O Ministério da Felicidade Absoluta

O Ministério da Felicidade Absoluta Arundhati Roy




Resenhas - O Ministério da Felicidade Absoluta


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Leila 06/01/2023

E eis que eu li o primeiro livro do meu desafio 12 livros para 2023 e já cheguei com os dois pés no peito, rs. Leiturinha difícil e truncada, porque me faltou conhecer mais sobre a Índia e seus conflitos, principalmente o que envolve a Caxemira. O livro é um turbilhão de informações que eu, Leilinha, brasileirinha, leiguinha no quesito história do país em questão boiei em muitos momentos. Todo o mote inicial apresentado sobre o personagem hermafrodita é apenas a ponta do iceberg para desnudar um país mergulhado em muitos preconceitos, muitos conflitos e muitas dores por discriminação. Em contrapartida ao título que faz alusão à felicidade, vemos muitas agruras vividas pelos inúmeros personagens que a autora vai jogando pro leitor (e nós que lutemos, porque teve horas que eu me perguntava de onde tinha saído tal figura?! rs),mas também nos mostra um povo ou uma parte dele muito unida e solidária, pelo menos nesse recorte que a autora traz eu consegui vislumbrar isso (volto a bater na tecla, não conheço nada sobre a Índia para falar com propriedade sobre nada). É um bom livro, mas eu mesma não mergulhei de cabeça tendo aquela empatia como geralmente acontece quando me deparo com personagens sofridos ou situações idem como aqui apresentadas, porque na minha humilde opinião tem informação demaisss e isso acaba atrapalhando o leitor comum. Enfim, missão cumprida! Simbora pro próximo que o ano tá só começando...
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Luiz.Goulart 27/11/2022

Uma ode aos excluídos
O primeiro livro que li da autora e ativista indiana Arundhati Roy foi seu livro de estreia: O Deus das Pequenas Coisas que trata do amor proibido entre pessoas de castas diferentes na Índia. Fiquei tão encantado pela maneira sensível da autora contar a história, que a incluo nos meus livros favoritos da vida toda. A obra deu a Roy o privilégio de ser a primeira pessoa indiana a vencer o Man Booker Prize, a mais importante láurea literária do Reino Unido.

No seu segundo livro, O Ministério da Felicidade Absoluta, Arundhati Roy traça, 20 anos após o sucesso de O Deus das Pequenas Coisas, uma teia intrincada envolvendo Anjun, uma mulher transgênero muçulmana (uma hijra), uma criança abandonada que quer ser chamada de Saddam Hussein e uma jovem arquiteta perseguida pela sua luta pela libertação da Caxemira, entre vários outros personagens interessantíssimos numa ode aos excluídos da Índia, pungente retrato das discriminações e violações de direitos humanos em todos os possíveis e terríveis aspectos do seu país.

Se sua primeira obra, que é o maior best-seller indiano, levou a autora a responder a um processo por “obscenidade”, esse segundo livro lhe rendeu ameaças de morte por retratar criticamente o conflito na Caxemira. Um parlamentar indiano propôs que Roy fosse utilizada pelo exército como escudo humano.
Em um dos trechos, repleto de dolorosa ironia, ela escreve: “Nada assustava mais aqueles assassinos do que a perspectiva de azar. Afinal, era para afastar o azar que os dedos a segurar espadas cortantes estavam cobertos de pedras da sorte e que os pulsos brandindo cassetetes de ferro estavam adornados com fios vermelhos amorosamente amarrados por mães zelosas”.

O livro reflete que num país com 300 milhões de deuses, a banalidade e naturalidade das doenças, da fome, corrupção, torturas, guerras civis, mendicância, acidentes de trem, filas gigantescas em hospitais imundos, cemitérios habitados por indigentes, vazamentos de gás, mutilações... são tão naturais que não chamam mais atenção, como uma paisagem que sempre esteve lá. Em outro trecho ela consegue trazer um pouco de humor negro, como quando diz: “Depois de uma festa, elas resolveram andar um pouco e tomar o ar fresco. Naquela época, havia algo como ar fresco na cidade”.

