Leitora Viciada 10/02/2013Eu já havia tentado assistir a adaptação cinematográfica algumas vezes, mas foram sempre tentativas frustradas. Apesar de eu admirar o enorme talento de Hilary Swank, acho que Holly não foi uma boa personagem para ela. Sempre achava todos no filme caricatos, exagerados e forçados. O filme é melodramático demais e tenta encaixar o bom humor sem acertos. Não soube equilibrar os momentos de luto, com a lenta superação da perda e a busca por uma nova felicidade.
Portanto, não nutria muitas expectativas sobre o livro da Cecelia Ahern. Pensava se o livro seria falso como o filme. Foi um tremendo engano! O livro é perfeito, maravilhoso!
Apesar desse casal ser famoso por outras capas (eu já os vi em uma capa estrangeira e não era em P. S. I Love You) eu gostei do resultado. É um dos poucos casos em que ver um casal apaixonado realmente emociona, não é apenas pela moda "Sparks"; essa capa sim possui um significado especial mostrar um casal feliz.
O título é inquestionável: Todas as cartas deixadas por Gerry a Holly possuem esse P. S. Eu te Amo. As letras são em relevo brilhoso e a fonte do título é cursiva. O resultado final parece um título realmente escrito à mão, totalmente de acordo, como se escrito por Gerry. As cartinhas abaixo em transparência complementam muito bem a parte gráfica e a ideia. Internamente o livro é romântico, com enfeites na diagramação. É um livro convidativo.
Ele é dividido em cinquenta e um capítulos e um epílogo.
Pensei em como desgostei do filme e em como o tema da perda de uma pessoa íntima que mora com você mexe comigo, olhei para o casal na capa e criei coragem para lê-lo.
O caso de Gerry é delicado. A forma como ele faleceu é muito triste, ainda mais por ele ser tão jovem e alegre. Ele morreu com o mesmo problema que minha mãe, porém de forma diferente. Então eu já me emocionei muito com isso, porque sei na pele como é ter a pessoa querida sofrendo com aqueles sintomas, aquelas dores. E se eu achava que minha mãe foi embora jovem, com quarenta e sete anos de idade recém-completados, Gerry se foi aos trinta.
A autora não foca nesse sofrimento. Em flashes ela narra algumas situações do momento em que Gerry esteve doente, é nítida a tristeza nas páginas, porém Cecelia não se fixa nessa dor, ela não exagera na dramatização. É como se ela estivesse preservando Holly e Gerry, tentando mostrar dessa fase somente o essencial.
Quando Holly relembra os fatos, a autora mostra mais a rotina do casal. Como foi o relacionamento deles, como era o cotidiano, como eram as brigas bobas e os incontáveis momentos de amor e felicidade. Achei muito bonito o retorno ao passado quando a autora realiza esse procedimento, pois é de forma gradual e lenta.
Apesar de a narrativa focar o presente, a perda de Holly e seu luto por Gerry, a história não é totalmente linear. A cronologia é mantida mês a mês e a cada momento oportuno e acertado a autora encaixa uma lembrança, saudades que Holly sente da vida com Gerry. Sempre de forma bem feita. Não existe um retorno ao passado desnecessário, seja no momento da doença como anterior a isso; todas as lembranças são de grande valia ao desenvolvimento do enredo.
A narrativa em terceira pessoa é outro ponto positivo, focando no ponto de vista de Holly. Se fosse narrado por Holly certamente o livro cairia no dramalhão desnecessário, pois ela está sozinha, deprimida e desorientada.
Mesmo com uma família numerosa e amigos verdadeiros, Holly se sente sozinha. Mesmo com todos tentando ajudá-la e alegrá-la, ela não consegue sair da depressão. Mesmo sabendo o que deve ser feito em cada situação, Holly se perde.
Até receber um pacote deixado por Gerry com dez envelopes, um para cada mês até o término do ano. Holly respeita a orientação de abrir cada envelope no dia primeiro de cada mês. Ela segue as instruções à risca e Gerry, mesmo não estando mais vivo - o motivo de toda a dor de Holly é justamente a única pessoa capaz de ajudá-la na superação da dor, do luto e da depressão.
Essa é a grande ironia da história: Logo quem faleceu e deixou a dor é quem vai ajudar a deprimida a superar isso. Os amigos e familiares ajudam, claro, mas ninguém a conhece tão bem como Gerry conhecia. Ele deixou cartas e planejou um guia para salvar Holly do luto.
