Pâmela. 19/05/2021
O livro tem bons pontos. A descrição da Operação Mãos Limpas é muito bem feita, é bastante instrutiva. Há cuidado na busca de fontes diversas, e a visão ampla que ele apresenta da operação realmente funciona para informar os leitores o suficiente para que sejam capazes de formar seus próprios juízos, ainda que o autor tenha um ponto claro de defesa da operação.
Mas na parte sobre o Brasil o livro envelheceu muitíssimo mal! Primeiro, há uma defesa aberta do juiz Sérgio Moro que chega a ser constrangedora depois da Vaza Jato. Depois, há uma defesa explícita e quase cega do Ministério Público no caso, e a Vaza Jato e as mensagens do Dallagnol também tornam essa defesa muito questionável. Até mesmo a tentativa de trazer a leitura que Ferrajoli fez sobre as Mãos Limpas para a Lava Jato envelheceu mal, já que o autor vem dando entrevistas dizendo que a Lava Jato é um problema para a democracia brasileira. Sem falar do capítulo em que o autor tenta se aventurar em debates sobre natureza humana, uma salada de autores e citações, uma mistura de ideias que nem se comunicam entre si, enfim, não tem defesa desse capítulo não, é só ruim mesmo.
O que eu acho mais relevante é perceber que houve uma confusão clara entre o trabalho acadêmico, o jornalístico e o panfletário. Como acadêmico, a busca de descrições claras ou de relações de causalidade é minada pela defesa cega da operação e pela falta de um distanciamento histórico mínimo. O autor tentou fazer um trabalho que combina essas três possíveis intenções de um livro de não-ficção e simplesmente falhou em todas elas.
Vale mais como um registro histórico da época, como uma demonstração de como é fundamental não confundir o papel de investigação e persecução penal com o de fazer política. Fazendo política, perdeu toda a profundidade intelectual e acadêmica que acredito que um autor com esse currículo e essa trajetória poderia ter nos brindado.