Karine 03/04/2022E se?Como a maioria (acredito eu), conheci a Lionel Shriver lendo “Precisamos falar sobre o Kevin”. Foi um livro muito, muito impactante, não só pela história, que é chocante e sinistra, mas principalmente pela forma como ela escreve e destrincha os pensamentos e sentimentos das personagens... A Lionel é uma daquelas escritoras que muitas vezes diz o óbvio de maneira que a gente se surpreende de nunca ter pensado antes. Ela traduz como ninguém aquilo que a gente não sabe colocar em palavras. Mesmo quando não nos identificamos com a situação ou com a personagem, a gente se vê compreendendo totalmente o que ela está sentindo ou pensando naquele momento.
Então, depois de ler o “... Kevin”, já fiquei ansiosa pra ler outros livros dela. Tempos depois li “Grande irmão” e “Tempo é dinheiro”. A sensação é exatamente a mesma, a escrita maravilhosa está lá. Gostei de ambos, porém as histórias não foram tão impactantes quanto o primeiro. Um pouquinho decepcionante, porque eu estava com grandes expectativas. Mas antes de desistir, resolvi finalmente ler “O mundo pós-aniversário”, que já estava aguardando na minha estante há muito tempo, e dessa vez não me decepcionei.
No livro, Irina tem a oportunidade de trair seu marido, com quem tem há muitos anos um casamento cômodo e monótono. A partir desse momento, ele se desdobra em duas histórias: uma na qual ela decide trair, e outra na qual ela decide permanecer fiel. Todos nós já nos perguntamos como teria sido nossa vida se tivéssemos tomado uma decisão diferente em algum momento crucial. Sempre que os problemas se apresentam, tendemos a achar que a alternativa teria sido melhor. Mas não existe trajetória perfeita, feita só de alegrias e sem sofrimentos. Quando se trata de relacionamentos amorosos, então... Todos têm seus problemas. Conforme lia a história em que Irina ficava com o amante, sentia pena do marido, e muitas vezes raiva do amante. Já quando a história mudava para aquela em que ela ficava com o marido, ele que me dava nos nervos, e seguidamente pensava que merecia ter sido largado. Da mesma forma, houve momentos felizes com ambos, em que a escolha pareceu a mais acertada. Então, a ideia toda é: não importa como teria sido, com certeza não teria sido melhor ou pior, apenas diferente. A melhor escolha é ficar em paz com nossas decisões.