spoiler visualizarThay262 02/10/2023
Respondeu as minhas dúvidas e, na minha opinião, o final é "ok", na medida do possível!!
Eu sei que tem livros, principalmente os bons e enigmáticos, que são capazes de gerar as mais diversas opiniões e fazer com que os leitores interpretem-no cada um a sua maneira, gerando reflexões múltiplas. É o caso desta coleção de livros.
Esses livros do Adams grudaram na minha mente e, embora a maior parte dos livros sejam mergulhados no NONSENSE e eu goste disso, não deixei de buscar um sentido em tudo, uma explicação, algo que elucidaria toda a saga. E eu meio que gostei do final, porque então tudo fez sentido pra mim.
Ok, essa não é uma explicação geral, apenas minha opinião pessoal sobre o final, que eu acho que foi bem coerente e respondeu minhas dúvidas.
****"Atenção: alerta de MEGA SPOILERS de toda a saga, leia por sua própria conta e risco****
OQUE EU MAIS GOSTEI:
1- ALGUNS PERSONAGENS:
Eu particularmente gosto dos personagens Ford, Arthur e Marvin.
—E sim, eu sei que Marvin não aparece neste, mas pra mim isso se explica facilmente: Marvin é um robô depressivo justamente porque apesar de sua grande capacidade operacional, os seres vivos com quem ele convive não ligam para isso. Ao longo dos livros, e neste último, vimos como tratam os robôs, como o Collin, são apenas máquinas usadas e quando não são mais úteis descartáveis. Marvin estava obsoleto no livro anterior e deixou de funcionar permanentemente. E visto que é assim mesmo que tratamos as máquinas, é coerente que ele não apareça neste livro final. Achei que foi mais uma das críticas do autor (nenhum de nós temos um Nokia tijolão, por exemplo, se ficou defasado nós descartamos nossos dispositivos eletrônicos sem dó, sem saudades, desapegamos fácil). Marvin era depressivo justamente porque não davam-no o devido valor nem quando ele era útil, quem dirá a posterior. É trágico, mas eu acho que era bem isso mesmo. Essa é a crítica! Ou pelo menos foi assim que entendi o 'personagem' e a trajetória dele na saga.
— Ford é um personagem bem ousado, excêntrico, sem limites, escrachado, que está sempre levando o leitor a situações inesperadas, ele trás um tom ainda mais imprevisível a trama e gosto disso nele. Não há nada de banal em Ford, é ao mesmo tempo divertido e indiferente, adora uns drinks e boas espaçonaves, curte uma farra, não quer responsabilidade com nada, tá feliz com sua vida de Mochileiro das Galáxias e escritor do Guia ainda que isso coloque-o nas maiores furadas. Ele pode até parecer individualista, e é realmente, em alguns momentos da trama, mas também em outros ele acaba por ser razoável com seus amigos e com oque acredita, isso o torna multifacetado e interessante.
— Arthur é tudo que Ford não é, ele é banal, como ele mesmo disse "sou mais diferenciado que diferente", ele só é diferenciado por causa das loucuras que acontecem na vida dele, de resto ele é muito comum. Ele só quer uma vidinha, ele fica bem desde que tenha uma casa, alguém pra amar e uma fonte de renda qualquer, isso lhe é suficiente. Mas não é isso que ele tem, e mesmo apesar de todas as adversidades insanas ele se mantém resiliente. Ele nunca sabe oque tá acontecendo, é o personagem mais ingênuo, ele não queria que a vida dele fosse pro espaço (literalmente), e por isso está infeliz com todos os infortúnios constante em relação as coisas que lhe acontecem, mas ao mesmo tempo ele quer ajudar sempre que pode e tenta ser prestativo quando solicitado, ele faz oque pode para os outros e para ele mesmo, mesmo que não seja muito. Arthur é leal, é gentil e tem boa índole, ele se preocupa com seus amigos e com Random. Arthur Dent é o típico bom moço bobalhão tentando achar um sentido em meio aos problemas que lhe surgem. Isso faz com que eu goste dele.