Talvez o leitor brasileiro menos informado sobre a conflituosa história da Índia, não aproveite tanto os capítulos em que a autora trata das guerras da Caxemira e os conflitos civis envolvendo indianos, muçulmanos paquistaneses e aguerridos caxemires, realmente com muitas informações que não estamos acostumados, mas é reconhecível por qualquer um o drama da discriminação sofrida pelas pessoas trans em praticamente todo o mundo: “Em urdu, a única língua que ela conhecia, todas as coisas – tapetes, roupas, livros, canetas, instrumentos musicais, tinham gênero. Tudo ou era masculino ou feminino. Tudo, menos seu bebê. Sim, ela sabia que havia uma palavra para os iguais a ele: 'hijra'. Duas palavras, na verdade: 'hijra' e 'kinnar'. Mas duas palavras não fazem uma língua”.
Surpreende também que apesar de tudo, a obra consiga ter tanto humor fino em meio aos horrores, um respiro para que o leitor consiga avançar pelas tragédias como em momentos em que descreve os hábitos das mulheres trans: “Ela aprendeu a se comunicar com a assinatura hijra de bater palmas com os dedos estendidos, como um tiro, e que podia significar qualquer coisa – sim, não, talvez, a 🤬 #$%!& da sua irmã, você nasceu pelo 🤬 #$%!& . Só outra hijra era capaz de decodificar o que significava especificamente o estalo específico, naquele momento específico”.

site: https://www.blogger.com/blog/post/edit/32639542/8508117802358940140
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 06/01/2019

Arundhati Roy - O Ministério da Felicidade Absoluta
Editora Companhia das Letras - 496 Páginas - Capa: Two Associates - Tradução de José Rubens Siqueira - Lançamento: 29/6/2017 (Leia aqui um trecho em pdf disponibilizado pela Editora).

A escritora e ativista política indiana Arundhati Roy ganhou o Man Booker Prize em 1997 com o seu livro de estreia, O Deus das Pequenas Coisas. Este é o seu segundo romance, que levou nada menos que 20 anos para ser escrito, tendo sido novamente finalista do Man Booker Prize em 2017, em uma das edições mais disputadas da premiação nos últimos tempos, que contou com Paul Auster (4 3 2 1), George Saunders (Lincoln no Limbo) e Zadie Smith (Ritmo Louco).

Ao contar a trajetória de sua protagonista, Anjum, uma hijra ou kinnar, nomes como são chamados os hermafroditas, transexuais e eunucos na Índia, a autora escreve sobre a casta marginalizada, formada por comunidades religiosas hinduístas que praticam castrações de meninos em rituais místicos, tolerada no país onde, contraditoriamente, se considerava, até pouco tempo, um crime o homossexualismo. Só em 2018, a Suprema Corte descriminalizou a homossexualidade, revogando uma sentença de 2013 que validava o artigo 377 do Código Penal indiano, uma lei do tempo colonial que punia "relações carnais contra a ordem da natureza" e criminalizava com penas de 10 anos de prisão as relações entre pessoas do mesmo sexo.

"É possível uma mãe ficar aterrorizada com o próprio bebê? Jahanara Begum ficou. Sua primeira reação foi sentir o coração apertar e os ossos virarem cinzas. A segunda reação foi dar mais uma olhada para ter certeza de que não se enganara. A terceira reação foi rechaçar aquilo que havia criado enquanto suas entranhas entravam em convulsão e um fino fio de merda escorria por suas pernas. A quarta reação foi considerar a possibilidade de matar a si mesma e à criança. A quinta reação foi pegar o bebê e apertá-lo contra si enquanto caía numa fenda entre o mundo que conhecia e mundos cuja existência ignorava. Ali, no abismo, girando na escuridão, tudo o que tinha por certo até então, cada coisa, da menor à maior, cessou de fazer sentido para ela. Em urdu, a única língua que conhecia, todas as coisas, não apenas as coisas vivas, mas todas as coisas — tapetes, roupas, livros, canetas, instrumentos musicais — tinham gênero. Tudo era ou masculino ou feminino, homem ou mulher. Tudo, menos seu bebê. Tudo, menos seu bebê. Sim, claro, ela sabia que havia uma palavra para os iguais a ele — Hijra. Duas palavras, na verdade, Hijra e Kinnar. Mas duas palavras não fazem uma língua." (Págs. 17 e 18)

O Ministério da Felicidade Absoluta é um romance forte sobre gente que não existe oficialmente, sobre a discriminação de um sistema de castas que perpetua as desigualdades "como parte de suas escrituras", sobre os desaparecidos nos conflitos para libertação da Caxemira, sobre gente que é expulsa para as periferias das grandes cidades porque "são muitos para serem mortos simplesmente", banidos para os "arredores industriais das cidades, nos quilômetros de pântanos brilhantes compactamente cobertos de lixo e sacos plásticos coloridos, onde os removidos tinham sido 'reinstalados', o ar era químico e a água, venenosa."

