Andre Felipe 06/09/2017Derrapa no ciclo de redundâncias presentes na narrativa.Exorcismo, do autor Thomas B. Allen, é um livro sobre o qual tinha minhas desconfianças. Ao começar a lê-lo me deparei com uma escrita fluida e interessante, mas que pecou em sua linha narrativa, perdeu a força na originalidade e se tornou apenas mais uma história de possessão (ainda que tenha como argumento a seu favor, o fato de ao menos essa história, ser a original). A história, narra o drama de um garoto chamado Robbie Mannhem que após a tia, descrita como espiritualista, ter falecido, começa a presenciar junto a sua família fenômenos paranormais e pouco a pouco vai sendo impactado por alguma força estranha. Essa mesma tia, quando viva, presenteou o menino com uma tábua Ouija. Após a situação piorar, a família vai em busca de ajuda e acaba sendo auxiliada por padres, das mais diferentes denominações religiosas, que terão uma longa jornada para ajudarem a família Mannhem até o ultimo recurso: o exorcismo.
HISTÓRIA
A história do livro, apesar de interessante, é a mesma já vista em diversas mídias diferentes. Torci pra achar elementos que ofuscassem a sensação de que já havia visto aquilo em algum lugar. Mas não obtive êxito. Foi previsível e pouco estimulante pra mim. Ainda assim, existiam momentos em que a atmosfera do horror se fazia presente. O diário no qual o livro foi baseado está disponível como uma segunda parte da mesma história. Mas a não ser pelo objetivo de se ter um material completo, insistir na leitura do diário soou meio redundante pra mim, pois é a mesma história. Sendo assim, deixo apenas 2 ** pra história que, apesar de interessante (por ser baseado em fatos reais e a principal origem do plot mundialmente conhecido do livro e filme O Exorcista), não teve nada do que já estamos acostumados a ver.
NARRATIVA:
Guardadas as devidas proporções, houve um início promissor e bem estimulante por parte do Thomas B. Allen. No entanto, a partir do 5ª capítulo, a história começa a se concentrar mais em explicar o quê cada um daqueles padres faziam antes de se depararem com a suspeita de possessão. É compreensível que as explicações do autor forneçam mais profundidade e entendimento sobre quem é cada pessoa que se envolve com o exorcismo. A grande lista de curiosidades que nos são apresentadas, conseguiu me passar bastante conhecimento de práticas e teorias difundidas nesse universo teológico. Talvez tenha sido na apresentação dessas regras e peculiaridades religiosas, logo no início, que o livro tenha mais me agradado: com regras para se definir se alguém está possuído ou não e como se portar diante dessa situação tão complicada. Mas chega uma hora que cansa. O autor conduz a história por um ciclo vicioso que culmina numa narrativa redundante. E antes do fim, ainda somos presenteados com o diário do padre, que serviu de norte para o escritor. A sensação de redundância só aumenta. Dessa forma, chego a conclusão de que Allen poderia ter enxugado um pouco mais a quantidade de páginas. Nota 2 **.
PERSONAGENS :
Antes de tudo, devo comentar que coloquei “PERSONAGENS” logo acima, mas se tratando de um suposto caso real, tenha em mente que aqui todas as pessoas citadas realmente existiram. Outro fato que ainda não havia mencionado é que o nome dos componentes da família foram trocados por um fictício. Dito isso, o objetivo aqui é definir se um elemento tão importante pra leitura quanto os “personagens”, foi apresentado e aprofundado de uma maneira positiva para a leitura. Dito isso, posso afirmar que durante todo o livro não consegui me conectar em momento algum com o personagem do garoto, Robbie Manheim (ou Roland Roe, nome original, segundo dizem). A grande lista de autoridades religiosas que nos são apresentadas, principalmente os mais ativos no processo do exorcismo, são apresentados com bastante foco em cada background, mas ainda assim, a conexão com os personagens foi mínima. Talvez os personagens com maior grau de empatia tenha sido o reverendo William S. Bowdern e a mãe do garoto, Phyllis Mannhem. Nota 2 **.
RELEVÂNCIA:
Aqui pode-se inferir a real importância da obra. Ela passa uma mensagem relevante ou ainda, é uma forma de entretenimento eficiente ? A resposta é: em partes. Até certo ponto, a história do livro serviu de base para o livro e filme que revolucionou o gênero do horror. Ainda assim, o livro só veio depois do estrondoso sucesso do filme dirigido por William Friedkin e de alguma maneira transparece ter pegado ponga nesse sucesso para persuadir o público. Por outro lado, a história não tem nada de novo e ainda que seja a origem de tudo, só foic conhecida depois de suas derivações mais famosas. Não li o livro do William Peter Blatty, mas imagino que na ficção a história tenha se saído bem melhor. Pelo fato de ter sido a inspiração por trás de “O Exorcista” e conter o diário no qual Blatty se baseou, dou 3 estrelas ***.
EDIÇÃO:
A edição da Darkside Books, em contraste com a qualidade dos tópicos anteriormente abordados, dá um show a parte. Capa dura, arte de capa bem interessante com um detalhe meio rígido na figura da cruz branca em sua capa. Boa diagramação, fonte e com uma arte belíssima reproduzindo uma tábua ouija na guarda e folha de guarda. Destaque também pra um marcador de brinde em formato de planchette (a pequena paleta que se move sobre o tabuleiro). O visual arrojado e cheio de detalhes minuciosos acabou constatando que o ponto forte do Exorcismo é mesmo a edição. 5 Estrelas *****.
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Exorcismo é um livro interessante pra quem está curioso em saber a origem de um dos maiores sucessos da história do cinema, além de contar com a explicação por trás do que é ou não permitido, tal qual, o processo real em torno de um exorcismo. No entanto, derrapa nas redundâncias presentes na narrativa e foi prejudicado por ter sido lançado depois do filme e livro. Nota: 2,8 (***).