O Batismo de Sangue (A Casa de Avis Livro 1)

O Batismo de Sangue (A Casa de Avis Livro 1) Marcelo Caldas de Miranda




Resenhas - A Casa de Avis


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Marllon 23/03/2017

A ficção histórica que o Brasil (e Portugal também) merece
O Batismo de Sangue é uma ficção histórica imperdível. E, embora a história desse primeiro livro por si já proporcione aventuras para deixar qualquer um satisfeito, o leitor provavelmente vai ansiar por mais. A ótima notícia é que o livro é parte de uma trilogia chamada A Casa de Avis, que se completa com Os Canhões de Samorim e A Traição de Azamor (ainda não publicado).

Antes de continuar falando do livro, gostaria de fazer um teste com quem estiver lendo este texto. Pense num autor de ficção histórica. Pensou no Cornwell? No Conn Iggulden? Se sim, boas referências. Mas agora pense num autor brasileiro. Difícil, não é? Só isso já é um bom motivo para conhecer autores como o Marcelo Mússuri. Mas, claro, só a vontade de prestigiar os escritores do cenário nacional não pode ser motivo suficiente para escolher um livro. Por isso acredito que este texto possa ser útil a quem se interessar por esse romance histórico.

O primeiro ponto a se levantar deve ser a ambientação do enredo. O Batismo de Sangue abrange principalmente o período das Grandes Navegações (séc. XV e séc. XVI), o auge do Império Português e um dos marcos mais importantes da história da humanidade. Sim, não estou exagerando. Afinal, é quando começa o que chamamos hoje de Globalização. Foram eventos que mudaram radicalmente os sistemas econômicos e sociais do planeta e, consequentemente, nossa forma de ver o mundo e se relacionar com as pessoas. E isso acaba por ter relação direta com o Brasil. Marcelo Mússuri devia saber muito bem da ousadia, do risco que era tratar de um período tão rico e complexo num romance. Mas surpreende ao mostrar um conhecimento histórico tão firme e uma trama que consegue compreender diversos pontos de vistas e lugares de forma fluida e competente. Nós realmente sentimos que estamos vivendo a vida daqueles personagens naquele período.

E, por falar em personagens, esse é outro fator que faz desse livro especial. É bem sabido que muitos autores de ficção histórica falham justamente quando precisam deixar o conhecimento histórico de lado e tratar de pessoas, o que não acontece no texto em questão. Até mesmo os personagens mais secundários apresentam backgrounds interessantes e coerentes. O autor optou por usar uma perspectiva narrativa onisciente, assim nos permitindo criar intimidade com os personagens com mais facilidade. Como não daria para dedicar capítulos inteiros a cada um deles, deixar-nos saber o que pensam foi uma opção bastante inteligente. Ainda sobre os personagens, não só a verossimilhança deles impressiona, mas também a diversidade. Criamos aqui interesse por nobres, plebeus, europeus, africanos, reis, marinheiros. E o mais importante, todos eles pensam e agem como homens e mulheres do período em que vivem! Nós não temos nesse livro aquele incômodo tão frequente de pessoas do passado agindo como homens da nossa época.

O livro nos surpreende a todo tempo. Uma das coisas que mais achei divertida foi como o autor apresenta velhos conhecidos nossos, como Cabral, aquele mesmo que supostamente descobriu o Brasil. Levando em consideração ainda o que disse no final do parágrafo acima, eu fui surpreendido e maravilhado justamente por ver esses personagens como pessoas reais e coerentes a sua época, diferentes de como fui levado a imaginá-los a vida toda. Isso me leva a outra característica marcante do romance: não há heróis nem vilões, há simplesmente pessoas em posições diferentes e com interesses diversos.

Tenho que falar também do que talvez seja a parte mais importante: o trabalho com o texto. Marcelo Mússuri não só fez uma pesquisa profunda sobre o tema que aborda, mas também mostra que tem domínio sobre o que escreve, conhece bem as técnicas narrativas. O texto tem uma fluidez rara para tanto conteúdo. Mas não quero falar só do ritmo, pois o que mais me impressionou foi o lirismo, sobretudo nas descrições. Às vezes eu não acreditava que poderia haver tanta poesia numa decapitação ou num banho de sangue no meio de uma batalha. Leia apenas o prólogo e diga se não tenho razão.

Marcelo Mússuri é um autor que fez sua estreia em grande nível e veio pra ficar. Espero que ele traga mais novidades em breve. Mais que isso, espero que o exemplo dele inspire outros autores brasileiros. A batalha é grande, mas, se mais autores com tanta qualidade insistirem em seu sonho, as editoras vão ter que olhar para a ficção histórica que é produzida no Brasil, que em nada perde para as estrangeiras.
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