Tamirez | @resenhandosonhos 24/04/2017Caraval - Stephanie GarberEsse livro é um daqueles casos onde o limite entre o bom e o ruim está no olhar do leitor. Quando Caraval foi anunciado lá fora, eu fiquei bastante curiosa para conhecer a história e sobre o que ele tratava mas, após a onde da boas resenhas, alguns leitores também tinham pontos não tão positivos a ressaltar. Pra mim, um livro com opiniões positivas e negativas me intriga muito mais do que aqueles que só recebem o hype e nenhuma contra opinião. E, eis que o livro veio parar na minha mão bem antes do imaginado. A Novo Conceito, que publicará o título no Brasil em junho, disponibilizou para os parceiros uma leitura antecipada, para que pudéssemos entrar nesse jogo de forma inesperada e exclusiva, assim como Scarlett e Donatella.
Caraval é um livro que possui uma aura diferente que brincará muito com a imaginação e crença do leitor. Stephanie Garber apresenta um mundo que se assemelha muito à Alice no País das Maravilhas e seus desdobramentos. A "Isla de los Sueños" é um lugar mágico e regido pelo poder de Lenda, um cenário criado especialmente para esse jogo. Quando Scarlett, nossa narradora, entra nesse mundo, a forma como ela se confronta com os elementos é muito parecida com Alice em sua jornada. Há a surpresa inicial e logo após uma aceitação latente, como se aquilo sempre fosse algo parte da realidade.
Não espere aqui muitas explicações sobre o que são as coisas, de onde ela vem, ou que mundo é esse. A autora não se preocupou, pelo menos nesse primeiro livro, a nos conceder lógica, e sim a nos apresentar aquela parte de seu universo, onde roupas se moldam ao corpo e mudam de forma, relógios falam, coisas estranhas acontecem e pessoas mudam rapidamente de roupa, forma e personalidade.
"Não sabia dizer em que momento isto havia acontecido, mas deixara de duvidar da magia."
Toda essa falta de explicação causa uma sensação de mistério constante, que aliada ao desaparecimento de Tella e às regras do jogo, compõem a atmosfera do livro. Lenda nunca foi visto, ele é uma personalidade intrigante, mas monta muito bem seus jogos. Aqueles que adentram o Caraval podem optar por somente assistir ou também correr atrás do prêmio que será concedido a quem seguir todas as pistas e desvendar todos os mistérios. Um desejo. Qualquer coisa que o vencedor desejar. E se há algo que o livro deixa claro desde o início é que as regras desse jogo são bem fora de foco e todos podem ter algo a esconder e a revelar.
Cercada por esse cenário temos Scarlett, uma jovem que viu a mãe ir embora e seu mundo se transformar em um inferno com a supervisão do pai. Depois de tantas surras e ameaças, ela só quer se casar e dar o fora da casa dele, de preferência levando Tella com ela. A jovem é temerosa, correta, anda na linhas e teme tudo que possa prejudicar seus planos. Mas, acima de qualquer coisa, ela ama a irmã e vai correr atrás dela até a encontrar.
Para ajudar na jornada temos Julian, um jovem marinheiro que estava de caso com a irmã e que acabou por se meter no meio da história e indo parar no meio do Caraval com Scarlett. Ele é bonito, e se faz de misterioso, o que obviamente vai gerar um romance na trama. E em um outro lado temos Donatella, aquela que parece ter mais a doar a história, mas que desaparece antes de poder dar um gostinho ao leitor.
Apesar de termos personagens com algumas peculiaridades, todos eles são muito fracos em seu desenvolvimento. Há uma falta imensa de dimensão. Você sabendo o estereótipo do personagem, você sabe exatamente o que ele fará, pois ele nunca sairá do seu papel, nunca surpreenderá com algo fora daquilo, e isso prejudica sim o andamento da história. O romance, coisas que eu não curto muito, acaba por tomar um espaço e tem pouca ou quase nada de química, me fazendo revirar os olhos em vários momentos, principalmente pelo tom em que certas coisas ocorrem.
Há também uma falta de exploração dos demais participantes do Caraval. O que era para ser algo enorme com inúmeras pessoas, acaba virando um jogo entre meia dúzia, já que são somente as mesmas que vemos durante todo o livro e que limitam muito a história. E ai vem o final... muitos e muitos plot twists, dá até uma sensação de não entender direito o que está acontecendo. E é demais. Não de forma positiva.
A autora brinca com a crença do leitor e com a sua boa vontade também. É isso, não, não é isso. Toma isso agora, mas olha só, não é bem isso também. Até que ela desfaz tudo o que de fato era bacana no final, dando uma direção completamente nova aos fatos, mas que não chega a verdadeiramente convencer. Pareceu maquinado demais, trabalhado demais, quando tudo ao nosso redor nesse livro já era assim, ilógico, mágico e sem explicação.
Caraval não foi pra mim um livro sensacional, mas também não achei a história ruim. Acho que sendo esse o primeiro livro da autora, há espaço pra que ela aprenda a conduzir melhor seus personagens e também a narrativa. Todas as semelhanças com a perspectiva de Alice no País das Maravilhas deu um tom especial pro livro e acabou me satisfazendo também por isso.
Há mistério, há suspense, há magia, há algumas cenas surpreendentes e há muito conflito familiar. A relação das irmãs é muito forte, assim como com o pai. E a mãe que abandonou, vocês anotem ai, provavelmente vai dar às caras mais pra frente nessa trama, sendo também uma peça do tabuleiro. Junto a isso há também uma série de problemas, que como já listei e explorei a cima, pesam sim no conceito final da obra. A escrita da autora é leve e descritiva, fazendo com que o leitor consiga visualizar o que é lido. Pra mim o livro fluiu super rápido.
O livro traz uma aura misteriosa com personagens pouco explorados, e em seu mix de confusão, mesmo com os problemas, ganhou meu voto de confiança para sua continuação. Há um número enorme de possibilidades a serem exploradas dentro dessa história e fiquei curiosa sim pra saber onde Stephanie Garber vai nos levar mais a frente.
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