Vinicius 03/01/2020
Resenha: Minha mãe fazia, de Ana Holanda por Blog Silêncio Contagiante
Olá, contagiantes, tudo bem com vocês?
Depois da última resenha (a qual foi bem dolorida de escrever), trago a vocês uma delícia de resenha (em todos os sentidos). Assim como TCD, Minha mãe fazia também é um projeto que começou na internet. A página no Facebook conta com mais de 20 mil curtidas, contudo, está bem desatualizada atualmente. A idealizadora do projeto é a jornalista Ana Holanda, a qual viaja o país ministrando cursos, workshops e palestras sobre escrita afetiva. Essa modalidade de escrita me chamou muito a atenção, pois nunca tinha parado para pensar sobre esse tipo de escrita e conversei com meus botões se TCD também seria um tipo de escrita afetiva, o que vocês acham?
Em uma entrevista ao programa Manhã Total da TV Paranaíba de Uberlândia – MG, a autora fala um pouco de como foi a concepção do projeto, que partiu da inquietude da mesma de deixar as memórias morrerem. Imagina o seguinte, uma família árabe veio para o Brasil no início do século XX e fez o maior sucesso vendendo esfirras, até que chegou um momento em que esses imigrantes faleceram e a receita morreu com eles. Agora você, leitor, imagina quantas receitas se perderam com seus avós, tios, pais que já faleceram e que vocês amavam. Melhor, que vocês têm memória afetiva pois em algum momento da infância ajudaram essas pessoas na cozinha a fazer a receita e daria tudo para provar aquele sabor tão gostoso de nostalgia. Em Minha mãe fazia, Ana escreve por meio de crônicas essas memórias afetivas com determinados pratos.
O livro é divido em diversas partes, então temos receitas para aquecer a alma, algumas tiradas da gaveta, outras para se fazer para família, para presentear alguém especial e por aí vai. Com textos fáceis e receitas simples, o livro mexeu com todos os meus sentidos possíveis, em trechos como: “Me dá satisfação colocar a massa crua, deixar uma sobra, acrescentar chocolate em pó e mexer” p. 105 eu consegui sentir a força d’eu mexendo com um fouet a massa até ela ficar homogênea. Em uma das crônicas, temos a geleia de Jabuticaba. Quem vos escreve morou parte da vida no centro-oeste do país, especificamente em Goiás. No trecho “Gosto de sentir a fruta explodir na boca, doce, gostosa” p. 138, me levou totalmente para minha infância, quando eu adorava ir para o sítio me acabar de comer jabuticaba, tirando diretamente do pé para minha boca. Ahhhhh, que saudade!!!
Acho que está bem evidente o quanto esse livro mexeu comigo. Em tempos de Fast Food e de aplicativos que de tão diariamente cupons para pedir comida pronta, a arte de cozinhar está cada vez mais perdendo a tradição. As cozinhas de raiz também vêm perdendo espaço para o lado Gourmet muito difundido atualmente. Eu, particularmente, amo de coração comida tradicional brasileira, aquela lá feita na panela de barro/ferro e por gente bem simples. Sofri muito na graduação em gastronomia tendo que gourmetizar o que não deveria ser gourmetizado e acho isso muito triste também. Entretanto, livros como o da Ana demonstram que devemos sim registrar essa sabedoria popular e não deixar se perder. Até o próximo texto.
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