Silvio 06/10/2018
Ótima ação, ficção científica mediana
Ao completar 75 anos de uma pacata vida na Terra, John Perry toma uma decisão: ao invés de passar os últimos anos que lhe restam enfrentando a decrepitude, escolhe ter sua consciência transferida para o corpo de um supersoldado das Forças Coloniais de Defesa, pronto para defender as colônias humanas dos vizinhos hostis que habitam nosso canto da galáxia.
A guerra do velho e sua continuação, As brigadas fantasma, traz um vislumbre pouco explorado na ficção científica sobre as possibilidades da tecnologia no campo militar. Ao invés de robôs, clones, sabres de luz ou naves que saltam para o hiperespaço, o foco do escritor John Scalzi se concentra no aperfeiçoamento do corpo humano como arma de combate.
Geneticamente modificado para ficar mais forte, ágil e resistente, com sangue aditivado a nanorrobôs para aumentar a capacidade de regeneração e um supercomputador (brainpal) acoplado ao cérebro para comunicação instantânea em rede, Perry e os soldados das FCD são a única forma de manter a "paz" entre os humanos e seus rivais rraeys, eneshanos e obins.
Talvez por querer priorizar a ação, Scalzi não tenha explorado devidamente os dilemas morais da tecnologia que ele muito habilmente imaginou. A consciência de Perry, assim como a de seus amigos que passaram pela mesma experiência, parece não sofrer alterações após ter sido "transferido" para um novo corpo que, a bem da verdade, pouco tem de humano. Algumas semanas de treinamento ao estilo "marines" são suficientes, já que o novo corpo tem capacidade de aprendizado e adaptação muito mais rápidos.
Já Jared Dirac, personagem principal de As Brigadas Fantasma, é um clone criado a partir de um backup da consciência de um cientista traidor. Apesar do nascimento pouco usual (para dizer o mínimo), ele está pronto para o treinamento assim que é "ativado", como qualquer pessoa que tenha tido um nascimento natural.
É possível argumentar (e talvez esta tenha sido a idéia do escritor) que soldados arriscando o pescoço a cada missão tenham pouco tempo para pensar em dilemas filosóficos. Infelizmente, ao optar por uma boa história de ação, John Scalzi perdeu a oportunidade de produzir uma grande obra de ficção científica.