Caroline 29/12/2012
Uma verdadeira pequena epifania.
Bom, ler Caio é sempre perfeito, aconchegante. A forma como ele escreve, o jeito como ele transforma o evento cotidiano mais simples em algo grandioso é espetacular. Eu sou uma admiradora do trabalho deste homem que, mesmo no auge de sua doença, mesmo com todos os problemas que enfrentou, não deixou de escrever.
Digo que esse livro valeu todo o esforço para conseguir comprá-lo (o que não foi nada fácil porque não o encontrei em nenhuma livraria, e não tinha estoque em praticamente nenhum site, por não ter sido lançado recentemente). Assim que o peguei e li sua resenha literária que dizia: "Amanhã à meia-noite volto a nascer. Você também. Que seja suave, perfumado nosso parto entre ervas na manjedoura. Que sejamos doces com nossa mãe Gaia, que anda morrendo de morte matada por nós. Façamos um brinde a todas as coisas que o Senhor pôs na Terra para nosso deleite e terror. Brindemos à Vida - talvez seja esse o nome daquele cara, e não o que você imaginou." Logo senti um arrepio percorrer a minha pele e uma ansiedade ainda maior em lê-lo. E não perdi tempo e o devorei, me saboreei de cada crônica, cada palavrinha corretamente utilizada por este sábio que infelizmente não está mais entre nós.
O livro, como qualquer outro, tem sim suas crônicas meio chatinhas, crônicas que você tem que ler uma, duas, três vezes, para realmente entendê-la. Mas mesmo com seus poucos defeitos o livro é realmente muito bom. É como se o autor compreendesse a alma do leitor. Mesmo em contos em que ele mesmo está perdido e confuso em meio ao turbilhão de pensamentos e medos que a descoberta de ser portador do vírus HIV o trouxe, ele consegue lhe passar a paz, o aconchego, o sentimento. Enfim, ele consegue fazer com que você se sinta dentro da crônica, parte dela. E quando ao decorrer do livro você se depara com alguma crônica que te lembra aquela pessoa especial, e que tudo que o autor expressa ali, coincide exatamente com aquilo que você está sentindo, você acaba vendo o Caio como um melhor amigo, aquele amigo que te entende.
E quando digo no título da resenha que o livro é "uma verdadeira pequena epifania", quero dizer que não havia título melhor para o livro do que "Pequenas Epifanias", porque epifania é um termo religioso que designa uma manifestação divina, uma iluminação vinda dos céus, e é exatamente o que o livro é. As crônicas contidas no livro iluminam nossa mente, nos mostrando que não conseguíamos enxergar em nossas vidas e nos fazendo sentir coisas que não acreditávamos ser capaz de sentir. E como as crônicas são pequeninas, 2 ou 3 páginas no máximo, são verdadeiras pequenas epifanias.
Enquanto lia o livro sempre me vinha na cabeça uma frase de Caio, que li certa vez em um blog: "Eu só queria que alguém me amasse pelo que eu escrevo", e sempre que acabava de ler cada uma das crônicas olhava para o céu e dizia: "Sim, Caio. A gente te ama pelo que você escreve." E a cada crônica que eu lia, mais eu amava o danado do homem.
Enfim, é um livro e tanto. Então leiam! Sugiro ler uma crônica por dia, porque assim você pode sentir cada uma delas, refletir sobre o que ela diz. Façam uma boa leitura, se deliciem desse milagre que é o Nosso Caio Fernando Abreu.