A Ferro e Fogo

A Ferro e Fogo Warren Dean




Resenhas - A ferro e fogo


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JPHoppe 30/05/2012

"A Ferro e Fogo" talvez seja, involuntariamente, o livro mais triste que já li. É diferente quando se lê algum romance bem escrito, algum drama, e sente-se vontade de chorar diante das agruras dos personagens. Outra coisa é quando você vê, num desenrolar inevitável rumo à total destruição, causada pelo descaso, ignorância, incompetência, de algo tão belo.

Em suas bem preenchidas meio milhar de páginas, Warren Dean discorre sobre a história de exploração da Mata Atlântica, desde os registros dos primeiros habitantes da Mata Atlântica, chegada dos portugueses e tempos recentes.

Aqui, tem que ficar claro que não é feita uma romantização das atividades indígenas. O método de agricultura itinerante, com queimadas e eventual pousio, apesar com baixo efeito, traz sim alterações significativas na estrutura florestal. Mas, o efeito é irrisório quando comparado com a chegada dos portugueses e eventual Estado brasileiro, com: exploração do pau-brasil, ouro e esmeraldas, cana-de-açúcar e café, além das atividades pecuárias e industriais.

Cada final de capítulo traz a contabilidade do quanto foi perdido. O final não poderia ser mais sombrio. Talvez, a Mata Atlântica esteja perdida para sempre, sendo apenas uma questão de tempo para que a última árvore seja derrubada. Fica, para os outros grandes biomas brasileiros, Floresta Amazônica e Cerrado, o terrível lembrete do que pode acontecer com o uso indevido dos recursos naturais.

Nesses tempos de novos códigos florestais, a leitura do livro é muito necessária.
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Lukita 25/03/2021

Clássico perfeito, Warren Dean minha referência teórica pra sempre!!! Leitura indispensável pra quem trabalha com História Ambiental.
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Inês 31/07/2021

Uma história triste, mas que precisa ser lembrada
Acredito que é impossível ler este livro com indiferença. A história da destruição da Mata Atlântica, que o autor chega a chamar de holocausto, é contada em paralelo com a miséria dos povos que vivem/viviam junto com ela. As atitudes e decisões que levaram ao cenário atual da Mata Atlântica ainda se repentem atualmente, dando uma triste sensação de que o futuro seguirá apenas como uma linha reta e continua de um processo de massacre que vem se extendendo há séculos.

Ler esse livro é extremamente importante para nos fazer ter consciência de uma parte da história que foi seletivamente apagada da memória coletiva. Da natureza que foi cruelmente saqueada, pilhada e que hoje podemos apenas imaginar como poderia ter sido. Me fez pensar muito de como é simbólico ser brasileiro, primeiramente o extrator da planta pau-brasil e em seguida a nossa nacionalidade.
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Marinho 18/10/2012

S.O.S. Mata Atlântica
É através de um tom de lamento que Warren Dean nos relata a triste história da devastação da Mata Atlântica. Este lamento se dá pelo fato de um bioma tão rico e abrangente no território nacional ter sido tão explorado e desprezado ao longo da nossa história, mostrando que a dificuldade humana em equilibrar um desenvolvimento econômico a uma conservação ambiental é um mal cultural de tempos antigos, atrelado à nossa própria ignorância.

À medida em que se aprofunda na leitura, o título do livro vai se justificando. O “ferro” do título remete às primeiras ferramentas de devastação, as primeiras “facas” usadas para mutilar esse ambiente, se intensificando cada vez mais, e servindo de material de escambo com as tribos indígenas, antes que estas . E o “fogo” remete aos piromaníacos coloniais, que faziam uso do argumento de que a queima total de áreas de floresta primária se justificava pelo acumulo de nutrientes no solo para um bom plantio. Em ambos os casos, as técnicas de desmatamento se modernizaram, aumentando a eficiência deste e acelerando a destruição do ecossistema.

Em quinze capítulos, Dean consegue narrar de maneira interdisciplinar a história da Mata Atlântica, passando pela história, biologia, geologia, geografia, sociologia, política, etc..., mostrando que a relevância do problema não é só ambiental, mas também social. No âmbito do interesse econômico, o homem, em sua obsessão de riqueza, acabou travando uma guerra contra a natureza, saindo esta perdedora. Ao contar esta saga, Dean acabou permeando em todos os momentos históricos importantes do país, desde o descobrimento até o fim da ditadura, explicitando que a nossa história foi construída no mesmo local em que outra era destruída, como se a floresta e o homem fossem dois elementos impassíveis de coexistência.

