Dhiego Morais 18/07/2016O ProtegidoDepois de muito aguardar por este lançamento, finalmente consegui o exemplar de “O Protegido”, de Peter V. Brett. Já não é de hoje que sabemos do trabalho fantástico que a DarkSide Books realiza em suas edições em capa dura. Antes de comentar qualquer coisa sobre a leitura da obra, seria um erro não citar o fascínio e a atração que a edição nacional causou nas pessoas por onde eu andava com o livro nas mãos.
Em “O Protegido”, Thesa está assomada pela escuridão; pelas trevas nas quais os demônios se erguem para assombrar e destroçar a humanidade. A fome dessas criaturas é imensurável, e o terror e o medo não desgrudam das comunidades que ainda resistem. Demônios de fogo, madeira, rocha, vento, areia e água rodeiam todas as cercanias, saindo das Profundas e esperando a oportunidade de capturar suas presas ao cair da noite. E o que poderia impedir a completa aniquilação dos homens diante de criaturas aparentemente imortais? As Proteções — marcas variadas que repelem os demônios, se e somente se, estiverem traçadas e reparadas corretamente; sem falhas. Perdidas no tempo as marcas de combate, as Proteções são a única esperança de sobreviver à noite.
É nesse ambiente hostil que acompanhamos a vida de três personagens distintos: Arlen, Leesha e Rojer. Com idades e histórias particulares, somos levados pela escrita de V. Brett através dos anos, absorvendo a dureza da vida, as tristezas e crueldades de um mundo onde o medo se infiltrou na carne dos homens.
Arlen, um garoto de Riacho de Tibbet, convive em uma família tradicional, que zela pelos cuidados do pôr do sol no que se diz às suas proteções. Após a visita de um mensageiro, descobre que pode haver muito mais fora de seu vilarejo do que aparentava acreditar. Aos poucos ele descobrirá que existe um mal ainda mais poderoso corroendo a humanidade do que as visitas constantes e sangrentas dos demônios.
“Ergueu os olhos e viu as figuras ainda longe da estrada, mas perto o bastante para vê-lo. Ouviu um grito quando o mundo desapareceu na escuridão.”
Leesha é uma garota que, em um primeiro instante, parece ser mais chorona do que corajosa, porém, responsabilidades gigantescas seguirão mudanças constantes em sua vida na Clareira do Lenhador. Personagens como a ervanária Bruna — uma anciã de idade desconhecida — e seus pais, representarão grande parte dos eventos vindouros. Aos poucos, percebe-se um claro amadurecimento da construção da personagem. Além disso, Leesha figurará cenas poderosas e dolorosas, que provarão ao leitor a realidade do mundo criado por V. Brett.
Por último temos Rojer, o mais jovem do trio principal, natural de Pontefluente, um lugarejo dividido pelo Rio Divisor. Junto de um menestrel ele provará o sabor amargo da vida e contracenará o poder da música, portando sua rabeca.
A escrita do autor é cuidadosa e certeira. As quebras temporais que poderiam significar um problema são feitas de maneira hábil e apenas reforçam o amadurecimento e crescimento das personagens. Iniciando a leitura com o trio na infância, terminamos as poucas mais de quinhentas páginas com personagens bem construídos e já adultos. Existe uma carga emocional e trágica que faz com que nos afeiçoemos não apenas à Leesha, Rojer e Arlen, mas também à Bruna, Jaycob e outros mais.
“— Lá vem ele — falou Gaims naquela noite, observando o imenso demônio da rocha erguendo-se do chão. Woron juntou-se ao colega, e os dois observaram da torre de guarda os demônios farejando o chão próximo ao portão. Com um uivo, afastou-se, subindo até o outeiro. Um demônio da chama dançava lá, mas o demônio da rocha lançou-o violentamente para longe, curvando-se baixo no chão para procurar algo.”
Alguns segredos sobre a história de como os demônios vieram ao mundo, de sua biologia e hábitos são contados, mas restam muitos mais a serem descobertos.
A trama é agradável e bem amarrada, de fato. Tudo flui com muita facilidade. É, talvez, o único ponto negativo da obra a falha na revisão do texto traduzido. Os erros se repetem com bastante frequência, o que pode incomodar um pouco. No entanto, não é ponto que impeça a leitura prazerosa de “O Protegido”.
Demônios, batalhas, traições e muitas emoções rondam o primeiro livro do Ciclo. Para aqueles que gostam de tudo isso, este livro é a escolha certa!
“Existe luz na escuridão.”