Aline T.K.M. | @aline_tkm 11/10/2014De utilidade públicaPoucas vezes um livro de não ficção foi tão importante para minha vida como O corpo tem suas razões.
Fui conquistada desde a introdução do livro, que prepara muito bem o leitor para a avalanche de informações e orientações que encontrará no decorrer das páginas. A partir das experiências da autora, começamos a entender a importância de ouvir o que o corpo tem a dizer, para que seja possível libertá-lo e passar a ser dono de verdade dele.
Além da tomada de consciência do corpo e dos sinais emitidos por ele, entendemos que as deformidades e dores das quais sofremos nos são, muitas vezes, impostas por nós mesmos sem que tenhamos plena consciência disso.
Com clareza e objetividade máximas, a narrativa nos conduz através da ideia de que é preciso aprender a olhar o corpo como uma unidade, um todo, em detrimento da visão fragmentada que fomos acostumados a vida toda a ter. Visão que, inclusive, muitos médicos e profissionais da saúde ainda carregam.
Uma das partes fundamentais do livro é o capítulo dedicado ao método de Françoise Mézières, que é o oposto de todas as ideias sobre saúde e doença, de todas as técnicas oficialmente entronizadas. Considerada revolucionária, ela diz que a origem do problema travas, bloqueios não está no local do sintoma. Todos os males viriam da ação forte que os músculos posteriores fracos têm de exercer a fim de sustentar a coluna vertebral. E ainda, que os músculos seriam os responsáveis pelas deformações dos ossos e articulações (salvo as fraturas e o que é congênito). Mas a questão não é a insuficiência muscular, e sim o excesso de força da musculatura posterior. É preciso soltar esses músculos!
Mézières sustenta que a única morfologia normal é a morfologia perfeita, referente à relação das proporções entre as partes do corpo, tal como são caracterizadas as esculturas gregas do período clássico. Ao expressar a perfeita saúde do indivíduo, para os gregos não era possível ter beleza sem saúde. E não podia haver saúde sem a beleza das justas proporções.
Particularmente, gostei muito da breve mas importante incursão na relação entre a psicologia e o corpo. Assuntos como a sexualidade e a entrega ao outro são abordados, e encontramos referências a Wilhelm Reich. Agradou-me igualmente toda a parte em que se fala sobre a circulação da energia no corpo. Aí entram a acupuntura, a auriculoterapia, massagens e afins medicina alternativa, com técnicas que são hoje em dia comprovadas, e muito aprovadas por quem utiliza.
Em adição, o livro traz alguns exercícios de preparação chamados preliminares, movimentos que preparam o corpo a viver plenamente a tal da antiginástica. Movimentos que desenvolvem a inteligência muscular, mas sem o embrutecimento que a ginástica dita tradicional poderia ocasionar.
Quase como um pequeno guia, O corpo tem suas razões orienta-nos a ouvir o que nosso corpo tem a dizer e acredite: ele sempre tem muita coisa para contar. Orienta-nos a libertá-lo das amarras que lhe colocamos desde a infância, visando encontrar o equilíbrio e a perfeita harmonia.
Só que, bem mais do que esperar que a consciência do corpo simplesmente aconteça, devemos buscá-la, ir atrás dela. E isso a autora deixa muito claro, enquanto nos alerta: a consciência do corpo não se dá. Não há movimento nem método que a conceda. A consciência do corpo, conquista-se. É de quem resolve procurá-la.
LEIA PORQUE...
Não seria exagero dizer que esse livro é item de utilidade pública tomar consciência do próprio corpo é tarefa essencial para todo e qualquer indivíduo e merece que o tenhamos como um valioso complemento à vida tão corrida que levamos.
DA EXPERIÊNCIA...
Na realidade, O corpo tem suas razões é uma das leituras que tive de fazer para o curso técnico de teatro. Não conhecia o livro e, por isso, considerei-o uma grata surpresa.
Leitura das mais relevantes, uma vez que sou o tipo de pessoa que valoriza a qualidade de vida acima de tudo. Além disso, encontrar acupuntura e medicina alternativa no livro fez com que me agradasse ainda mais (fiz acupuntura durante um bom tempo e sempre funcionou incrivelmente bem em mim, daí meu interesse pelo tema).
Uma curiosidade: fui atrás do tema antiginástica e acabei descobrindo que o método de trabalho corporal criado nos anos 70 por Thérèse Bertherat (a autora do livro) continua a ser difundido mundo afora e, inclusive, está presente no Brasil através da Associação Brasileira de Antiginástica. No site deles há um mundo de informações, incluindo listas de profissionais qualificados por região.
FEZ PENSAR EM...
Um livro que há anos tenho vontade de ler: Minha Vida, a autobiografia da bailarina Isadora Duncan (1877-1927).
Uma das precursoras da dança moderna, Isadora propôs uma dança mais livre e intuitiva, que passava longe de todas as imposições do ballet clássico, que ela considerava antinatural. De espírito revolucionário, a bailarina quebrou paradigmas e influenciou a cultura do século 20; também foi uma defensora dos direitos das mulheres.
site:
http://livrolab.blogspot.com