A princípio, isso me pareceu meio macabro, um pouco doloroso, mas na realidade é lindo, doce, admirável. A preocupação de Gerry em tentar deixar uma orientação para Holly, e a forma como ela segue de coração e alma cada envelope aberto é fabuloso, embora melancólico.
Ela chega a realizar inúmeras coisas que não deseja, mas que no fim percebe que era necessário; ela faz muitas coisas que ainda não se sentia preparada para fazer, e depois percebe que foi a melhor decisão.
A preocupação do leitor é se Holly conseguirá aprender a viver com a falta de Gerry e seguir sua vida. O que acontecerá com a moça quando todos os envelopes forem abertos, lidos e as instruções seguidas? Será que Holly estará mesmo pronta para viver novamente feliz? Será que Gerry, além de deixar as lembranças de sua vida ao lado de Holly conseguirá depois de falecido ajudar sua amada?
As personagens são reais e complementam bem a trama, seja com suas personalidades diferentes ou com os acontecimentos em suas vidas. Vidas paralelas que não desviam a atenção do tema principal, e sim ajudam a ampliar os horizontes do enredo.
Holly vê que a vida de todos segue sem Gerry, e que a dela é a única que verdadeiramente parece parar sem ele. Ela não consegue ver a felicidade nas vidas ao seu redor. Ela se sente frustrada e egoísta, tenta superar esse detalhe e demonstrar ser uma mulher corajosa, forte e recuperada, quando na verdade ainda possui momentos de desespero.
O que ela demora a perceber é que Gerry faz falta para outras pessoas, não apenas para ela. É claro que ela é a viúva, mas todos sentem a dor da perda, em diferentes níveis.
A autora soube criar a atmosfera das tentativas de superação da perda de forma real e plausível, iniciando com o ápice do luto e fazendo a protagonista ir se acostumando com a falta do marido muito lentamente. Em vários momentos ela sofre com recaídas e de repente se ergue novamente. Entre tropeços e passos firmes Holly vai enfrentando o buraco em seu coração e em sua vida.
Como citei no início dessa resenha, perdi minha mãe com o mesmo problema de Gerry e cinco anos depois o meu pai. Então já passei pela situação de perder um ente querido muito próximo duas vezes, que mora com você, que preenche sua rotina, que cuida de você e sei exatamente como esse processo atinge nosso psicológico e nosso organismo para sempre.
Recuperar a rotina, enfrentar o fato de que a vida continua, mesmo sem aquela pessoa tão essencial para você é uma das coisas mais difíceis desse mundo. Ainda mais quando vemos a pessoa morrer aos poucos, enfraquecer, definhar. Você sente que sobrevive, que existe por obrigação, não se sente com vida. E é difícil ver que a vida de alguém se resume a lembranças e poucos objetos.
A autora foi realista ao mostrar toda a trajetória de superação de Holly, entre lágrimas de sofrimento e saudade e risos de memórias lindas e inesquecíveis.
O luto é superado; cada um da sua forma, em seu momento; mas a saudade é eterna, apenas aprendemos a administrar isso e a seguir com a vida. Nesse livro acompanhamos essa batalha íntima de Holly.
P. S. Eu te Amo é emocionante e diferente porque Holly sofre como tantas pessoas nesse mundo que perdem alguém íntimo, querido, amado e importante, mas possui a ajuda e apoio da própria pessoa que perdeu a vida e a deixou.
O livro emociona, mas também diverte e faz rir. Não é cômica, nem possui humor negro, mas a leitura faz chorar e rir ao mesmo tempo, porque acompanhar a dura jornada de Holly comove em todos os sentidos. Você sente vontade de segurar a mão da moça e ajudá-la; você comemora cada avanço, sorri e segura as lágrimas em vários momentos, lágrimas de felicidade e de tristeza, às vezes tudo misturado.
Refleti muito sobre as minhas perdas e em como eu fiquei me sentindo abandonada e com medo. E eu tinha quase dez anos a menos que Holly quando meu pai se foi e metade de sua idade quando perdi minha mãe. Por outro lado, chorei imaginando o que seria de mim se eu perdesse o meu marido. Não teria a garra que ela tem. Holly acha que não é corajosa, mas ela é da primeira à última página!!
Recomendo o livro para quem busca por uma história real e que apesar do tema ser o luto, o foco é a superação. Não é um drama forçado. É uma bela história de amor, verdadeira e que chega ao fim de forma triste e drástica. Holly demora a perceber que sua perda não é o fim de sua vida.
É uma mudança brusca e Gerry jamais será esquecido ou substituído por outra pessoa. No entanto Holly precisa descobrir que precisa seguir em frente, pelos amigos, pela família, por si própria e por... Gerry!