Jeff.Rodrigues 25/07/2017Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brSempre fico com o pé atrás quando vejo a junção entre autores brasileiros e fantasia, mais precisamente quando estes decidem se utilizar da mitologia britânica e suas incontáveis e ricas lendas e referências históricas. E foi com os dois pés atrás que me aventurei pelas páginas de Alec Dini, do paulista Felipe Pan. Um livro que foi beber na fonte celta, arturiana, e em escritores cujas obras os superaram em fama e vêm atravessando gerações, como T.H. White, autor da série O Único e Eterno Rei, obra definitiva sobre o Rei Arthur. Munido de tão consagradas referências, Felipe Pan soltou sua imaginação e me surpreendeu com uma obra que nada fica a dever ao que de melhor eu já li no gênero fantasia.
Quem me acompanha aqui no site sabe que costumo ser bastante sincero nas resenhas, tanto em elogios quanto críticas, independente de parcerias, e Alec Dini e o Vórtice do Tempo é, sem dúvida, um dos melhores lançamentos da literatura nacional de fantasia desse 2017. Uma obra escrita por alguém com total domínio não só da história que queria contar como de todo aquele universo mitológico britânico que tanto me deixava com receio.
Alec Dini segue a tradição dos livros do gênero de dotar um jovem, órfão, de poderes com os quais não sabe lidar. Soma-se a isso um mundo desconhecido a ser explorado, alguém com profundo conhecimento a servir de guia, vilões interessados nos poderes do jovem e, claro, os melhores amigos a servirem de suporte e ajuda na aventura que virá pela frente. Esse clichê abastece o gênero há muitas décadas e só sobrevive pela capacidade narrativa e imaginativa dos autores de fisgar seus leitores com uma história que realmente valha a pena ser lida. Foi o que F.R. Pan fez.
A viagem no tempo que Alec faz é enriquecida por uma minuciosa descrição de cenários, localidades, referências, junto a uma excelente caracterização de personagens, todos com histórias de vida bem apresentadas e detalhes, segredos e mistérios ainda a serem revelados. As referências externas foram bem colocadas e ficam visíveis para quem já está acostumado ao gênero. E o talento criador do autor é o ponto chave que faz toda a diferença para prender nossa atenção.
As páginas de Alec Dini se sucedem de forma natural. Somos envolvidos pelas descobertas do jovem Alec e vamos junto com ele e seus amigos buscar as respostas. Em nenhum momento temos reviravoltas forçadas ou indícios de fios soltos. A trama é bem amarrada, se sustenta e, independente de ser apresentada como a primeira de uma série, completa seu círculo de começo-meio-fim sem deixar frustrações ou perguntas cruciais no ar. As dúvidas que fiquei, entendi como necessárias para a continuação, mas nada que tenha prejudicado a satisfação da leitura. Digo isso porque acho pretencioso demais projetar séries de livros de fantasia num Brasil que não abre espaço para novos autores da mesma forma como vemos em outros países. Mas Alec Dini se mostra o tipo de história cujas continuações virão de forma natural, simplesmente porque a obra é boa e o autor deixou evidente seu talento para narrar essas aventuras.
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