Queria Estar Lendo 20/07/2021
Resenha: Uma Tocha na Escuridão
Uma tocha na escuridão é o segundo volume da quadrilogia Uma chama entre as cinzas, da autora Sabaa Tahir. Com o lançamento eminente do quarto volume, decidi que era hora de voltar para a série, relembrar o primeiro volume e seguir em frente. E talvez eu tenha chegado um pouco tarde nessa leitura.
Essa resenha vai conter spoilers do primeiro volume.
Depois de fugir, Laia e Elias começam uma jornada para resgatar o irmão dela, Darin, que está em uma prisão perigosa e mortífera a uma distância impossível. Eles sabem que estão correndo contra o tempo, com o novo imperador ordenando uma caçada a Elias e a comandante se erguendo como uma sombra cada vez mais ameaçadora. Mas Darin pode ser a única esperança da rebelião, e por isso eles precisam tentar.
Do outro lado da moeda, Helene é a Águia de Sangue, o que significa que servir ao imperador e ao império deve vir antes de qualquer coisa – em relação ao seu coração, sua família e amigos. A ela cabe a missão de rastrear e capturar Elias, mas como fazer isso quando há tanto conflito em suas ações?
Uma chama entre as cinzas foi uma das minhas leituras favoritas em 2015, antes de sair por aqui. Relendo esse ano, encontrei uns pontos que já não me agradam mais em fantasia – como o instalove e as enrolações desnecessárias comuns em YA do tipo.
"Laia. A garota erudita. Outra chama esperando para queimar o mundo."
Uma tocha na escuridão acabou caindo nesses mesmos problemas; mas, depois da repetição que foi no primeiro volume, só me encheu mais as paciências.
Não é um livro ruim, mas é um livro enrolado. Ele tem conflitos interessantes, boas cenas de ação, mas acaba ficando tudo no mesmo tom. Acontece uma coisa, acontece uma ação, eles voltam ao marasmo daquela coisa. Personagem A se atrai por Personagem B enquanto Personagem C fica de olhares irritados e ciumentos. Sabe? É muito chato. Muito enfadonho. Não acrescenta em nada.
O instalove dessa série é simplesmente imperdoável. O único casal que tem um pouco mais de química – e isso por causa da construção de amizade entre eles – é Elias e Helene, e olhe lá. As tentativas chatas de tentar fazer Elias/Laia ou Laia/Keenan acontecer se tornam insuportáveis com o passar das páginas, e eu tirei uma estrela inteira do livro só por isso.
Não tem substância. Não tem emoção. Não tem nada que te faça acreditar que os sentimentos descritos realmente estão ali. É pura e simplesmente instalove porque eles se conhecem a pouco tempo; se ela tratasse como uma atração, eu entenderia, mas a narrativa faz parecer que é algo grandioso em todos os lados quando... Não é. Não chega nem perto disso. Só atrapalha o desenvolvimento individual de cada personagem.
Eles ficam presos a coisa do “ai mas o Elias pensa assim sobre a Laia” ou “a Laia sabe que é importante e forte porque o Elias comentou isso com ela” pra dois segundos depois estar olhando pro Keenan e pensando que está apaixonada por ele. CHEGA!
Chato, chato, chato.
Por causa disso, como eu comentei, as jornadas acabaram não me agradando tanto. A do Elias, principalmente. Putz, amigo, pra alguém tão[*****], tão elogiado, um soldado tão “olha é ele quem vem passando”, tu só toma decisão estupidamente burra. Mesmo quando ele agia racionalmente, ainda tinha uns escorregões que eu não perdoo em personagem dito tão fodão.
"- Enquanto combater a escuridão, você ficará na luz."
A Laia teve bons momentos, especialmente em relação à própria força e sua história, e momentos em que, de novo, o romance e sua relação com os personagens masculinos atrapalhavam tudo. Helene e Laia seria um ship muito mais dramático e interessante, mas a cultura hétero estraga tudo.
Em duas cenas elas tiveram mais química do que a Laia com todos os personagens masculinos.
As descobertas que a Laia faz sobre si mesma, sobre sua família, sua relação com a rebelião – em questão de sentimentos e de força – é muito, muito interessante. Ela é uma personagem feminina incrível e que merecia muito mais do que os plots que sempre acabam voltando a flertes e beijos e etc.
E, desculpa, mas é isso o tempo todo, sabe? Mesmo sozinha, sua mente acabava voltando para o Elias ou para o Keenan, mesmo em situações de risco, mesmo em situações de confusão. Não tem graça, não tem apelo. Os dramas solitários dela são ótimos, a história dela é ótima. O instalove só arruína tudo.
Por fim, a salvação de tudo, Helene. Assim como a Laia, ela é uma força a ser reconhecida; assim como a Laia, ela tem uma jornada solitária. Vive conflitos pra lá de complexos e impiedosos, à sombra de um imperador cruel, cercada por políticos e generais que não veem nela a Águia de Sangue que deveriam reconhecer.
Eu sou apaixonada pela composição da Helene. Uma Máscara que vê sua realidade dividida porque o melhor amigo traiu o império por uma causa estranhamente justa; quanto mais Helene se aproxima das verdades sobre o governo ao qual jurou lealdade, mais entende a sombra que ele representa. E mais tem seu coração testado por isso.
"- Mas você, Helene Aquilla, não é uma faísca que consome rapidamente. Você é uma tocha na escuridão... se tiver coragem de se deixar consumir pelas chamas."
Eu amo essa mulher, e amo tudo que ela vive nesse livro. São capítulos tensos, reviravoltas intensas e um final devastador.
Falando em reviravolta, eu tiro um parágrafo da resenha pra deixar o meu “sério?” pro plot twist ali do final. Foi tão súbito e sem sentido que eu realmente não consegui comprar. E pensar em toda a relação dessa reviravolta com as personagens que a cercam, especialmente uma personagem, é pra lá de creepy.
Em relação ao resto, os plots se desenvolvem bem. Tem uma lentidão extremamente arrastada no decorrer do livro todo, mas com a sensação de urgência por causa de uma coisa que aconteceu a determinado personagem no começo do livro. Sempre naquele passo de “o tempo está correndo e acabando”.
Uma tocha na escuridão não foi bem o que eu esperava. Não é um livro ruim, porque toda a composição política e bélica do império que a Sabaa criou é brilhante. É realista em sua crueldade e opressão; é complexa nos desdobramentos que a história apresenta. O mundo mágico também é incrível, com criaturas saídas de fábulas para aterrorizar personagens e apresentar novos caminhos a eles.
O que estraga mesmo é o romance, e ele está ali o tempo todo para ser ignorável ou fingir que não existe. Eu espero que o próximo livro suma com isso, ou que diminua de intensidade no decorrer das páginas. Tô curiosa para saber o que vai rolar com a Laia e com a Helene, especialmente por causa do fim desse.
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