Anjum, que nasceu menino, até os pais notarem que era na verdade um hermafrodita, simboliza bem as contradições do país, com as diferentes facções em guerra dentro do seu próprio corpo. Um bom exemplo da prosa da autora está na magistral e irônica descrição da cidade de Nova Delhi como uma mulher velha e cansada (Vovó) que é transformada na capital da Índia após a independência em 1947 e remodelada para servir de símbolo do desenvolvimento econômico do país, "a nova superpotência favorita do mundo", à custa de profundas desigualdades sociais da população vivendo em favelas e assentamentos, impossível não notar as semelhanças com um certo país em desenvolvimento localizado na América do Sul, se é que me entendem.

"Em volta dela, a cidade se estendia por quilômetros. Feiticeira de mil anos, cochilando, mas não dormindo, mesmo a essa hora. Viadutos cinzentos serpenteando de sua cabeça de Medusa, se emaranhando e desemaranhando debaixo da luminosidade amarela de sódio. Corpos adormecidos de gente sem-teto enfileirados em suas altas calçadas estreitas, cabeça e pés, cabeça e pés, cabeça e pés, num elo à distância. Velhos segredos se desdobravam nas rugas de sua pele solta de pergaminho. Cada vinco era uma rua, cada rua um carnaval. Cada junta artrítica um anfiteatro desmoronado onde histórias de amor e loucura, burrice, prazer e indizível crueldade se desenrolavam havia séculos. Mas agora seria o alvorecer de sua ressurreição. Seus novos senhores queriam esconder as nodosas varizes debaixo de meias arrastão importadas, apertar seus peitos murchos em sensuais sutiãs com bojo e enfiar seus pés em sapatos de salto alto e bico fino. Queriam que ela rebolasse os velhos quadris rijos e reposicionasse os cantos de seu esgar para cima num sorriso congelado e vazio. Foi o verão em que Vovó virou uma puta.[...] Ela viria a ser a supercapital da nova superpotência favorita do mundo. Índia! Índia! O canto se erguera — em programas de televisão, em vídeos de música, em jornais e revistas estrangeiros, em conferências de negócios e feiras de armas, em conclaves econômicos e reuniões de cúpula ambientais, em feiras de livros e em concurso de beleza. Índia! Índia! Índia!" (Págs. 114 e 115)

O livro me lembrou muito de Os filhos da meia-noite de Salman Rushdie porque a narrativa ficcional também é mesclada com a história da Índia contemporânea, eventos como a guerra indo-paquistanesa de1965, o assassinato da primeira ministra Indira Ghandi em 1984, os diversos conflitos étnicos e religiosos internos, principalmente entre as populações hindus e muçulmanas, os movimentos locais de libertação e independência da Caxemira, assim como a disputa com o Paquistão e a China pelo controle da região.

A narrativa fragmentada vai se consolidando quando improváveis personagens têm seu destino entrelaçado na Hospedaria Jannat, construída aos poucos, dentro de um cemitério abandonado, por Anjum e outros excluídos. Tilo, ou Tilottama, amante de um líder do movimento separatista na Caxemira, um alto funcionário do setor de inteligência do governo, apaixonado por ela, e muitos outros irão se encontrar na cidade de Nova Delhi, nesta estranha hospedaria, à margem da sociedade, lugar de gente caindo que precisa se agarrar a outras pessoas.