Uma curiosidade revelada por Dean é o fato de que o desequilíbrio ecológico neste bioma causado pela antropização não foi uma consequência exclusiva da ação invasiva dos colonizadores europeus. Mesmo que em menor escala, os imigrantes que viriam a dar origem às tribos indígenas também tiveram sua parte, como por exemplo, na redução das grandes caças. No entanto, é coerente afirmar que a Mata não estaria na situação reduzida dos dias atuais se ela não tivesse sido alvo do sistema capitalista agressivo que os portugueses trouxeram consigo ao aportar em nossas terras. Com o seu senso hegemônico eurocentrista, escravizaram os povos que aqui viviam e das matas retiraram sua fonte de renda, sugando-a sem pudor. Em uma sociedade cuja cultura era regida por dinheiro e religião, era quase lunatismo abordar alguma ideia sobre a conservação do bioma. De fato, com a ciência ainda simplória que existia na época da colonização, não havia como saber a magnitude desta importância de conservar a biodiversidade. Por isso, não houve recato algum por parte dos colonos em derrubar as matas para implementação de monoculturas (inicialmente a cana-de-açúcar; depois, o café) e pecuária. Após séculos de exploração, quando o homem finalmente se deu conta do tamanho erro que tinha cometido, o estrago já havia sido feito.

Antigamente vista como empecilho ao crescimento, hoje vista como uma remanescencia daquilo que outrora fora um paraíso em termos de biodiversidade, a Mata Atlantica protagoniza aquele que pode ter sido o nosso maior erro ambiental durante a nossa história. Representantes da nossa geração conscientes desta problemática correm para salvar o que sobrou da devastação causada por seus antepassados. São os filhos tentando consertar os erros dos pais. Mesmo assim, a cultura de colocar o pilar econômico na frente do ambiental incutiu no pensamento do brasileiro e perdura até hoje na cabeça de muitos, gerando o típico impasse “crescer X conservar”. O próprio Warren Dean fala em um dado momento que isso é uma questão de conscientização educacional, e que a chave para este problema está nas escolas. E importante formar cidadãos que tenham formada essa consciência de conservação para que possam agir em prol quando tiverem a oportunidade. Afinal, a história do livro termina com uma mata atlântica defasada e malcuidada. Mas a história da vida real não acaba. Ela está sendo constantemente reescrita, e cabe a nós, cidadãos brasileiros, decidirmos em como iremos escrevê-la daqui em diante.
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João Claudio 13/10/2016

Obra prima sobre uma barbárie
Esse livro é triste, é muito triste. Mostra detalhadamente como não demos e não damos a mínima para nossas florestas. Desenvolvimento a qualquer custo, miopia do futuro. Pior que a ganância desmedida, somente a boçalidade de nosso povo e governo. Eis uma obra que mostra quão desanimador é pensar em nosso país, seja no passado, presente ou futuro.
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Emanuel 25/10/2016

