Stella F.. 14/02/2023
Beleza no cotidiano
Filandras
Adélia Prado - 2001 / 160 páginas - Civilização Brasileira
Em Filandras, sua estreia, Adélia Prado vai nos apresentar excelentes contos sobre fé, beleza do cotidiano, velhice, agruras do dia a dia de pessoas simples com pequenos ou grandes problemas e suas resoluções, muitas vezes com humor. Conhecemos muitos personagens que se repetem ao longo dos casos que são contados tais como Teodoro, Maria Célia, Clarinda, Sabina, Tio Lute e muitos outros.
Adélia Prado é uma escritora multifacetada: poetisa, contista e romancista. Seus textos são lindos, e nos trazem muitas reflexões e suas frases são tão poéticas que só podemos admirar e falar: Que lindo!
Como li pelo BibliOn (Biblioteca Digital de São Paulo) acabei anotando várias passagens e tirei fotos de alguns trechos interessantes, que me chamaram mais a atenção. Ao lado das minhas anotações estão: Fé, Ótimo, Bom, Bonito, Bem-humorado.
Todos são muito interessantes, mas sempre preferimos uns a outros. Posso citar alguns como: Final Feliz, Grupos de Oração, Lembranças, Perfeições, Desbunde, O almoço, Queijos, Corpo, Olinda, O Cidadão, entre outros.
Em “O Cidadão” um homem simples tenta aprender as manhas da cidade grande e se acha diferente ao se tornar cidadão.
Em “Olinda” uma mulher reclama do marido, que só manda ela fazer bife para ele, enquanto ela, esposa e filhos, não come bife. A patroa fica com pena e dá ovos a ela, porque o marido tranca a geladeira e a televisão.
Em “Jakeline” uma mulher quer provar ao filho quem é seu pai, mas o pai junto com o irmão, advogado a enrola, e tenta suborná-la com cheque. Ela quer justiça, provar que o menino tem um pai.
Temos ainda contos sobre uma doença grave que faz todos darem valor a uma mulher que não se sentia valorizada. Outro vai falar da Dona Doida que aguenta o marido bêbado todos os dias que finge estar sofrendo, e quando chega um compadre, ele rapidinho se levanta da cama e começa a conversar. Uma avó que admira um neto esperto de apenas 3 anos e que corre para a mãe. Uma festa em que um homem é o animador, e que julga a sua mulher e seus hábitos dos quais não gosta, mas ao final da festa, vendo aquelas pessoas que ele também julga, decide que gosta da mulher, mesmo com defeitos, e que vai continuar com ela. E o mais bem-humorado, é o conto que vai falar de uma mulher com um traseiro avantajado, e os efeitos sobre os homens, e essa mesma mulher escolhendo um homem tido como sem atrativos, e ao final, na velhice, ela fica sem o traseiro e seu nome é Oldalisa (velha e sem traseiro) "Acho que não, porque eu procurei o traseiro da Oldalisa e nada de Olda, só mesmo a lisa, magra e murcha."
E uma última citação muito bonita: “Hoje estou melancólica e suspirosa como minha mãe, choveu muito e a água invadiu este porão de lembranças, boiam na enxurrada a caminho do rio. Deixo que naveguem, pois não as perderei. O rio é dentro de mim.” (Lembranças)
Já conhecia Adélia Prado do livro “Quero minha mãe”, mas acho que na época não funcionou. Que bom que agora era a hora certa. Adorei e vou depois conhecer a sua poesia.