LOHS 14/06/2017
Uma história incrível!
O Protegido, primeiro livro da série Ciclo das Trevas, é um daqueles títulos que desejei por muito, muito, muito tempo. Desde o momento que a DarkSide anunciou o lançamento, eu já estava com brilho nos olhos. Primeiramente, já fico querendo todos os livros dessa editora simplesmente pelo trabalho sensacional de design em cada uma das obras que publicam. Mas, confesso que o que me deixou louca para ler essa história foi a repercussão dos fãs internacionais dessa série.
Acredito que as maiores provas de sucesso da saga são: fóruns de discussão sobre a série, um wiki online sobre o universo criado e fanfics!! A galera simplesmente pirou nessa fantasia dark e eu não podia ver a hora de entrar de cabeça nesse livro.
Escrita pelo americano Peter V. Brett, a série tem quatro livros publicados fora do Brasil, sendo que quinto tem previsão de lançamento para 2017. Já foi traduzida para mais de 30 países, mas por enquanto a DarkSide publicou apenas os dois primeiros títulos da saga, O Protegido e A Lança do Deserto.
Quero aproveitar e deixar aqui um grande parabéns para a DarkSide. Este é um dos livros mais lindos que já tive o prazer de ler! E ainda acompanha uma cartela de tattoos temporárias com os símbolos mágicos apresentados na saga para nossa diversão.
O universo criado por Peter V. Brett nos mostra Thesa, ou o que restou da humanidade. São povoados pequenos e médios separados por distâncias cada vez maiores.
Isso porque demônios, chamados aqui de terraítas, emergem noite após noite para destruir e se alimentar de homens e mulheres. A única proteção descoberta até então são símbolos mágicos que criam escudos e impedem a aproximação desses seres malignos. Até então, nenhuma arma criada pela humanidade foi capaz de ferir e aniquilar esses monstros.
"- A Era da Ciência - disse o menestrel - foi nosso período mais grandioso, mas abrigava nessa grandiosidade nosso maior erro. Alguém aqui consegue me dizer qual foi?
As crianças mais velhas sabiam, mas Keerin sinalizou para eles se segurarem e deixarem que os mais novos respondessem.
- Porque esquecemos a magia - disse Gim Lenhador, limpando o nariz com as costas da mão.
- Muito bem! - disse Keerin, estalando os dedos. - Aprendemos um montão sobre como o mundo funcionava, sobre medicina e máquinas, mas esquecemos da magia e, pior, esquecemos os terraítas. Após três mil anos, ninguém acreditava que eles sequer haviam existido.
- E foi por isso - ele disse, sombrio - que estávamos despreparados quando eles voltaram. Os demônios haviam se multiplicado com o passar dos séculos, até que o mundo se esqueceu deles. Então, trezentos anos atrás, eles emergiram das Profundas numa noite, em número gigantesco, para tomá-lo de volta. Cidades inteiras foram destruídas naquela primeira noite, enquanto os terraítas celebravam seu retorno. Homens revidaram, mas mesmo as grandes armas da Era da Ciência eram uma defesa inútil contra os demônios. A Era da Ciência chegou ao fim e a Era da Destruição se instalou. A Segunda Guerra das Trevas teve início."
p. 55
Nessa triste realidade para os homens, conhecemos primeiramente o pequeno Arlen. Com seu pai e sua mãe, o garoto vivia no Riacho de Tibbet. Cuidava da fazenda da família e ajudava os vizinhos sempre que havia um ataque de terraítas por perto. Mas Arlen não ficava satisfeito com a maneira como vivia se escondendo dentro de casa. O menino acreditava que os homens deveriam lutar e matar os terraítas para poderem finalmente serem homens livres.
Ao conhecer o mensageiro Ragen, o desejo de conhecer as grandes cidades (em comparação ao pequeno povoado que vivia) apenas crescia.
