desencaixados 08/06/2017
FAVORITEI, AMEI!
Lakeview é uma cidade que funciona como uma máquina, nela todos nascem como robôs e desde pequenos são capacitados para realizar determinada função, tudo é estabelecido a partir de genes que favorecem ao empenho de cada um deles, além disso, os genes influenciam no visual fazendo com que as pessoas nascem exatamente iguais, exatamente como clones. Cada um dos habitantes de Lakeview recebe somente um nome e um número quando é criado, e conforme seu crescimento o número é alterando, assim ajudando a organização e muitas das vezes servindo como identidade — os números indica o ano de cada um.
Dahlia 16 obviamente tem 16 anos e foi criada para ser encaixada na Divisão de Trabalho Profissional e atua na Seção dos Agricultores Hidropônicos — cultivo de planta por meio de água e analisando rigorosamente o pH para o desenvolvimento da mesma —, ela estuda/trabalha junto com outras 20 meninas completamente iguais a ela, mas fora dessa seção havia outras 4.980 clones exercendo outros trabalhos com as mesmas características que Dahlia 16, ao total são 5.000 pessoas fisicamente e funcionalmente iguais, ou não.
Durante uma aula a instrutura percebeu que Dahlia 16 tem um grande dom em controlar o pH das plantações, assim demonstrando mais desempenho que suas iguais. O orgulho é um sentimento que não deve ser demonstrado e nem sentindo entre elas, mas a menina conseguiu controlar, só que algumas regras foram quebradas quando foi convocada para ir ao Departamento de Administração conversar com a administradora da agricultura. Dahlia acaba de ser convidada para ser a futura instrutora da sua área.
A cidade é cheia de regras que nenhum dos habitantes já pensaram em quebrá-las, conversar com uma pessoa diferente de você era uma delas e pela irônica do destino Dahlia não foi capaz de se controlar. Voltando para a aula, ela fica presa dentro do elevador junto com Trigger 17, um cadete que estava bem próximo de passar para o treinamento adulto. Ingenua e não acostumado com o ocorrido Dhalia 16 começa a ficar desesperada e não consegue controlar a voz, mas Trigger conversa com ela fazendo-a ficar tranquila e a partir desse momento uma regra acaba de ser quebrada e um novo sentimento despertado. Em Lakeview quebrar as regras e não andar conforme seus criadores estabeleceram nos genomas é motivo de morte, se um quebra as regras todos iguais são considerados uma anomalia e uma grande ameaça para a cidade, assim concluindo na morte de todos para manter tudo em ordem na perfeita e desenvolvida comunidade.
Inconformada pelo que estava sentindo por Trigger 17, Dhalia passa a viver distraída com os pensamentos longes se perguntando quando reveria o cadete que a ajudou sem pensar nas consequências, mas essas distrações acaba agravando na “vida” social da pobre garota e conforme o desejo de saber mais a atingia, ela procurava saber mais, assim quebrando várias diretrizes. O resultado dessa “rebeldia” é totalmente revelador e da maneira mais rebelde Dahlia 16 consegue quebrar mais regras e descobrir muitas verdades que cegaram todas suas iguais por muito tempo.
"Na verdade, anseio pelo toque de recolher todas as noites, na esperança de sonhas com Trigger 17. Só nos meus sonhos podemos nos encontrar e olhar um pouco para o outro com impunidade. Mas Poppy está tentando ajudar a explicar meu comportamento. (página 39)"
Dezesseis é o lançamento de Junho da Universo dos Livros e foi escrito pela Rachel Vincent. Assim que fiquei sabendo sobre a obra um grande interesse me atingiu com força, principalmente pela frase que tem na capa “Em um mundo em que todas são iguai, ela ousou sair do padrão”, cheguei até fazer uma apresentação do livro no site e disse as minhas expectativas. Com fome de distopia, eu e a Marcella do Instagram Ler_Sim_Ler_Sempre decidimos fazer a leitura juntos, como forma de uma maratona.
Como disse nas minhas expectativas, achei que a obra iria abordar muito sobre o padrão estabelecido pela sociedade, mas infelizmente ou felizmente não foi exatamente isso que encontrei na história. Dezesseis têm várias críticas sociais, mas está longe de criticar os padrões da mídia, então se você teve um grande interesse pela obra pelo mesmo motivo que eu, pare com isso, mas só não pare de ler a resenha, porque eu tenho a certeza que temos motivos importantíssimos para você realizar a leitura da mesma.
