Luciano Otaciano 12/01/2021
Livro incrível
Que livro incrível! Comecei a leitura de Um Filho para Mariana sem pretensão nenhuma e, quando menos esperava, já estava encantado pela trama. A escrita da Vanessa possui uma característica que todo romance precisa ter: fluidez. Não adianta negar, às vezes tudo o que queremos é uma história fácil e prazerosa de ler – e é exatamente isso que encontramos na obra! Inicialmente o romance parece ser previsível, e é previsível, contudo ao decorrer das páginas fui surpreendido por encontrar uma leitura dramática e reflexiva. Aqui, além do romance contagiante, discutimos temas importantes como homossexualidade, preconceito, suicídio, aborto e doenças sexualmente transmissíveis. Ou seja, é impossível não se agradar com todas as facetas que essa história esconde, não é mesmo!
O ano é de 1988. Mariana está feliz e casada com Paulo, seu melhor amigo desde a juventude. A jovem teve uma infância pobre e abusiva mas, contra todas as expectativas, conseguiu mudar de vida ao encontrar seu salvador. Ao lado de Paulo ela abandonou os demônios do passado, construiu uma nova família, virou enfermeira, e leva uma vida feliz na capital – a única coisa que ela ainda não tem é um filho. E é aí que o destino resolveu agir. De repente Mariana fica presa em um testamento nada comum no qual precisará engravidar antes do prazo de quinze meses (o que deveria ser fácil, mas não é, pois Paulo não pode ter filhos no momento). E, enquanto decide a melhor maneira de realizar esse sonho, a jovem retorna para sua cidade natal na intenção de enfrentar todas as mágoas que manteve escondidas em seu coração. Partindo dessa premissa Vanessa cria uma obra envolvente, verossímil e muito bem desenvolvida.
Quis manter o suspense com uma sinopse bem simples e que não representa tudo o que esse livro traz. Ainda assim, o mais importante aqui é deixar claro que Mariana é uma mulher forte que passou por várias dores e provações e que, ainda assim, nunca deixou de ter esperança. Seu sonho sempre foi ter um filho e seu marido, mesmo incapaz de ajudá-la diretamente, decidiu embarcar com ela nessa empreitada e fazer esse sonho acontecer (mas pode ter certeza que Paulo prepara algo surpreendente e que nunca iríamos imaginar). Nesse ponto vale dizer que senti na obra algo que me agrada: aquelas artimanhas típicas de novela, ou até menos dos livros da Nora Roberts. Nós sabemos o que vai acontecer e entendemos os motivos por trás de cada artifício usado pelo autor, mas ainda assim não conseguimos deixar de gostar da leitura. O fato é que esse toque de previsibilidade não diminuiu a intensidade do romance, muito pelo contrário, torci muito para que Mariana fosse recompensada e, finalmente, tivesse seu final feliz. Ainda sobre isso é importante dizer que o romance é intenso e previsível é verdade, cheio de paixão e descobertas, e do tipo que cresce no dia a dia, nos momentos compartilhados e, principalmente, nos diálogos. Outro ponto positivo na obra é o fato de o casal conversar, discutir e fazer esforços juntos para superar suas inseguranças, afinal todo casal experiencia inseguranças numa relação conjugal, embora muitos não admitam. Mas o livro vai muito além do drama, das artimanhas e do romance previsível, afinal desde o começo fica claro que a ideia da autora é discutir e quebrar preconceitos. Quando Mariana retorna para sua cidade natal, aquela típica cidade fofoqueira e preconceituosa do interior (não que todas sejam assim), a jovem é constantemente confrontada pelos ideais de pessoas que não entendem ou aceitam o diferente – e isso em 1988, quando os preceitos de certo e errado eram ainda mais duros e grosseiros do que nos dia de hoje. Portanto, o livro fala sobre homofobia, traição, fofoca, aborto, e até mesmo sobre os tabus que giram em torno do sexo. Fala sobre aqueles temas que não se podia discutir abertamente porque a sociedade ditava que era errado, principalmente quando vindos de uma mulher. Sendo assim, me agradei da maneira como Mariana enfrenta as dificuldades da vida no interior de cabeça erguida e, mesmo com sua personalidade mais calma e reservada, não deixa de lutar pelo que acha certo e por aqueles que ama.
O livro é rápido e prazeroso de ler, tem um romance previsível e cativante (e sensual), e aborda temas reflexivos e – infelizmente – reais. Ademais é uma obra que emociona quem lê, e bem escrita também. Minha única ressalva é que a obra tem um público certo: aqueles que amam romances, sejam eles clichês ou não. Digo isso por é importante salientar que o livro tem seus pontos altos e baixos, mas que eles são esquecidos pelo leitor que conhece esse tipo de história e entende que é exatamente assim que ela deve ser: dramática, sensual, reflexiva e um tanto previsível. Então se você gosta de romances fluídos e cativantes, dê uma chance para a escrita da Vanessa, vale muito a pena! Agora se você não gosta desse tipo de leitura, vá com calma, crie poucas expectativas e deixe-se levar pela bela mensagem que a autora quis passar, não se importanto tanto as pequenas falhas existentes no livro. Se recomendo a obra? Claro que sim! Espero que tenham curtido a resenha. Até a próxima!