Romances de Patrick Melrose Volume 2

Romances de Patrick Melrose Volume 2 Edward St. Aubyn




Resenhas - Romances de Patrick Melrose #2


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Daniel 07/08/2019

Pais e Filhos
Este segundo volume dos Romances de Patrick Melrose engloba os dois últimos livros da saga.
Em “O Leite da Mãe” a ação se passa em quatro verões, de 2000 a 2003. Patrick está casado com Mary, tem dois filhos, Robert e Thomas. A mãe dele, Eleanor Melrose, sofreu alguns derrames e está definhando. Há vários conflitos em questão: o ódio e o rancor que Patrick nutre pelo seu pai, que não diminuiu mesmo após a morte deste, e o temor destes sentimentos tão negativos possam influenciar na relação com seus filhos (“ele não conseguia ser o tipo de pai que desejava ser, um homem que transcendera sua desordem ancestral e oferecia aos filhos um amor não assombrado.”); o casamento sem sexo com Mary, depois no nascimento do segundo filho; seu insatisfatório caso extraconjugal com Julia, uma ex namorada; sua raiva e ressentimento contra sua mãe, que a vida toda se mostrou ausente e incapaz de o protegê-lo do seu pai, sempre mais preocupada com os menos favorecidos do mundo do que com o próprio filho. E mesmo doente, ela continua a preterir o filho, entre outras coisas, o deserdando da casa de verão da família em favor da seita de um charlatão, e a angústia principal: colocando nas mãos de Patrick a difícil questão da eutanásia.
Mesmo com temas tão pesados, a escrita de Edward St. Aubyn flui bem, amortecido um humor mordaz e sarcástico. O verão de 2003, passado nos Estados Unidos junto da família rica de Eleanor, mostra que o esnobismo e o egoísmo às vezes só mudam de endereço.

No quinto livro (ou quinta parte), “Enfim”, estamos em 2005, no funeral de Eleanor Melrose. Nesta parte da narrativa o quadro se completa. São preenchidas lacunas das personalidades complexas da família Melrose. Patrick faz uma análise de sua história e da história dos seus pais, e finalmente percebe algo terrível: filhos tristes e traumatizados serão adultos tristes e traumatizados, e se nada for feito, transmitirão esta herança maldita para seus filhos, indefinidamente (diferentemente do dinheiro que, se mal administrado, acaba).

O desfile de personagens interesseiros, debochados, pirados continua... E novamente a presença da Nicholas Pratt rouba todas as cenas em que aparece, com seu terrível sarcasmo.
Acho que o quê de esperança ao final da leitura salvou tudo.

Eu reli estes livros depois de ver o seriado na TV - que é muito bom e imperdível, tanto para quem leu ou não. Eu nem tinha gostado tanto dos livros quando li pela primeira vez em 2017... Mas minha releitura foi ótima! Vi a obra de St. Aubyn com outros olhos. Recomendo.
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Lopes 20/07/2018

| O vácuo entre a palavra e imagem |
Os romances de Patrick Melrose, “Não importa”, “Más notícias”, “Alguma esperança”, “O leite de mãe” e “Enfim”, escritos por Edward St. Aubyn, condensa e evade aquele objetivo ficcional a partir da própria história, chamada por muitos de auto-ficção. Aubyn se auto-interrompe, infringe uma tática muito comum a esse feito literário ao convocar uma voz imperiosa entre ele, Patrick Melrose, e o espaço estruturalmente construído a partir deste personagem. Podendo ser chamada de semi-autobiografia, como muitos preferem, as obras também rompem com aspectos dessa denominação. A linha de raciocínio de Aubyn é desmontar vícios, reais e conceituais, e essa estratégia é o motim desta voz onisciente da obra. Sem ela a criação seria impossível, a vida como ela é não permite enredos, firulas, sentimentos transbordantes. Podemos imaginar a obra sem a vida de Edward St. Aubyn. O autor recorre à literatura, única arte que ampara plenamente uma voz, cedendo realidade ao seu som, a sua vida. A essência destes romances são traumas e destino, que se apoiam quase que magicamente, num perfilhamento entre Shakespeare e Debussy, apresentando as fronteiras emocionais, o vício de drogas e bebidas, a paternidade, família e morte. Como uma espécie de tábula rasa comprometida com o meio, no caso, o declínio da aristocracia - que aqui não exagera e não se transforma em pedantismo elitista -, Patrick Melrose vai suprindo todos os estigmas imorais e emula uma vida repleta de loucuras sociais, que recompensam e desvirtuam seu trauma maior. As drogas funcionam como um modo aleatório de premissas e evocações. Edward St. Aubyn faz um simulacro incondicional da vida de Melrose sem esbarrar no pedantismo, lida com uma linguagem ágil e determinante, levando o leitor até o fim, imageticamente, já que é do leitor a vontade explícita em descobrir vantagens sobre as obras.
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