Resenha Crítica - A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira
Introdução
Dados. O historiador Warren faz constante uso de dados estatísticos, demográficos, topográficos, geográficos e científicos como base para a costura, para a construção de seu texto, que por este mesmo motivo torna-se deliciosamente denso e repleto de informações que exigem do leitor a atenção e por vezes o uso do dicionário, devida a aplicação de termos próprios das ciências da natureza, tais como a Biologia e a Química, seja quando se refere à fauna ou à flora da Mata Atlântica ou quando o autor passa a limpo as consequências do mau uso das terras por parte dos posseiros, dos nativos ou dos fazendeiros, que tanto exploraram as voláteis riquezas provenientes de um solo que se tornaria pobre após constantes queimadas e plantios de culturas exóticas.
Detalhes. O pesquisador Warren Dean valoriza os detalhes, descrições com bases em registros fotográficos aéreos, mapas, matérias jornalísticas escritas e da televisão, fatos históricos, ocupações – quase sempre irregulares – de terrenos, instalação de fábricas, cartas, o clima, a chuva, a cultura, as instituições, as leis, os governantes e seus decretos, os órgãos públicos, as agências ditas reguladoras, os funcionários públicos corruptos, os ambientalistas corajosos, os ambientalistas tecnocratas a serviço do governo e de sua burocracia, entre outras minúcias, não escaparam do olhar crítico, observador e histórico do autor. Construir uma teia encaixando todas essas informações lança uma luz sobre um assunto fantástico, porém pouco difundido, que é a ligação da ação humana com a história e desta com o meio ambiente.
Estado. A todo o momento, o historiador exibe a ação dos homens – que dependiam da natureza – na efetiva destruição daquela que era a provedora motriz de seu sustento. Entretanto, não faz vista grossa para a negligência estatal frente ao desmatamento e completa destruição do ambiente que era hábitat de milhares de espécies que sequer chegaram a ser catalogadas, seja por falta de interesse ou de recursos que proporcionassem as condições necessárias para tal.
O solo, a mata e o homem.
“Quem vier depois que se arranje” é o provérbio brasileiro que o autor escolheu para ilustrar o que estaria por vir em seus relatos. O egoísmo dos colonizadores e a não reflexão dos “donos” de terra a respeito do futuro produtivo de suas paragens chamou a atenção do autor, que salientou, quando falou das madeireiras, já no século XX, que os homens que ganhavam dinheiro com a devastação não estavam preocupados com as consequências negativas da destruição do meio ambiente. Rainol Grecco, quando questionado sobre as consequências do desmatamento, respondeu da seguinte maneira: “A consequência é o lucro” (p. 307). Intenção mais clara, sincera e sucinta, impossível. Porque segundo Warren Dean, o desenvolvimento e o progresso econômicos estavam sempre atrelados às ações de uso irracional dos recursos naturais.
Com muita riqueza, Dean fala com propriedade sobre os biomas brasileiros e os compara com o bioma estudado por ele e que dá o subtítulo à obra aqui resenhada, a Mata Atlântica:
“Áridos e ressecados, tradicionalmente considerados impróprios para agricultura e relegados a um tipo extensivo de pecuária, o cerrado e a caatinga constituem o sertão do Brasil, a antítese da exuberante e verdejante Mata Atlântica” (p. 27).
“Ideias, somente ideias, podem iluminar a escuridão”, nos alertou o austríaco Ludwig von Mises, mas para os exploradores da Mata Atlântica, a única coisa que iluminaria a escuridão seria a abertura de mais uma clareira no meio da floresta. Não conformados com a luz das estrelas, da lua ou do sol, repetiam o cruel ritual de acender fogueiras que dariam, então, início aos catastróficos, destrutivos e inconsequentes incêndios. Pois queimar a mata, além de cultural, era também visto como algo enriquecedor – para o solo –, já que as cinzas das árvores queimadas em contato com a terra desencadeava uma reação química que proporcionava certa abundância de minerais imediatamente necessários para a produção agrícola, mas que depois de algumas safras “cansava” o solo e o deixava pobre, e para complicar ainda mais a situação, a terra nua, em decorrência do desmatamento e do fogo, acabava degradada ainda mais pelas voçorocas, fenômeno geológico que faz com que a terra fique esburacada, improdutiva e esteticamente horrenda. Para o autor, faltava informação e conhecimento àqueles que trabalhavam diretamente com a terra, fator que certamente os deixavam em situação de ignorância em relação às técnicas agrícolas menos destrutivas e mais produtivas a curto e longo prazo. Mas, que exigiam labor diário e empenho no aprendizado de novas formas de plantar, colher e conservar a terra, aplicação de mais horas de trabalho no decorrer de um ano e abrir mão do facílimo ato de tocar fogo na mata para atingir seus desejos, fossem eles por lenha, madeira, liberar áreas para cultivos e ou pecuária ou apenas grilagem, atitude muito comum e muito relatada em toda a obra.