Enfim, uma leitura muito enriquecedora e importante como denúncia dos abusos cometidos contra os direitos humanos na Caxemira, que provavelmente exigirá do leitor algumas consultas paralelas ao Google para entender melhor os eventos históricos e aspectos da rica herança cultural da Índia. Mas, de qualquer forma, um texto muito sensível do ponto de vista literário e uma homenagem aos excluídos de todo o mundo que insistem em ser felizes, apesar de tudo.
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Dessa Policarpo 08/06/2020

Mais um clássico marcante que aborda temas como cultura local, desigualdade, preconceito e esperança.
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Rebecca.Valenca 15/07/2023

Adoro essa Autora. Já tinha lido seu livro anterior e gostado bastante. Infelizmente naofoi esse o caso. O livro começa empolgante, contudo ao decorrer de suas páginas o enredo se perde e a leitur perde toda sua graça e sentido. Foi uma pena.
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Biblioteca Álvaro Guerra 25/09/2018

Após exatos vinte anos longe da ficção, a autora do best-seller O deus das pequenas coisas, publicado em 42 idiomas com mais de 8 milhões de exemplares vendidos no mundo, volta ao romance com O ministério da felicidade absoluta. Pela emocionante história do jovem Aftab, que mais tarde se torna a bela Anjum, descortina-se uma Índia repleta de conflitos e beleza. Dos bairros sinuosos e pobres aos shoppings reluzentes de Delhi, passando pelas montanhas nevadas da Kashmira, onde guerra e paz se mesclam em ciclos de vida e morte, a vida de Anjum transcorre e, com ela, a história de um país. A um só tempo história de amor e protesto, este romance tem como heróis pessoas que foram destruídas pelo mundo no qual vivem e em seguida resgatadas por atos de amor e esperança. Dessa forma, por mais frágeis que pareçam ser, elas nunca se rendem. Aos entrelaçar vidas complexas, este romance arrebatador e profundamente humano reinventa o que um romance pode ser e fazer. E demonstra a cada página o talento de Roy para contar histórias.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535929324
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Paulo 28/04/2019

Como obter a felicidade? Esta é uma pergunta que nos fazemos todos os dias de nossa vida. Somos seres humanos em uma eterna busca pela felicidade absoluta. Acreditamos naquele mote dos contos de fadas quando as histórias terminam. Mas, na vida real isso é uma tarefa complicada. Somos seres inquietos e em constante transformação. O Ministério da Felicidade Absoluta é um livro que trabalha todo um elenco de personagens mostrando que as circunstâncias transformam os nossos objetivos para nós mesmos. E que a felicidade pode ser desde um simples momento até toda uma condição.

Primeiro é preciso contextualizar a obra de Roy. A narrativa se passa em dois lugares distintos: em Nova Délhi e na Caxemira. Lidamos com personagens que ou fazem parte da linha urdu da religião muçulmana ou são simples hindus pertencentes a alguma casta específica. Lembremos que na Índia existe um sistema de castas que determina o destino das pessoas nesta vida. Eles entendem que passamos por um ciclo de reencarnações onde buscamos cumprir nossas funções no universo a cada nova vida. Eventualmente entramos em um ciclo final para alcançar o nirvana, ou seja, uma transcendência absoluta. Esse sistema cria uma forte desigualdade social entre os brâmanes (aqueles que estão no topo da cadeia), as demais castas que se encontram no meio do caminho e os dalits (que representam os párias da sociedade). O islamismo urdu é praticado por fieis que pertencem à região da Caxemira, que pertence à Índia e faz fronteira com o Paquistão e Bangladesh. É uma região que é disputa pelos três países e muitos dos habitantes locais desejam passar para o lado paquistanês que possui a religião muçulmana como maioria. Para a Índia, a Caxemira é uma importante região econômica fornecedora de alimentos para abastecer as cidades do norte da Índia. Porém, os urdus são uma minoria que sofre com um forte preconceito da parte dos hindus que não os veem com bons olhos.

Logo de cara podemos comentar sobre o quanto a autora trabalha bem essa relação entre hindus e urdus (vemos outras minorias sendo comentadas também, mas como uma das personagens é urdu, vou manter o foco nela). A relação é muito complicada porque a Índia é um país vastamente populoso. E muito atento às tradições. O elemento religioso está presente no cotidiano da população. E quando você tem um vizinho que não compartilha das mesmas coisas que você, a vida se torna complexa. Então todo tipo de situações são ilustrativas de o quanto os dois lados não se suportam. Mas, tem um porém nisso: os hindu fazem parte do sistema político do país. Durante a narrativa somos colocados diante de algumas situações bem complicadas como o genocídio praticado por membros do governo durante uma vingança contra um oficial morto. Ou a maneira como o governo aplaca as manifestações em prol de direitos humanos. Se existe um exagero na forma como os urdus e outras minorias não conseguem dialogar com o governo, não podemos tirar a reação dos mesmos contra os assassinatos e injustiças cometidas pelos oficiais.

