Resenhas - Uma gozação bem-sucedida

Magasoares 02/02/2020

O mundo é dos espertos, mas nem tanto.
A maneira mais segura de se ser enganado é julgar-se mais esperto do que os outros.
(François La Rochefoucauld) ?

Carol 11/11/2017

Para chegar a algum lugar, deves distanciar-te de ti.
Mario Samigli é um literato de 60 anos, cujo maior sonho é ter reconhecida a qualidade de seu primeiro livro.

Permeado com fábulas acerca da literatura e dos devaneios de um escritor, Uma gozação bem-sucedida narra a brincadeira cruel da qual Samigli é vítima, armada por seu rival Gaia.

Lendo sobre a vida de Svevo, no posfácio escrito por Davi Pessoa, dá pra entender este livro como sendo semi-autobiográfico. O autor, ignorado pela crítica italiana, durante 25 anos absteve-se de escrever: "resignei-me diante de juízo tão unânime (não há unanimidade mais perfeita que a do silêncio)."

Incentivado por James Joyce e outros amigos intelectuais, Svevo volta a escrever e publica seu livro mais conhecido, A Consciência de Zeno, alcançando enfim o almejado reconhecimento da crítica e do público.

É um romance curtinho, quase uma novela. Me apeguei aos personagens e sofri com a tal gozação do título. Recomendo a leitura.

Leila de Carvalho e Gonçalves 09/11/2017

A Presunção Literária
De autoria de Italo Svevo (1861-1928), pseudônimo de Aron Hector Schmitz, ?Uma Gozação Bem-Sucedida? é uma sátira à presunção literária. Publicada postumamente, a novela tem como cenário Trieste, por ocasião da assinatura do Armistício da Primeira Guerra Mundial, que decretou o final do Império Austro-Húngaro e a ocupação da região pelas forças nacionalistas italianas.

Seu protagonista é Mário Samigli, um sessentão vaidoso e fleumático, que trabalha num escritório comercial. Durante a juventude, ele chegou a publicar um romance que, ignorado, julga ser uma obra-prima. Desde então, vem se dedicando a escrever fábulas e quem padece é Giulio, seu irmão mais velho, que sofre de gota e ainda tem de ouvir estas narrativas.

O grande vilão é Enrico Gaia, um caixeiro-viajante e literato frustrado, que, aproveitando-se da vaidade e estultice de Mário, resolve lhe pregar uma peça. De acordo com o título, uma gozação bem-sucedida, resta saber para quem...

Curiosamente, assim como o protagonista, Svevo jamais precisou da literatura para sobreviver. Ainda jovem, trabalhou com o pai e, depois, num banco. Também começou escrevendo livros que praticamente ninguém leu, mas, aos 62 anos, publicou um dos mais importantes romances do século XX: ?A Consciência de Zeno?. Quem o incentivou foi seu professor de inglês, nada mais nada menos do que James Joyce.

Esta é uma edição bilíngue, português e italiano, cuja tradução vem impressa em papel branco e o original, em rosa. A capa com abas foi confeccionada em papel Kraft e o projeto gráfico foi inspirado nas fábulas do protagonista. Para finalizar, cada exemplar é numerado (o meu é 0435/1000) e vem embrulhado para presente. Boa leitura!