2- O FINAL
Os Vogons apesar de desprezíveis, tinham uma característica marcante: a burocracia. Inicialmente eles chegam a Terra para demoli-la porque ali deveria passar uma via espacial. Tecnicamente a Terra não deveria estar ali e é um incomodo que esteja, porque na verdade a Terra é um super computador. Também, ocultamente, havia quem desejava o fim da Terra, os terapeutas dos Vogons, que perceberam que se todos descobrissem a resposta fundamental pra 'Vida, o Universo e tudo mais' eles perderiam seu negócio e sua vasta e altamente lucrativa clientela, daí eles pagam e atribuem a tarefa aos Vogons para demolir a Terra (sob a desculpa de construir um desvio do hiperespaço).
A Terra estava projetada para dar a resposta de 42, e essa resposta estava sendo desenvolvida e estava no DNA dos habitantes. Mais que isso, a Terra estava numa zona de instabilidade que fazia aquela região ter múltiplas versões da Terra em várias dimensões paralelas diferentes (chamada de Zonas Plurais).
Lembre que o ego fez com que perguntassem ao Pensador Profundo 'qual era a resposta' da "vida, do universo e tudo mais" e ele respondeu "42", depois ele justificou que a pergunta era muito vaga, e quando soubessemos a pergunta, então saberíamos a resposta. Assim a Terra não estava programada para dar uma "resposta", e sim uma "pergunta".
Toda a "sequência desnecessária", e cheia de nonsense, que ocorre desde que a Terra de Arthur foi destruída no início do livro 1, parece ser proposital. Programada. E lembre que a Terra estava quase pronta para dar a resposta, antes dos Vogons chegarem.
Tudo aquilo que da a impressão de que o autor estava “enchendo linguiça” para o resto da coleção, todo o nonsense, todas as situações, eram apenas efeito colateral das 'zonas plurais' e que, de todo modo, o super computador chamado Terra, que deveria dar a resposta para 42, estava operando ainda, em todas as sua múltiplas versões paralelas da Terra.
A ideia de Zonas Plurais (mundos paralelos), viagens no tempo, e Improbabilidades Infinitas podem "justificar" todo o nonsense da coleção, por si só. E ainda mostrar como a Terra ainda estava para dar a resposta final! Então, neste último livro, é bem interessante que esteja acontecendo uma "mistureba generalizada de todas as coisas". E então, no finalzinho, perceba que o endereço onde Arthur, Ford e Tricia/ e Trillian estão no final deste livro é justamente número 42 e que Arthur está exatamente no lugar onde sabia que "tudo ia acabar" (StavroMuller Beta), como se seus amigos e a própria Terra já estivessem 'destinados' aquele momento.
E então temos Random (literalmente "Aleatória" em inglês), filha de dois terráqueos que tinham em seu código genético parte da 'resposta à 42', Random, essa que concebida da forma mais louca e improvável, uma adolescente irritante, e curiosamente é ela quem parece fazer a pergunta correta, ela é quase a metáfora de alguém que 'existe' e por isso quer saber 'qual é o seu lugar e onde ela pertence', na língua adolescente de Random: "Onde eu me encaixo?". Ou seja, ela forneceu a pergunta que explicaria a resposta!
Adams escolheu 42 de forma aleatória. Nem ele sabia exatamente porquê, ele escolheu o número que lhe era mais agradável sem pensar na razão disso. Mas isso trás a tona uma coisa, como perguntar "Qual o sentido da vida, do universo e tudo mais", como perguntar algo tão complexo, se não sabemos nem mesmo 'o nosso lugar no universo' e 'onde pertencemos nisso tudo individualmente', 'onde nos encaixamos'?
