Jon O'Brien 28/06/2017
Segredos Sombrios - Aurélio Simões
Vim trazer a resenha de um livro que me trouxe diversos sentimentos. Em alguns momentos, fiquei sem saber dizer se a leitura estava me levando a algum lugar. Mas LEVOU. E foi INCRÍVEL.
Quero falar primeiro dessa capa. Apesar de simples, a junção dela com o título nos traz a imagens de que o livro tratará de segredos pesados que precisam, necessitam absurdamente, ser escondidos para que vidas sejam protegidas de alguma forma. Para minha negativa surpresa, devo dizer que esperava muito mais dos segredos. Foram todos de uma mesma vertente. Mas mesmo assim, a falta de segredos mais “bem trabalhados” — posso dizer assim? — não trouxe nenhum desconforto, porque o livro tem muito mais coisa que me prendeu. O autor soltou uma mão minha, mas segurou forte na outra.
O livro conta a história de várias pessoas. Sabemos que Ítalo, o detetive particular contratado para solucionar o caso do assassinato de Patrick, é o protagonista, mas a história de todos juntos forma um uma história densa e estranha — no sentido positivo. Patrick é assassinado em um bar de encontros sexuais gay do Rio de Janeiro. Depois de a polícia praticamente desistir de encontrar o assassino, Vinícius, o irmão da vítima, decide contratar Ítalo, um detetive particular, para solucionar o caso que parece perdido.
A escrita do Aurélio Simões é fácil, o que significa que ela não é totalmente boa nem totalmente ruim. O ponto positivo é que ele não usa muitos artifícios para dificultar o entendimento, transmitindo a informação de maneira instantânea. Foram poucas as vezes que tive que reler frases. O ponto negativo de uma escrita simples é que ela não tem nada memorável. Não vai te fazer desejar avidamente os outros livros do autor sem nem mesmo ler a sinopse. O livro possui alguns erros gramaticais, mas nada tão grave a ponto de prejudicar a leitura. Uma coisa que me incomodou um pouco na escrita do Aurélio é que ele utiliza muitas frases de efeito que parecem coisas ensaiadas, nada naturais. Outra coisa é o uso de expressões clichês, que poderiam ser escritas de outra forma. Ah, uma última coisa que me incomodou na escrita: em vários momentos ela me pareceu uma escrita “robotizada”. Frases curtas e diretas. Até um ponto isso é bom, mas o autor passou do ponto e utilizou parágrafos inteiros assim.
Agora, vamos falar da trama. O início é o mais clichê possível, mas ele se torna muito original em certo ponto — não demora muito, prometo. Imagine só: um caso ignorado pela polícia, e então um familiar da vítima contrata um detetive particular como última esperança. Opa, já vimos isso em algum lugar, não? Entretanto, eu NUNCA poderia imaginar o rumo que a história tomou. Em determinado momento, quando o assassino de Patrick é revelado, tudo muda, tudo gira e você fica sem chão. Ah, e sem fôlego! Confesso que descobri o assassino, não foi nem um pouco difícil, mas acontece que a história não termina aí. Gente, tem tanta coisa para contar depois disso… Tantas coisas que precisam ser reveladas. O descobrimento do assassino é apenas um esquema para iniciar um novo rumo na história.
O livro é narrado em terceira pessoa em todos os momentos, e vai intercalando contando sobre o que acontece com vários personagens. Vários, mesmo. Quase todos, na verdade — se não todos. Isso é muito interessante quando se sabe usar, e o autor ganha vários pontos por isso, porque o modo como ele intercalou as histórias fez com que ela não ficasse cansativa e sem graça. O autor soube revelar a situação aos poucos, de forma que cada vez mais nos sentimos atraídos pela trama. Me lembrou um pouco da Liane Moriarty — um pouquinho, vai —, que intercala pontos de vista para que os leitores nunca se cansem do que está sendo contado. Por falar nisso, faço isso em meus livros também.
É um livro muito bom, que você não consegue largar, mas que peca em alguns momentos que eu preciso dizer. Na minha opinião, o erro mais grave e que ficou quase no livro inteiro foi ter usado o fenômeno deus ex machina, que consiste no uso de um elemento que parece cair do céu para solucionar difíceis situações. No caso desse livro, o autor usou o suborno. Suborno para lá, suborno para cá e facilmente o personagem conseguia o que queria. “Todo o mundo pode ser subornado” pareceu ser o lema do livro. Achei que muitas das situações poderiam ter se resolvido de forma mais complexa que não usasse esse artifício que resolve tudo sem esforço. Outra coisa: me lembrou muito o Raphael Montes (gosto dele, mas nesse caso não é um elogio), que adora subornar policiais-empecilhos nas estradas.
Quem viu as postagens que fiz no Skoob, deve ter reparado que chegou um momento em que eu perdoei o autor por ter usado suborno em várias situações e dei uma estrela. Todavia, o livro continuava apresentando situações assim, então eu devolvi a bendita estrela. No final das contas, dei quatro estrelas ao livro porque ele é muito legal de ser lido. Me entreteve bastante, me prendeu. Vale a pena ler, não acho que vocês vão se arrepender se levarem tudo isso em consideração. Quem aí está disposto a encarar Segredos Sombrios?
site: https://resenhasedicasparaescritoresblog.wordpress.com/2017/06/28/resenha-segredos-sombrios-aurelio-simoes/