Daniel 23/05/2017Mal EscritaLi que os autores, para minha surpresa, NÃO SÃO fãs do Caetano Veloso!! Eles simplesmente decidiram escrever uma biografia e escolheram o Caetano como homenageado... Isso talvez explique o tom distanciado e não apaixonado deste livro (e isso, por um lado, pode ser uma coisa boa). Mas o leitor, este sim deverá ser fã do CV. Acredito que este requisito seja essencial para quem iniciar as 500 e tantas páginas sobre a vida do compositor baiano.
O maior problema desta biografia é que grande parte desta história já foi escrita pelo próprio biografado. A infância em Santo Amaro, a adolescência em Salvador, a juventude no Rio de Janeiro como tutor de Maria Bethânia, a prisão em São Paulo, o exílio em Londres e o retorno ao Brasil: tudo isso está escrito de forma infinitamente MELHOR e mais detalhada no livro “VERDADE TROPICAL”. É é interessante notar como fatos que ficaram extremamente emocionantes narrados por Caetano – como o encontro com seu pai ao sair da prisão, ou o primeiro carnaval em Salvador depois do exílio – perdem força nesta biografia.
Esta biografia ganha força a partir do ponto que o Caetano parou: da metade dos anos 70 até os dias atuais. Discos, shows, musas, brigas e confusões com a imprensa, tudo bem explicado e, felizmente, sem tom sensacionalista. Os últimos anos descritos no posfácio me pareceram resumidos demais (o livro ficou na geladeira durante 11 anos, esperando para ser publicado, por causa da polêmica sobre as biografias no Brasil).
Caetano achou esta biografia mal escrita - não sem razão! Bota mal escrita nisso!!! Parafraseando os autores, eles “usaram e abusaram” de frases feitas e expressões como “quem sabe faz ao vivo”, “se a maré não está pra peixe é bom segurar na mão de deus”, dentre tantas outras, e isso de maneira constante e excessiva, ao longo da narrativa. Além, disso, encaixes forçados para citar trechos de letras, como por exemplo: “mergulhe nela com essa força estranha”; ou: “Caetano mostrava suas garras de fera ferida” – que RIDÍCULO, por favor! ; entre tantos outros exemplos que não vale nem a pena ficar reproduzindo aqui... Esse tipo de coisa lembra redação de aluno de curso básico, e empobrece DEMAIS a escrita. Acaba desmerecendo o farto trabalho de pesquisa, o que é uma pena... Mais de cem pessoas próximas a Caetano foram entrevistadas... Com este material bruto em mãos, um bom escritor teria feito um trabalho à altura do biografado.
Mas, pra quem é fã do Caetano: sim, a leitura pode valer a pena.
E no final dá uma vontade DANADA de reler o Verdade Tropical.