Katja 12/07/2012Sempre tive a imagem de Simone de Beauvoir como uma mulher feita da dureza do aço, independente e que homem nenhum a pudesse dobrar. Uma imagem quase que indissolúvel. Mas hoje, do alto dos meus trinta e alguns, tendo também uma necessidade latente de liberdade, o que nós torna parecidas, pois também me preocupo muito com a questão da mulher na sociedade. Hoje mulher feita sem os arroubos juvenis, consigo enxergar durante a leitura do livro duas Simones.
E se por um lado existia a Simone, dura, engajada, preocupada com sua expansão intelectual e individual, braço direito de uma lenda quanto Sartre e, porque não dizer, sendo sua sombra, por outro lado vemos uma Simone "mulheril", com as mesmas questões que todas nós um dia já passamos. Como confirma a autora:
"Tudo conspirava para fazê-la cair numa armadilha que ela desceria vinte anos mais tarde em ‘O Segundo Sexo’. Havia um capítulo sobre a 'mulher apaixonada', uma mulher para quem o amor é uma fé, que passa a vida esperando, que abandona a sua vida, até o juízo, ou seu homem."
Como todas as mulheres, Simone se sentiu traída, frágil, amor à beira da loucura, se entregou a fantasias. E no decorrer da história que passeia com leveza entre a linguagem da biografia e do romance, havia uma Simone insegura com questões de beleza, ciúmes, infidelidades, perdões, privações e envelhecimento, numa devoção e endeusamento do homem que elegeu sendo o parceiro para toda a vida.
Curioso que esse relacionamento tão aberto beirando entre a liberdade e libertinagem mesmo em se tratando de Sartre e Simone de Beauvoir ainda assim era patriarcal, ainda assim havia concessões por parte dela e nunca por parte dele. Curioso também é que as concessões não eram cobradas, ela se privava de livre e espontânea vontade. Simone em suas relações tanto com Sartre quanto com seus demais amantes (homens) era sempre extremamente passional, porém, esses amores contingentes não poderiam riscar a estrutura de sua relação com Sartre.
Uma verdadeira aula de História, em vários períodos onde as histórias desses dois ícones se cruzam com a história de outros ícones como Albert Camus, Benny Levy, Nelson Algren, entre outros tantos. Delicioso ver que os ídolos são humanos que amam, sofrem, mente, dissimulam, traem como nós meros mortais.