar. Quando me pego com vontade de ver minha filha crescer, quantos livros quero ler, lugares que quero visitar, passar por experiências que eu mal posso imaginar – como já vivi até aqui - vejo que meus próximos (talvez) 50 anos são curtos para tudo isso e desejo viver mais. Construí meu próprio sentido da vida: buscar ser uma pessoa melhor e contribuir para que os outros também construam seu próprio caminho.

Sei que esse texto pode levantar questões sobre o suicídio. Sobre isso, pretendo estudar mais antes de falar alguma coisa. Sei q tenho muitos planos e que nem todos podem vir a se concretizar, mas já que estou aqui, decidi pagar pra ver no que vai dar, ainda que isso me gere alguma decepção.

Talvez vocês encontrem mais passagens interessantes para o momento de vida que estejam vivendo. As que elenquei aqui foram as que bateram com meu momento.
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