“É difícil dizer se é correto referir-se à Mata Atlântica no tempo presente” (p. 31). Tal afirmação, segundo o autor, tornou-se possível após quinhentos anos de intensa despreocupação com os recursos naturais. Dean, em todos os quinze capítulos de seu livro salienta com base em documentos e dados (pesquisas, porcentagens, estatísticas) o que o estado negligenciou, seja no período colonial, imperial ou já na república: a destruição da mata. Mata esta que seria por vezes motivo de vergonha por parte dos indivíduos oriundos dela, há relatos do historiador em que ele conta aos leitores que um aluno universitário desmentiu um professor que afirmou que ele era “do mato”, o discente disse ao seu mestre que de onde ele se originava, na verdade, já havia chegado o almejado progresso e desenvolvimento, ser “do mato”, aquele mato que proveu o sustento durante seguidas gerações, passava a ser motivação para chacota. O desmatamento estava enraizado até na mentalidade dos homens, não era suficiente cortar as árvores, arrancar qualquer resquício de natureza também fazia parte da ideologia saqueadora que moveu séculos de ações maléficas contra o bioma Mata Atlântica.
“O traço cultural mais importante dos tupis era antropologia. À captura de um inimigo em batalha, seguia-se um elaborado e sádico ritual de execução, muitas vezes na presença de aldeias convidadas. O falecido era então assado na grelha e distribuído entre os presentes. Com isso, acreditavam, os celebrantes assimilavam sua força e destreza. Na verdade, a captura de onças era seguida do mesmo ritual, para obter o mesmo benefício” (p. 49-50). O trecho escrito pelo historiador deixa claro que a fauna sofreu e fora dizimada desde os tupis e que os colonizadores estrangeiros apenas seguiram à risca o manual herdado dos habitantes mais antigos da América portuguesa. Adquirir poderes de caça semelhantes aos de uma onça parecia bastante sedutor para um povo que possuía um traço cultural firmado como caçadores e coletores dentro de uma gigantesca área verde que aparentava ser infinda. Apenas aparentava, já que o próprio Warren Dean levanta o questionamento de ela ainda existe mesmo.
A planta que deu nome ao nosso país “Tratava-se de uma madeira corante chamada ibirapitanga – árvore vermelha – pelos tupis, que com ela coloriam suas fibras de algodão” (...) “os portugueses a chamavam de pau-brasil...” (p. 63). A demanda por esta árvore integrante das florestas brasileiras gerou muita cobiça e os colonizadores europeus armaram os tupis com machados para que eles pudessem pleitear na guerra contra Mata Atlântica.
“Os tupis, portando machados europeus, ou talvez só cortando um anel em torno do tronco e queimando a base das árvores, derrubavam-nas, tiravam-lhes a casca e a cortiça e cortavam o tronco em seções menores” (p. 63). Dean relata o papel dos índios no processo de degradação da mata. Logicamente, a tecnologia utilizada pelos indígenas nos séculos XVI e XVII sequer comparava-se com os métodos de extração da madeira empregados nas décadas de 1960 e 1970 do século XX, que fazia uso de tratores, caminhões e motosserras, porém não apaga a participação daqueles que alguns ambientalistas tanto almejaram defender e poupar da culpa pela devastação, os índios.
O caráter interdisciplinar do estudo de História Ambiental feito por Warren Dean torna singular o livro A ferro e fogo: A história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. Da geologia à política, da biologia à química, da história à geografia, da economia à administração, perpassando pela contabilidade, a abordagem ampla e repleta de informações do escritor oferece aos leitores e estudiosos do assunto enorme arcabouço teórico e referencial, pois a obra conta com mais de sessenta páginas de notas que contém as fontes bibliográficas utilizadas pelo referido historiador que explora ricamente livros, revistas, jornais, arquivos, acervos públicos e privados, relatórios de eventos voltados para o meio ambiente, normas, leis e decretos estatais assim como os resultados de conferências internacionais.
“A ideia de desenvolvimento econômico penetrava a consciência da cidadania, justificando cada ato de governo, e até de ditadura, e de extinção da natureza” (p. 281). Na segunda metade do século XX inúmeros anseios surgiram. O desenvolvimento social cobrava seu preço. A instalação de fábricas, a habitação, o suprimento das necessidades alimentares, a reforma agrária, e as demandas cada vez mais crescentes por energia elétrica vitimaram novamente a Mata Atlântica, pois a construção de usinas hidrelétricas exigia enormes faixas territoriais, e a inundação ocasionadas por suas respectivas barragens afetavam a reprodução e a sobrevivência de espécies de animais silvestres, sem falar nos milhares de árvores sucumbidas pelo motosserra, porque as empresas donas dessas usinas fossem elas do estado ou da iniciativa privada, antes da localidade encher-se d’água, explorava muitos metros cúbicos de madeira.