As torturas praticadas pelos oficiais durante os interrogatórios também são comentadas ao longo da narrativa. Até em detalhes que podem incomodar alguns leitores. Os excessos cometidos em interrogatórios como o tratamento dado a Tilottama para saber o paradeiro de Musa. A autora trabalha bem o quanto as torturas afetam a psiquê daqueles que passam por isso. E se alguém espera alguma postura heroica de resistir para salvar inocentes, isso aqui é o mundo real. Todos se dobram. Alguns mais cedo, outros mais tarde. Falando ainda sobre o governo é preciso destacar a narrativa de Biplap Dasgoose. A narrativa dele é diferente até em relação às outras: enquanto todos os outros capítulos são contados em terceira pessoa, a dele é em primeira pessoa. Fiquei reflexivo sobre o motivo pelo qual Roy fez essa opção, mas acabei não descobrindo o motivo. Pode significar várias coisas: uma relação de associação com a própria autora ou com alguém próximo a ela, ou uma vontade de personalizar mais o aspecto narrativo.

Biplap é uma pessoa nitidamente insatisfeita com sua própria vida. Sua narrativa é um réquiem de escolhas seguras e mal feitas, o que o levou a uma vida estável, porém infeliz. Ele tem uma tranquilidade com um bom cargo no governo, uma esposa que ele pelo menos gosta e filhas. Mas, nada disso atende aos seus anseios. Seu amor platônico nunca correspondido ou sequer estimulado por Tilottama o deixa frustrado porque ele sequer tentou algo. Sua narrativa transborda frustração por toda a parte, mas vale a pena acompanhar até o final para entender os meandros do governo indiano. Aqui temos fortes críticas à condução das coisas pelos governantes e o quanto a divisão social se tornou um abismo de algumas décadas para cá. Em muitos momentos percebemos o quanto todos estão perdidos e confusos.

Por outro lado, o movimento revolucionário também é muito simples. Pelo menos isso passa uma mentalidade mais de guerrilha do que algo mais organizado. Aí eu não sei se isso vem do fato de Tilottama ter apenas um contato muito sutil com alguém ligado ao grupo ou se isso é o pensamento real da autora. As tragédias são apresentadas do ponto de vista das pessoas comuns, daqueles que estão sabendo do que acontece pelo mundo seja através de notícias ou pelas reações no cotidiano. A Hospedaria Jannat, onde o núcleo de Anjum permanece, é o termômetro para entender isso.

Não podemos deixar de comentar a respeito de Anjum. Anjum é uma hijra, uma transsexual muçulmana. A história de Anjum começa trágica até ela encontrar o Kwagbah. Sua mãe acreditava que ela era um menino, mas vemos claramente desde o começo o quanto estávamos diante de uma mulher presa em um corpo de homem. A angústia que ela sente nesta prisão é algo que vai permear toda a obra de Arundhati Roy. O que eu acho engrandecedor é o quanto a personagem não se abate diante das situações adversas que lhe são apresentadas. Ela luta para encontrar o seu lugar no mundo. E esse lugar pode mudar de acordo com as necessidades. Inicialmente o Kwagbah foi o seu lugar, ensinando a ela o que ela precisava para sobreviver. Quando ela sentiu que aquele espaço não a completava mais, ela não se intimidou e saiu em busca de sua felicidade.

E eu chego aqui e pergunto a vocês: onde encontramos a felicidade? Os personagens criados pela autora saem em busca disso. Seja apenas alguns momentos ao lado de seu amor, criar um lugar que receba as pessoas independente de sua origem ou escolha, encontrar um grande amor ou apenas viver, todos estes personagens são incríveis em suas individualidades. O que temos são seres humanos com qualidades e defeitos, que acertam e erram. Por exemplo, Tilottama percebe que precisava visitar sua mãe após anos sem ter contato com ela. Resgatar esses laços era importante para ela naquele momento. Ou Saddam que buscava sua vingança contra aqueles que lhe fizeram mal. Em um dado momento ele se pergunta: será que eu realmente preciso disso? Achei este livro emocionante ao mesmo tempo em que nos coloca em um cenário incomum.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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Marília 26/04/2020

Esse livro tem personagens marcantes e fala de uma parte da história da Índia que eu não conhecia.
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