Após um infeliz ataque de terraítas e um desentendimento familiar, Arlen foge e decide ser um homem melhor. Corajoso. Alguém que enfrentará os terraítas. Em uma aventura que quase custa sua vida, Arlen chega até o Forte Miln, onde pretende completar o treinamento para se tornar um mensageiro e conhecer todas as cidades que sobrevivem até hoje. Tudo isso para encontrar os símbolos mágicos perdidos, aqueles que permitem destruir os terraítas.
Em seguida vamos conhecer Leesha, uma jovem da Clareira do Lenhador que está prometida ao charmoso Gared. Vivendo com uma mãe que não a suporta, pois desejava um filho homem, Leesha não vê a hora de sangrar pela primeira vez e assim poder sair de casa com Gared. Só que algumas mentiras vão entrar no seu caminho, tornando a vida da garota muito difícil. E, por conta disso, Leesha se torna aprendiz da curandeira Bruna.
Leesha é extremamente inteligente e está sempre a procura de novos conhecimentos, a garota aprendeu muito bem tudo o que a velha Bruna lhe ensinou. Mas antes de finalizar seu treinamento, Leesha parte para Forte Angiers, onde pretende ajudar uma antiga aluna de Bruna a cuidar de casos difíceis no hospital da cidade.
Por fim, conhecemos o quase bebê Rojer. Seus pais, donos de uma hospedaria em Pontefluente, tinham uma vida confortável e feliz. Mas a chegada do menestrel do duque de Angiers, Arrick, na cidade, marca também um trágico acontecimento. Piter, que era responsável por manter todas as construções da cidade com símbolos mágicos protegidos e renovados, não cumpriu seu dever por conta de futilidades. Assim sendo, o povoado foi completamente destruído. Os únicos sobreviventes foram Arrick e Rojer, que ficaram escondidos durante o ataque.
Anos depois, vivendo em Forte Angiers, Rojer é um aprendiz de menestrel. Arrick, quem o criou, é seu mestre. Mas o alcoolismo do artista faz com ambos vivam praticamente na miséria.
Além disso, durante o ataque em Pontefluente, Rojer perdeu alguns dedos de sua mão e, por isso, não consegue dominar todas as artes de um menestrel, como o malabarismo. Porém, Rojer Faltadedo descobriu um dom ainda melhor: seu talento com a rabeca (parece um violino para nós), que poderá torná-lo um grande menestrel, segundo Arrick.
Entre idas e vindas, os três protagonistas terão seus caminhos cruzados e, juntos, poderão ser a última esperança da humanidade para sobreviver aos terraítas.
Arlen se tornará um mensageiro e viajará o mundo habitado pelos homens. Ele irá até o deserto e ao Forte Krasia, onde homens lutam contra os demônios e as mulheres escondem seus rostos.
Arlen se fortalecerá e criará amigos, mas também será traído e deixado para morrer sozinho no deserto. Ele se tornará um homem diferente, distante, mas com o conhecimento necessário para que a humanidade enfim seja capaz de retalhar os temidos terraítas. Ele se transformará no Protegido.
Leesha será uma grande curandeira, talvez até melhor que Bruna. Ela aprenderá sobre os conhecimentos da ciência perdida, um segredo que sua mestra dividiu apenas com ela.
Mas também carregará grandes traumas. Sua vida não será fácil e, como mulher, é ainda mais difícil estar sempre a salvo. Afinal, homens podem ser tão terríveis quanto terraítas.
"Estou salvando este homem dele mesmo, pensava ela a cada vez que batizava sua comida. Que homem desejava ser um estuprador? Mas a verdade era que sentia pouco remorso. Não tinha prazer em usar suas habilidades para baixar a arma dele, mas lá no fundo havia uma satisfação gélida, como se todas as suas ancestrais através de incontáveis eras, desde que o primeiro homem forçou uma mulher a se deitar com ele, estivessem acenando com a cabeça numa aprovação lúgubre enquanto ela acabava com sua virilidade antes que ele pudesse acabar com sua virgindade."