Segundo o autor, a simples tentativa de tentar conservar a mata era tida, durante o governo militar instaurado em 1964, como ação subversiva e antiprogressista, pois “era impraticável propagar uma ideologia conservacionista sob um regime que suspeitava da ação cívica coletiva, qualquer que fosse sua forma” (p. 283). Desta forma, o Estado não tomava seu posicionamento de proteção à floresta, apesar do discurso em defesa da “soberania nacional”, muito menos permitia organizações civis de fazê-lo, pelo temor que possuíam de que tais ações fossem apenas desculpa para o agrupamento de indivíduos supostamente revolucionários e subversivos.
Apesar do discurso de progresso e avanço econômicos, antigos hábitos que deterioravam ainda mais a Mata Atlântica continuavam em voga. “A lenha continuava a ser consumida mesmo nos fornos dos restaurantes, padarias e pizzarias mais modernos” (p. 288). A floresta primária, geralmente, já tinha sido devastada, a floresta secundaria também, então, esta lenha era retirada de localidades em que o solo já estava bastante desgastado e quase improdutivo, devido aos constantes cortes e recuperações.
Exaurir os recursos naturais, ao que parece, após muitos relatos de Warren Dean, era a missão dos ocupantes daquelas terras. Começavam desmatando para o comércio de madeira, depois para o plantio, depois para a criação de gado, posteriormente para a construção de ferrovias, depois para a instalação de fábricas, e por vezes para tudo isso ao mesmo tempo. Mas a natureza é formada por ciclos, e um fator depende do outro para que ocorra normalmente. Chuvas ácidas, falta de água (secas), geadas, deslizamentos de terra, colheitas fracassadas, solos inférteis, desaparecimento de nascentes de água, sumiço de espécies nativas, ocupação por espécies exóticas e muitos outros pontos negativos da destruição de um ecossistema, no fim das contas, são frutos da ação antrópica no meio ambiente.
Conforme escreveu Warren Dean:
“Está claro que a pecuária e a agricultura extensivas foram as causas predominantes do desaparecimento da Mata Atlântica” (p. 289).
A afirmação acima sintetiza claramente o enredo do livro e as causas da efetiva destruição do bioma.
O autor, com base em inúmeros documentos e estudos a que teve acesso, nos mostra o processo que fez a Mata Atlântica sucumbir aos interesses privados e perante a indiferença do Estado, que pouco operou para evitar a deterioração desse bem natural. Articulações políticas, principalmente após a segunda metade do século XX, contribuíram muito para quase findar o pouco que restara da floresta. Programas de proteção aos parques e reservas ecológicas simplesmente se perderam no emaranhado burocrático e na falta de recursos destinados a este fim: a conservação.
No estado de São Paulo, a reserva do Pontal foi praticamente vendida pelo então governador Adhemar de Barros, que autorizou naquele espaço, que era para ser resguardado pelo poder público, a construção de um ferrovia e a instalação de família imigrantes. Tal atitude era sinal de afago e imensa gratidão que o político sentia pelos prefeitos das cidades do noroeste paulista que haviam apoiado sua candidatura e vitória. Neste caso o toma lá dá cá foi em favor de si, sua parentela e sua prole. Anos depois dessa atitude de ignorar a conservação de uma área verde ele “havia sido eleito senador e seu próprio irmão e seu filho pleiteavam propriedades no Pontal” (p. 296).
Para completar o – mau – exemplo: “Em 1966, Adhemar de Barros, novamente governador, decretou a abolição definitiva da reserva do Pontal” (p. 296).
Este foi apenas um indivíduo que contribui institucionalmente para a degradação da floresta, antes e depois dele muitos outros dominaram a máquina do estado e pouco ou nada fizeram para impedir a destruição da Mata Atlântica, conforme exibiu muito bem em toda sua obra o historiador Warren Dean.
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Lisa Mifarreg 17/08/2022

Esse livro com certeza foi o que mais me deixou triste. E o pior de tudo: são fatos, realidade. Não recomendo a leitura a menos que você queira sofrer.
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LaAla.Iglesias 28/02/2024

A ferro e fogo
A leitura é imprescindível para quem trabalha com meio ambiente. O livro tem uma cronologia muito bem definida desde a invasão do Brasil até tempos mais recentes (década de 90), com um linguajar bem rebuscado. É triste demais o fato da Mata Atlântica ter sido completamente destruída e a maior parte das pessoas, mesmo as que moram na região onde ela ocorre(u), não tem noção do quão magnífica essa floresta já foi e o quão fragmentada e devastada está. E pensar que após explorar cada recurso dessa floresta, já estamos em curso na devastação de outros 2 biomas, Cerrado e Amazônia, mesmo sabendo das terríveis consequências.
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