Obviamente que a resposta é 42, é qualquer coisa aleatória. Porque para pessoas diferentes a resposta será diferente, para um crente a resposta será uma, para um ateu como Adams será outra, para cada um de nós a resposta será divergente. Então é óbvio que a resposta é 42. É qualquer coisa, é oque você quiser que seja, oque você quiser que signifique, desde que você saiba qual é a pergunta!
Então fica explicado porque estava acontecendo uma "Mistureba generalizada de todas as coisas", lembre que o livro diz: "Existe uma teoria que afirma que se alguém descobrir exatamente para que serve o Universo e por que está aqui, ele desaparecerá instantaneamente e será substituído por algo ainda mais bizarro e inexplicável. Alguns dizem que isso já aconteceu".
A Terra cumpriu o propósito a qual estava programada, ela forneceu uma pergunta a resposta.
A vida é curta demais, e pra que serviria saber 'exatamente pra que serve o universo e por que está aqui', se não fosse pra depois saber 'onde nos encaixamos'' nisso tudo???
O Pensador Profundo forneceu a resposta fundamental. Random forneceu a pergunta fundamental. Então tudo desapareceu. Fim do livro. Talvez os Vogons tenham vencido em 'demolir' a Terra. Mas a Terra cumpriu seu propósito antes deles conseguirem. Então talvez o universo tenha sido substituído por algo ainda mais bizarro e inexplicável. ???
CRÍTICAS NEGATIVAS:
1- Querendo ou não, ainda sim, é um fim bem anticlimático. Concorda? Fica um gostinho de 'quero mais'. Fica até aquele desejo de um 'final feliz'. Mas não é isso que temos, a Terra finda seu propósito e é destruída em seguida, os personagens morrem, e ainda que tenhamos a 'pergunta para a resposta', que é até filosófica e reflexiva, ainda sim a saga tem um fim ameno. Um fim agridoce!!!
2- PERSONAGENS QUE ACHEI MAL TRABALHADOS: Zaphod e Trillian. Eu acho ambos muito mal aproveitados! Sério, se alguém entendeu o desenvolvimento deles na trama, por favor me explique. Porque eu terei que ler essa coleção mais umas 5 vezes até ver algo de interessante sobre o desenvolvimento deles.
Ok que a Trillian era necessária para a Random surgir. E que pra isso ela e Arthur tinham que estar no espaço. Eu até perdoo isso. Mas Zaphod e Ford não faziam parte da programação da Terra. Ok, a nave espacial que estavam no começo era a Coração de Ouro (movida a improbabilidade infinita), tá, que uma dessas improbabilidades infinitas era tirar dois terráqueos que, no final, gerariam a pergunta pra resposta. E que improvávelmente TUDO conspirou pra que isso acontecesse. Ok.
Mas eu acredito nisso igual eu acredito no rato que tirou o Homem Formiga do universo Quântico em Vingadores. Sei, era só UMA possibilidade e aconteceu igual o Doutor Strange falou que seria. E assim foi em O Guia do Mochileiro das Galáxias: uma Terra forneceu o Arthur e a Trillian, e em múltiplas probabilidades infinitas eles puderam se levados por Ford e Zaphod, pro espaço, onde tudo aconteceu de forma improvável mais necessária,, pra então no momento certo gerar uma Random, que quando perto da solução de tudo gerasse uma mistureba generalizada, para que numa Terra alternativa, mais ainda sim uma Terra super-computador, essa Random desse a pergunta pra resposta.
Aí aí. E eu achando que Vingadores era difícil de engolir!!
Quatro estrelas para a coleção, é oque dou, e tá de bom tamanho!!! Enfim é isso, gosto muito da coleção, é divertida e nonsense, mas tem uma boa dose de críticas e sátiras que fazem refletir MUITO em todos os livros, é bem excêntrica e diferentona; é uma coleção Praticamente Inofensiva, mas quem se apaixona por ela não tem volta! É amor a primeira loucura e sátira de Adams. Amei!
Foi assim que eu entendi o final. É só minha interpretação pessoal. Tudo bem se você não concordar e ter tirado outras conclusões!!!
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