Alana 01/02/2017O Outro Lado Da HistóriaBiografias não são meu forte. Todas que já tentei ler, de artistas e bandas que gosto, foram abandonadas. Mas existe uma exceção a essa regra: as biografias de John Lennon, ou dos Beatles, como um todo. Não sei explicar ao certo o porquê dessa seletividade - talvez seja devido à excentricidade da vida do Lennon e da jornada da banda - . Enfim, não foi diferente desta vez em que Cynthia Lennon, a primeira esposa - e amor - de John, finalmente ganha voz.
Primeiramente, fiquei instigada em saber a versão da história da esposa que sempre foi deixada em segundo plano. A impressão que eu tinha, antes de ler o seu relato, era de que ela não tinha sido realmente importante na vida de John. E, aqui, descobrimos que, de fato, o buraco é mais embaixo. Cyn participou desde à construção da banda, até sua ascensão e queda. Ela foi o porto seguro e alicerce de John, e por meio de todo amor e sentimentalismo com que ela descreve esses anos de sua relação, é evidente que eles realmente se amaram muito.
Entretanto, algumas coisas me incomodaram: a todo momento Cyn tenta defender atitudes chulas de John para com ela; além disso, por mais que seu apoio e afeto tenha sido essenciais para que seu relacionamento desse certo, Cynthia foi uma namorada e esposa muito submissa, pouco assertiva, e que tentava a qualquer custo agradar ao John, colocando seu próprio bem estar e felicidade de lado.
Por outro lado, tomei suas dores ao ler suas memórias da época em que John a trocou pela Yoko. Se eu ainda tinha alguma dúvida se Yoko realmente foi uma pessoa tão deplorável assim, aqui elas acabaram. Não houve exatamente nada que pudesse me fazer simpatizar com a "japa" . Desde a forma com que ela "roubou" o Lennon da sua primeira família, até a forma com que ela controlava o músico e estimulava a exclusão do seu filho, Julian, da vida do pai (inclusive após a sua morte).
Porém, não é justo eu colocar toda a culpa na Yoko. John ja demonstrava atitudes controversas no começo e durante sua relação com Cynthia, mas depois que conheceu sua segunda mulher, ele realmente mostrou como podia ser uma pessoa medíocre e hipócrita. Senti nojo de sua postura. Repulsa. A forma com que ele jogou a traição na cara da Cyn e a forma com que a tratou depois disso, é indefensável. Não é à toa que a mágoa tenha sido tão palpável nessa parte da leitura. Ele foi um covarde com a própria família.
Mesmo assim, ela termina o livro nos mostrando o quanto ela é capaz de passar por cima de tanta mágoa, pelo bem do seu filho. Ela termina o livro ainda iludida com a possibilidade de que, se o John não tivesse sido assassinado, as coisas poderiam ter mudado: eles poderiam ter voltado a ser amigos, e o John se redimiria dos anos ausentes na vida do filho Julian. Fiquei com a sensação de que ela não aprendeu com tudo o que passou. Pessoas merecem segundas chances, mas ele teve várias e, mesmo assim, as jogou fora. Por que isso mudaria depois de tanto tempo? Nunca saberemos, afinal, se ela estava certa ou não.
Enfim, cada um terá uma visão, experiência de leitura e conclusões diferentes ao ler este livro. Esse foram os sentimentos que eu tive, dentro da minha visão de mundo. Foi uma leitura boa, fácil e que me fez imergir completamente em suas memórias.