guibre 25/01/2011
No prefácio deste livro, William Waack afirma que para “o leitor brasileiro, muitas das denúncias contidas no livro vão parecer surpreendentemente fracas. Parte delas se refere a não-observância de regras de segurança e comportamento em empresas industriais, ao não-pagamento integral de encargos e benefícios sociais, às formas precárias de atendimento médico e hospitalar, à exploração incontida de mão-de-obra barata. Para os brasileiros isso não constitui a menor novidade...” (p. 15).
Todavia, mesmo que a absurda indiferença com o ser humano que por vezes se encontra em um trabalho degradante, sem um nível mínimo de salubridade no local, sujeito a todo tipo de exploração por inescrupulosos pareça banal ao “leitor brasileiro”, não tive essa percepção ao ler o livro. As denúncias de Wallraff são fortíssimas, ainda mais, como bem indicou Waack, quando se pensa na realidade alemã, de um estado pretensamente provedor, mas que marginaliza significativa camada social, em cuja composição os estrangeiros destacam-se.
O autor, ao disfarçar-se de turco, entra em contato com toda a exclusão e preconceito incidentes em relação aos estrangeiros desprovidos de recursos materiais, os quais estão presentes na Alemanha simplesmente no intuito de obterem melhores condições de vida. Lá, estão sujeitos a todo tipo de ameaça e desrespeito, sendo manejáveis até mesmo para mortais trabalhos em usinas nucleares problemáticas.
Wallraff não se limita ao mercado do trabalho, estendendo suas “revelações” a Igreja Católica, as indústrias farmacêuticas e até mesmo a funerárias (muito embora, neste último caso, a denúncia da opulência e do aproveitamento econômico da morte alheia pareçam um tanto deslocadas em relação ao tema central do livro).
Através de seu trabalho, o repórter revela, de forma minudente, as conseqüências da marginalização de determinados estratos sociais, privados de quaisquer benefícios do Estado, sujeitos que estão a humilhação e controle de exploradores, que inclusive podem fazer com que sejam simplesmente “despachados” de volta para as suas nações de origem, sem qualquer reconhecimento de suas atividades, negando-lhes inclusive a condição de seres humanos, no intuito de garantir maiores lucros aos donos de empresas e intermediários de mão-de-obra.