Aione 05/06/2015Meu primeiro contato com a escrita de Marc Levy se deu através da leitura de Tudo aquilo que nunca foi dito, um livro que figura entre os meus favoritos – foi impossível não me encantar pela trama e, principalmente, por sua narrativa intensa, sensível e extremamente fluída. Quando descobri E se fosse verdade…, foi dupla minha vontade de lê-lo, tanto por entrar em contato com mais uma obra do autor quanto por conhecer a história que originou o filme homônimo e que tanto me agradou, estrelado por Reese Witherspoon e Mark Ruffalo.
Em seu livro de estreia, Marc Levy traz a história de Laureen, médica residente que, após sofrer um grave acidente de carro, entra em coma profundo. Seis meses depois, seu apartamento é alugado pelo arquiteto Arthur, e grande é a surpresa de ambos quando ele descobre a alma de Laureen em seu armário: ele, por jamais esperar aquela situação; ela, por ser a primeira vez, desde o acidente, em que alguém é capaz de vê-la, ouvi-la e senti-la.
“- Não existo mais. Posso vê-las, mas isso não me faz nada bem. Talvez o Purgatório seja assim, uma solidão eterna.”
página 71
A originalidade da trama é indiscutível, e Marc Levy tem um jeito único de contá-la. Em minha leitura, pude separar o enredo em três momentos: no primeiro, há um ar leve e divertido permeando os acontecimentos, enquanto Arthur e Laureen tentam se acostumar à nova situação e começam a conhecer um ao outro. Nessa parte, por mais envolvida que eu estivesse, sentia falta da escrita que me arrebatou anteriormente. Depois, na segunda parte, tanto há um aprofundamento nas emoções das personagens quanto há uma importância maior na exploração de Arthur e seu passado, principalmente relacionado à ligação com sua mãe, falecida há muitos anos. Por fim, há uma intensificação no romance, que passa a ser o foco da trama, e pude ter, novamente, o gostinho da bela escrita do autor. De qualquer maneira, embora eu tenha feito tais divisões, elas não são exclusivas de cada parte, sendo possível notar todas as características ao longo de todo o enredo – elas apenas são mais intensificadas nos momentos citados.
A motivação do autor ao escrever E se fosse verdade… foi a de criar um romance que poderia ser lido por seu filho quando esse se tornasse um adulto, e não é difícil concordar que Levy foi feliz em sua intenção. A história, além de cativante, é recheada de belas e reflexivas mensagens, transmitidas ao leitor de forma leve, através de uma leitura gostosa e, ora divertida, ora emocionante, mas sempre envolvente. O autor fala da importância do presente, de valorizarmos as pequenas coisas do dia a dia, da passagem do tempo e do quanto ele pode ser desperdiçado quando indevidamente aproveitado. Fala de grandes amores – entre pais e filhos; entre amantes -, e do significado de verdadeiramente amar, muito mais voltado ao dar do que ao receber.
“Acho que a maior inconsciência do homem é com relação à própria vida. Você se conscientiza agora de tudo isso porque está em perigo de vida e tudo isso faz de você um ser único, alguém que precisa explicitamente de outra pessoa para viver, pois não tem mais escolha. Então, respondendo à pergunta que não para de fazer há dias, se eu não correr o risco, toda essa beleza, toda essa matéria viva estará definitivamente inacessível para você. E, para mim, conseguir te trazer de volta ao mundo me ajuda a dar um sentido à minha vida. Quantas vezes o futuro vai me possibilitar fazer algo essencial?”
páginas 116 e 117
Talvez, por ter sido o primeiro trabalho de Marc Levy, o livro não foi capaz de me arrebatar, como Tudo aquilo que nunca foi dito, mesmo que tenha sido uma leitura proveitosa e bastante apreciada. Foi uma ótima escolha para uma tarde preguiçosa entre cobertores, e indico a obra aos que buscam uma leitura leve e divertida, mas com belas passagens e mensagens, com um romance do tipo suspirante construído ao longo de suas páginas.
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http://minhavidaliteraria.com.br/2015/06/03/livros-na-telona-e-se-fosse-verdade-marc-levy/