Intersecções

Intersecções Cleber Pacheco




Resenhas - Intersecções


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Penalux 03/11/2017

Dois pontos de vista
Duas histórias marcadas por insígnias diferentes, mas que com a participação ativa do leitor, costuram-se. Pedro, nome sugestivo a Pedra, é o par romântico de Margarida, a qual representa a docilidade das flores, sutil.
A obra divide-se entre estes dois olhares, o da pedra e o da flor, e nesta luta entre estes dois opostos, o leitor será convidado a criar sua própria interpretação partindo desta mistura de olhares, que somente são unidos quando interpretados em conjunto, ultrapassando as limitações da subjetividade de cada protagonista, para compreender que a união amorosa de Pedro e Margarida, só é possível no ponto tangente, em que ser pedra, e ser flor, se equilibram.
“Intersecções” destaca-se pela maneira que esta história de amor é contada, ora os gêneros estilísticos se misturam, ora um conto, ora a sutileza da poesia, sempre com a criação das imagens destas duas figuras distintas que algumas vezes se anulam, outras vezes prescindem-se como forças necessárias para a harmonização interior e exterior.
Enquanto em uma estrofe Pedro vai-se representando por suas atividades de força e de resistência, margarida na estrofe posterior, já é apresentada pela leveza das flores, balançando esta dança de ritmo par construído por Cleber Pacheco. De maneira original o autor monta o seu conto partindo das forças polarizadas do amor, representadas pela personalidade do casal, construindo assim, uma interpretação mais abrangente da obra.
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Krishnamurti 15/03/2017

INTERSECÇÕES (Em 4 tempos)
TEMPO 1
A magia da linguagem e o prazer que ela nos oferece quando aliada a uma história muito bem urdida. Esta é a grata surpresa que Cleber Pacheco nos oferece em seu novo livro de ficção INTERSECÇÕES (Editora Penalux, Guaratinguetá – SP, 2016. 94p.). Difícil a classificação quanto ao gênero adotado. Uma prosa poética que se poderia classificar como Novela? Fabula? Romance? ou Contos de fadas? Não deixa de ter um pouco de tudo, muito bem dosado, diga-se, para criar uma narrativa surpreendente, porque originalísssima. Difícil a classificação. E o leitor pego de surpresa ante a habilidade do autor em lidar com a linguagem também não se preocupa com isto. Para quê? Vejamos apenas trechos:
“Está escuro. Há uma bruma que aos poucos vai se dissolvendo”...
“Isto é o alvorecer. Há uma flor e uma rocha. Ambas em silêncio. Após a escuridão, surge um vulto logo à frente: é ele. Ele se sentou sobre a calçada de pedras tortas e amarelas. Dilataram-se suas pupilas e árvores latas torrões e cactos foram todos fluindo para dentro e ali morreram afogados.
Ela está aqui, ela veio. Com suas tripas, suas córneas, seus dentes. Procura a chave. Pode estar debaixo de algum tapete ou sobre o vidro. Sabe apenas que está nalgum canto escondida”.

TEMPO 2 As sintaxes
Entretanto não nos enganemos, nada é gratuito na estrutura narrativa proposta, não há fabulações ingênuas. Os capítulos alternam-se em contar a história e o que vem logo após cada um deles leva sempre o sugestivo título de Sintaxe (parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem), mas também, como que um significado ampliado do que acabou de ser dito. E nessa ampliação novas propostas e novos artifícios lingüísticos se não aprofundam significados, os contornam para direções insuspeitadas, significados que se bifurcam, se ramificam. Exatamente como a vida é, uma surpresa, uma mudança de rumo, uma novidade a cada momento...
TEMPO 3
Uma grande metáfora é proposta. A flor e a pedra (a compulsão e o tato), Margarida e Pedro, desde a infância, de descoberta em descoberta, descobrem-se um ao outro. Seres que se encontram....
“Agora ela diz seu nome. Margarida. Baixa um quase nada as pálpebras e vai levantando-as devagar”.... “Ele vai debulhando a rocha vai deixando pedregulho cascalho. Ele, o menino chamado Pedro”. A “Sintaxe’ deste capítulo é mais um exemplo da capacidade de síntese do autor ao versar, ou versejar o encontro:
“Gostaria de me tornar poliglota.
Preciso conhecer o abecedário.
Criei neologismos.
Inventarei a roda”.
TEMPO 4
“Ela vê o rapaz. Ele vê a moça. Olhos. Eles.
Olham-se e juntos vão subindo, lentamente, os degraus. Giram a maçaneta. Abrem a porta. Há uma certa penumbra. Mover-se de cortinas. Ranger de dobradiças. Em breve adentrarão o recinto. Descobrirão suas entranhas. A porta devagar se move. Eppur si muove”. (frase que segundo a tradição Galileu Galilei pronunciou depois de renegar a visão heliocêntrica do mundo perante o tribunal da Inquisição). E finalmente os capítulos “Dragão e Obelisco”, e “Rosa e Diamante”, e.... só lendo!
Raríssimo momento de encantamento na literatura brasileira contemporânea, que anda eivada de dores, sofrimentos, desamor, violências e desencontros de toda sorte. Entretanto, há na existência, um valor máximo que é este. O ‘encontro’ com o outro. Pedras que se batem se atritam e se lapidam (eu disse se lapidam e não se estraçalham, fazer-se em pedaços com fúria, porque essa escolha, essa prerrogativa, é dada unicamente à espécie humana). Este nosso caminho, esta a nossa sina. A ideia fundamental, assim nos pareceu, que Cleber Pacheco nos lembra com suavidade e doçura. É assim e assim será sempre, nem que para isto tenhamos que lidar com flores azuis de plástico e potes de vidros com brilhos de diamante que as conterão. Com efeito, um livro que nos reconduz ao prazer da leitura num ritmo ágil, nos faz pensar, nos prende e nos faz ler vorazmente para chegar ao belíssimo desfecho. Realmente um achado! Merece nosso caloroso aplauso e leitura atenta!
Livro: Intersecções – Ficção, de Cleber Pacheco. Editora Penalux, Guaratinguetá – SP, 2016. 94p.
ISBN 978-85-5833-108-1
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