Gramatura Alta 21/07/2017
BELAS MALDIÇÕES é uma reedição, a décima quarta, de um grande sucesso de Gaiman, desta vez em parceria com Pratchett. Como o livro foi escrito em 1990, ele foi revisto pelos autores e teve alguns detalhes atualizados para os dias de hoje.
A história do demônio Crowley, a serpente que convenceu Adão a morder a maçã, e do anjo celestial Aziraphale, o encarregado dos portões do paraíso, que convivem pacificamente e tentam impedir o fim do mundo por interesses próprios, é recheada de referências, sarcasmo, indiretas, bizarrices, piadas, entre outras muitas coisas, que tornam a leitura uma tarefa prazerosa, mas cansativa.
Cansativa, porque existem muitos personagens, a maioria deles com indicações dúbias de quem são, ou o que fazem, conversas de duplo sentido, referências que se misturam entre a ficção e a realidade, muitos nomes estranhos, etc., obrigando o leitor a uma atenção maior no que está lendo.
Prazerosa pelos mesmos motivos. É impossível não rir e se espantar exatamente com tudo o que está no parágrafo acima. É divertido procurar no texto o que os autores realmente querem dizer, quem realmente são os personagens e o que realmente irá acontecer.
Neil Gaiman e Terry Pratchett nunca disseram quanto cada um escreveu da obra, existem relados diferentes deles mesmos, dependendo da época e dependendo de quem pergunta. O que é igual nas respostas, é que eles trocaram muitas ideias por telefone, criando, aos poucos, todas as sequências da narrativa. Isso, de certa forma, explica um pouco o quanto ela é confusa em certos momentos, e o quanto alguns diálogos acabam se tornando desnecessários para a trama. O que fica parecendo é que os autores estavam se divertindo, fazendo os personagens trocarem ideias que eles mesmo tinham, mas sem ser conclusivo para a história.
Apesar de todo humor negro existente em BELAS MALDIÇÕES, a mensagem final que o livro entrega, independente da religião do leitor, uma vez que os personagens são todos da Bíblia, é universal. O que os autores passam é que uma pessoa não nasce má, ela se torna má, devido a diversos fatores, como sua educação, sua família, seus amigos, o que acontece de ruim com ela, enfim, devido a todas as influências negativas que recaem sobre ela durante a vida. Mesmo o anticristo, alguém que deveria ser o inferno encarnado, como foi criado acidentalmente por uma família de boa índole, se tornou alguém bom. Até seu cachorro, que é uma cria demoníaca, torna-se um animal dócil que conquista o leitor.
BELAS MALDIÇÕES, apesar de possuir vários trechos confusos e cansativos, é uma leitura ímpar, diferente e inspirada, uma crítica sobre nossa sociedade, nossa religião, nossos costumes, nossos preconceitos, nossas esperanças e sobre o quanto somos facilmente influenciáveis.
site: http://www.gettub.com.br/2017/07/belas-maldicoes.html