Leesha, p. 279
Já o adolescente Rojer descobrirá com sua rabeca que, assim como os homens, os terraítas também podem ser afetados pela música. De maneira quase inacreditável, Rojer terá o poder de fazer com que os demônios dancem de acordo com a sua própria música.
O Protegido não é uma leitura alegre. Na maior parte da história, pessoas são mortas e atacadas - por terraítas ou por outros homens. A humanidade está sofrendo o perigo de extinção e poucos são os homens que enxergam o conhecimento como arma, já que a ignorância predomina em todos os lugares.
Além disso - e talvez por isso também -, todos os nossos protagonistas vão sofrer perdas irreparáveis. Cada um terá uma jornada solo, amadurecendo e se tornando alguém necessário ao mundo. E depois, quando se encontrarem, a esperança para a humanidade poderá começar a renascer.
Arlen se tornou um homem que não confia em ninguém. Seu objetivo na vida é matar todos os demônios e livrar a humanidade desse terror. Mas, em sua trajetória de lutas, seu corpo foi alterado tanto externamente quanto internamente, e a cada capítulo que passa ele se sente menos humano e mais próximo das sombras.
É impossível não sentir grande empatia por tudo o que Arlen passou e todas as suas decisões de vida. Arlen é um homem perdido. É poderoso e com conhecimentos importantes para a humanidade, mas no meio do caminho ele esqueceu que o ser humano necessita viver com outros e se relacionar.
As mudanças sofridas durante essa trajetória o impedem de abrir os olhos e perceber como a vida poderia ser ao viver novamente entre iguais.
A verdade é, na minha humilde opinião, que Arlen tem medo de abrir seu coração novamente e depois perder pessoas amadas mais uma vez.
Minha protagonista favorita é Leesha. Ela é uma mulher maravilhosa. Ela é extremamente inteligente e uma pessoa acima dos outros. Não é que ela se ache melhor que os outros. É que ela é melhor que os outros. Mesmo quando outras pessoas fazem maldade com ela, Leesha sofre sozinha. Afinal, “mesmo o pior ser humano é ainda melhor que um terraíta”. Essa garota poderia ter evitado um grande sofrimento para si mesma se utilizasse seus conhecimentos de curandeira e machucasse outros, mas ela não o fez. Simplesmente porque ela é esse tipo de ser humano.
Embora esse livro não seja um romance, estou shippando eternamente Arlen e Leesha porque tenho certeza que ela será o ar fresco e a calmaria que a alma perdida e enlouquecida dele necessita. Simplesmente por ser quem é.
Já o jovem Rojer também não teve uma vida fácil. Embora sua habilidade com a rabeca seja única e incrivelmente poderosa na luta contra os terraítas, ele não percebe o quão importante realmente é. Por não ter todos os dedos em uma mão e não conseguir realizar algumas artes básicas de um menestrel, sempre carregou um complexo de inferioridade.
Rojer perdeu muitas pessoas em sua breve vida, mas não quer perder mais ninguém. Ele também não foi capaz de proteger Leesha, por quem ele nutre uma paixão platônica, e por isso, desde o primeiro encontro com o Protegido, ele decide acompanhar o guerreiro na luta contra os terraítas e se tornar mais forte.
Enfim, O Protegido é muito mais do que essa simples resenha pode retratar.
É uma leitura incrível! Do tipo que faz os leitores amarem e sofrerem junto de cada um desses protagonistas tão bem construídos. Ninguém nessa história é perfeito, todos carregam seus traumas, suas qualidades e seus defeitos. E é isso que os torna mais humanos. É muito fácil se identificar com cada um deles e com a maioria de suas escolhas. Eles acertam e erram, como qualquer um de nós. Mas o que os torna especiais é a coragem de enfrentar os demônios para proteger outros - mesmo quando estão morrendo de medo por dentro.
Foi um prazer imenso acompanhar a jornada de Arlen, Leesha e Rojer. Um daqueles sentimentos que queremos dividir com todos a nossa volta. Então, vá começar essa série para que possamos discutir mais em breve, por favor! ;)
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