Durante a leitura do livro eu consegui assemelhar alguns fatos ocorridos com a Alegoria da Caverna, que é um método filosófico criado pelo filósofo Platão — fala muito sobre você deixar de ser alienado, deixar de acreditar naquilo que você vê e correr atrás das verdades, mas na alegoria as pessoas descobriam a verdades e quando iriam contar para os amigos acabavam sendo mortas, porque seus amigos não acreditavam e avisavam à “força total” — É claro que em Dezesseis não temos esse mito criado por Platão, mas a forma que Dahlia 16 começa a deixar de acreditar na essência daquilo que sempre acreditou acaba sendo muito semelhante ao mito, pois ela aprende muito com Trigger 17 e sempre corre atrás das verdades na prática, mas infelizmente não podia contar para suas amigas, porque qualquer uma delas contariam para a instrutora e resultaria em muita morte.
Rachel Vincent fala muito sobre comemorações e costumes fúteis e sem relevâncias, principalmente sobre festas que envolve bebidas, jogos e comidas sem nenhuma finalidade, para que beber e comer sem estar na hora da refeição? Por que jogar sem nenhuma competição relevante? Esses são alguns exemplos que tenho, podem ser fracos, mas acho que vocês conseguiram entender a mensagem que a autora passou.
"A ideia parece excessiva e supérflua. E evidentemente um desperdício. Pessoas comendo e bebendo fora dos horários de refeições prescritos? E jogando sem nenhum motivo, fora de um dia recreação? Qual é o proposito disso? (página 183)"
"— Se... — Não sei como perguntar o que quero saber. — Se você não pudesse falar com essas meninas, você teria todo esse trabalho? Você infringiria as regras por elas? (página 61)"
Além disso, o contato de Dahlia 16 e Trigger 17 é um grande ponto e o foco da história, é claro, tem um romance que vou falar dele em breve, mas o motivo desse romance que é uma grande crítica que a autora fez, pensem comigo: existem 5 mil pessoas como Dahlia, porque somente ela chamou a atenção dele entre tantas outras? A resposta é óbvia, eles não podiam ter contato, mas através do contato e da forma que a menina pensava e costumava ser que chamou a atenção do cadete, ou seja, aparência, roupa e profissão não são características relevantes para você se apaixonar por uma pessoa, muito pelo contrário, o que a pessoa realmente é não reflete no exterior e sim no interior.
Apesar de muitos pontos positivos eu fiquei um pouco chateado com o romance de Dahlia 16 e Trigger 17, tudo aconteceu muito rápido, eles não se conheciam e foi simplesmente por questão de pouco tempo que o amor domou ambos, fazendo-os iniciarem um relacionamento intenso e muito arriscado. É bem complicado e as vezes chato encontrar isso nas histórias, só que não podemos deixar de analisar os fatos quando apontamos o dedo para argumentar determinada situação. Os dois são jovens que possivelmente nunca tiveram contato com pessoas sem ser seus iguais e na primeira oportunidade acabam cedendo pela curiosidade, e foi exatamente a curiosidade por descobrir mais e mais não só do governo, mas também das sensações que eles acabaram gostando um do outro.
Um ponto muito relevante e cuidadoso que a autora teve foi na hora de escolher o nome dos personagens de Lakeview, pois cada um deles tem o nome que envolve algo da sua área de atuação, como: Dahlia/Dalia são flores que dão em uma planta; Trigger é considerado o gatilho de uma arma. Essas características são de todos — ou quase todos — que moram e foram criados na cidade.
A escrita de Rachel Vincent é simplesmente maravilhosa, ela conseguiu criar uma cidade muito real — desde pequenos somos ensinados a sermos perfeitos para viver em uma sociedade perfeita —, até porque nossa realidade não é nem um pouco diferente de Dahlia 16 e todos os outros de Lakeview. A leitura da obra fluí muito rápido, só fiquei um pouco confuso no início para entender como é dividido a cidade, mas rapidinho eu entendi a divisão e engrenei com tudo.
O livro tem a diagramação padrão da Universo dos Livros, eu não encontrei nenhum erro e achei tudo ótimo para uma leitura confortável e tranquila. A capa do livro condiz muito com a história, ela é uma grande metáfora do que vai acontecer, eu só fiquei enganado com a frase de destaque, mas isso foi pessoal e é como eu sempre falo, não julgue um livro pela capa — sou contraditório, porque vivo fazendo isso, risos.
É muito comum vocês saberem que eu adoro os livros publicados pela Universo dos Livros, Dezesseis também está incluso na minha lista de leituras agradáveis e acabou tornando um dos meus favoritos de 2017. O final da história é totalmente chocante, eu nunca pensei que acabaria da forma que acabou e estou ansiosamente ansioso para ter em mãos a continuação e saber o que aconteceu, é perigoso eu nem dormir direito por causa dessa necessidade de saber mais. Então fica a dica para vocês de uma distopia revolucionária e rica em originalidade.
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